Ideologia e inconsciente
Dissemos que a ideologia se assemelha ao inconsciente
freudiano. Há, pelo menos, três semelhanças principais entre eles:
1. o fato de que adotamos crenças, opiniões, idéias sem
saber de onde vieram, sem pensar em suas causas e motivos, sem avaliar se são
ou não coerentes e verdadeiras;
2. ideologia e inconsciente operam através do imaginário
(as representações e regras saídas da experiência imediata) e do silêncio,
realizando-se indiretamente perante a consciência. Falamos, agimos, pensamos,
temos comportamentos e práticas que nos parecem perfeitamente naturais e
racionais porque a sociedade os repete, os aceita, os incute em nós pela
família, pela escola, pelos livros, pelos meios de comunicação, pelas relações
de trabalho, pelas práticas políticas. Um véu de imagens estabelecidas
interpõe-se entre nossa consciência e a realidade;
3. inconsciente e ideologia não são deliberações voluntárias.
O inconsciente precisa de imagens, substitutos, sonhos, lapsos, atos
falhos, sintomas, sublimação para manifestar-se e, ao mesmo tempo, esconder-se
da consciência. A ideologia precisa das idéias-imagens, da inversão de
causas e efeitos, do silêncio para manifestar os interesses da classe dominante
e escondê-los como interesse de uma única classe social. A ideologia não é o
resultado de uma vontade deliberada de uma classe social para enganar a
sociedade, mas é o efeito necessário da existência social da exploração e
dominação, é a interpretação imaginária da sociedade do ponto de vista de uma
única classe social.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
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