Linguagem simbólica e linguagem conceitual
A diferença entre linguagem
simbólica e linguagem conceitual é o que deve interessar-nos agora.
Fundamentalmente, a linguagem simbólica opera por analogias (semelhanças entre
palavras e sons, entre palavras e coisas) e por metáforas (emprego de uma
palavra ou de um conjunto de palavras para substituir outras e criar um sentido
poético para a expressão).
A linguagem simbólica realiza-se
principalmente como imaginação. A linguagem conceitual procura evitar a
analogia e a metáfora, esforçando-se para dar às palavras um sentido direto e
não figurado ou figurativo. Isso não quer dizer que a linguagem conceitual seja
puramente denotativa. Pelo contrário, nela a conotação é essencial, mas não possui
uma natureza imaginativa ou imagética.
A linguagem simbólica (dos
mitos, da religião, da poesia, do romance, do teatro) e a linguagem conceitual
(das ciências, da filosofia) diferem sob os seguintes aspectos:
● a linguagem simbólica é
fortemente emotiva e afetiva, enquanto a linguagem conceitual procura falar das
emoções e dos afetos sem se confundir com eles e sem se realizar por meio
deles;
● a linguagem simbólica oferece
sínteses imediatas (imagens), enquanto a linguagem conceitual procede por
desconstrução analítica e reconstrução sintética dos objetos, fazendo com que
acompanhemos cada passo da análise e da síntese;
● a linguagem simbólica nos
oferece palavras polissêmicas, isto é, carregadas de múltiplos sentidos
simultâneos e diferentes, tanto sentidos semelhantes e em harmonia, quanto
sentidos opostos e contrários; a linguagem conceitual procura diminuir ao
máximo a polissemia e a conotação, buscando fazer com que cada palavra tenha um
sentido próprio e que seus diferentes sentidos dependam do contexto no qual é
empregada;
● a linguagem simbólica leva-nos
para dentro dela, arrasta-nos para seu interior pela força de seu sentido, de
suas evocações, de sua beleza, de seu apelo emotivo e afetivo; a linguagem
conceitual busca convencer-nos e persuadir-nos por meio de argumentos,
raciocínios e provas. A linguagem simbólica fascina e seduz; a linguagem
conceitual exige o trabalho lento do pensamento;
● a linguagem simbólica nos dá a
conhecer o mundo criando um outro, análogo ao nosso, porém mais belo ou mais
terrível do que o nosso, mais justo ou mais violento do que o nosso, mais
antigo ou mais novo do que o nosso, mais visível ou mais oculto do que o nosso;
a linguagem conceitual busca dizer o nosso mundo, decifrando seu sentido,
ultrapassando suas aparências e seus acidentes;
● a linguagem simbólica,
privilegiando a memória e a imaginação, nos diz como as coisas ou os homens
poderiam ter sido ou poderão ser, voltando-se para um possível passado ou para
um possível futuro; a linguagem conceitual busca dizer o nosso presente, fala
do necessário, determinando suas causas ou motivos e razões; procura também as
linhas de força de suas transformações e o campo dos possíveis, como
possibilidade objetiva e não apenas desejada ou sonhada.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
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