"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Poderes Extraordinários - Joseph Finder



A vida de Ben Ellison não era má. Ex-agente da CIA, advogado de relativo sucesso, boa casa, boa mulher, bons ternos, QI invejável e memória prodigiosa. Mas também tinha uma grande mancha no passado: foi o causador, ainda que involuntariamente, da morte de sua primeira esposa. Largou a agência de informações por conta disso. Pensou em nunca mais se envolver com o assunto. Mas as coisas nem sempre ocorrem como a gente quer.
Joseph Finder narra em Poderes extraordinários a caminhada de Ben Ellison em direção ao inferno de seu passado, o que transforma o livro em algo mais do que uma trama de espionagem. Claro, há os tradicionais seguranças de queixo duro e paletó engomado, óculos escuros, viagens internacionais e até alguns nomes em russo para decorar. Mas não é tudo. O fim da Guerra Fria exige de uma história mais do que uma batalha entre bons e maus. Exige perícia para contá-la. E Finder sabe como fazer isso. 

Tudo começa com a morte de Harrison Sinclair, principal diretor da CIA e, não por acaso, atual sogro de Ellison. O velho morreu em circunstâncias suspeitas, deixando um rastro de negociatas e contas gordas escondidas num banco europeu. É para investigar essas suspeitas que o ex-agente volta à ação, forçado a retomar o trabalho sujo e limpar o nome do pai de sua mulher e acertar as contas com o passado.

Poderes extraordinários retoma a tradição dos grandes romances de espionagem movidos a sexo, ação e mentiras. Mas, embaralhado a esses ingredientes, Finder narra com um certo humor fino, nascido da insegurança de seus personagens. Ninguém é de todo mau, bom, forte ou fraco. Até os chefões (aqueles que parecem esculpidos em gelo) têm medo do ridículo. "Numa sociedade como a nossa, os fundadores da CIA reconheceram que o maior risco para sua existência não é a injúria pública, mas o escárnio", diz lá pelas tantas um maioral da Agência. Rir de si mesmo (exercício que os personagens se submetem constantemente) é uma capacidade rara, e está aí o verdadeiro poder de fogo do autor. Um poder nada ordinário.

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