A outra dimensão da linguagem
Para referir-se à palavra e à
linguagem, os gregos possuíam duas palavras: mythos e logos.
Diferentemente do mythos, logos é uma síntese de três palavras ou
idéias: fala/palavra, pensamento/idéia e realidade/ser. Logos é a
palavra racional do conhecimento do real. É discurso (ou seja, argumento e
prova), pensamento (ou seja, raciocínio e demonstração) e realidade (ou seja,
os nexos e ligações universais e necessários entre os seres).
É a palavra-pensamento
compartilhada: diálogo; é a palavra-pensamento verdadeira: lógica; é a
palavra-pensamento de alguma coisa: o “logia” que colocamos no final de
palavras como cosmologia, mitologia, teologia, ontologia, biologia, psicologia,
sociologia, antropologia, tecnologia, filologia, farmacologia, etc.
Do lado do logos
desenvolve-se a linguagem como poder de conhecimento racional e as palavras,
agora, são conceitos ou idéias, estando referidas ao pensamento,
à razão e à verdade.
Essa dupla dimensão da linguagem
(como mythos e logos) explica por que, na sociedade ocidental,
podemos comunicar-nos e interpretar o mundo sempre em dois registros contrários
e opostos: o da palavra solene, mágica, religiosa, artística, e o da palavra
leiga, científica, técnica, puramente racional e conceitual. Não por acaso,
muitos filósofos das ciências afirmam que uma ciência nasce ou um objeto se
torna científico quando uma explicação que era religiosa, mágica, artística,
mítica cede lugar a uma explicação conceitual, causal, metódica, demonstrativa,
racional.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
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