Os primeiros brasileiros (Parte 03/06)
pesquisador analisando vestígios no sambaqui
Civilização das conchas
Alguns dos descendentes desses novos habitantes criaram, no litoral do Brasil, uma das civilizações mais características e inusuais do período pré-cabralino. Eles ocuparam do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul entre 6 mil e mil anos atrás, e ficaram conhecidos pelas edificações que erguiam para sepultar seus mortos: os sambaquis. São pilhas de sedimentos, principalmente conchas e ossos de animais, cuidadosamente empilhados e que chegavam a ter 40 metros de altura e mais de 500 metros de comprimento. A princípio, os arqueólogos acreditavam tratarem-se de grandes depósitos funerários, mas com a descoberta sistemática de novos sítios, ficou provado que os sambaquis eram o centro da vida social desses povos, chamados sambaquieiros. Ali, eles sepultavam seus mortos, realizavam rituais e construíam suas casas.
“Eles se alimentavam basicamente da pesca e da coleta de frutos do mar, feitas com o auxílio de canoas e redes”, afirma o arqueólogo Paulo de Blasis, da Universidade de São Paulo (USP). O sambaquieiro era baixo, no máximo 1,60 metro. A mortalidade infantil era altíssima, entre 30 e 40% dos corpos encontrados eram de crianças. Quem chegava a idade adulta também não ia muito longe: para os homens a perspectiva de vida era de 25 anos e as mulheres chegavam no máximo aos 35. Outro mito que as pesquisas vêm derrubando é que os sambaquieiros eram nômades, indo de um lugar para outro assim que se encerravam os recursos naturais. “Era uma civilização com estabilidade territorial e populacional. Um conjunto de sambaquis como os do sul de Santa Catarina podia reunir até 3 ou 4 mil habitantes”, afirma Paulo. Para ele, uma ocupação dessa monta, por tanto tempo, só seria viável com um alto grau de complexidade social que deveria incluir a divisão de tarefas e instituição de chefias regionais.
Nos sambaquis foram encontrados também esculturas e ornamentos feitos de pedra polida, que eram colocados junto aos corpos sepultados. Representando animais como o tatu e a baleia, esses objetos demonstram um delicado senso estético, que exigia habilidade especial. “É possível que houvesse pessoas designadas para produzi-los, até como algum tipo de ritual”, afirma Dione Bandeira, do Museu Nacional do Sambaqui, em Joinville, SC.
Os sambaquieiros desapareceram há cerca de mil anos, com a chegada de povos agricultores vindos do planalto. “Eles provavelmente foram se afastando cada vez mais de seu local de origem, esquecendo suas tradições e se misturando ao conquistador”, afirma Paulo, da USP.
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