Arte e Filosofia
Do ponto de vista da Filosofia,
podemos falar em dois grandes momentos de teorização da arte. No primeiro,
inaugurado por Platão e Aristóteles, a Filosofia trata as artes sob a forma da poética; no segundo, a partir do século
XVIII, sob a forma da estética.
Arte poética é o nome de uma obra aristotélica sobre as artes da
fala e da escrita, do canto e da dança: a poesia e o teatro (tragédia e
comédia). A palavra poética é a
tradução para poiesis, portanto, para
fabricação. A arte poética estuda as obras de arte como fabricação de seres e
gestos artificiais, isto é, produzidos pelos seres humanos.
Estética é a tradução da palavra grega aesthesis, que significa conhecimento sensorial, experiência,
sensibilidade. Foi empregada para referir-se às artes, pela primeira vez, pelo
alemão Baumgarten, por volta de 1750. Em seu uso inicial, referia-se ao estudo
das obras de arte enquanto criações da sensibilidade, tendo como finalidade o
belo. Pouco a pouco, substituiu a noção de arte poética e passou a designar
toda investigação filosófica que tenha por objeto as artes ou uma arte. Do lado
do artista e da obra, busca-se a realização da beleza; do lado do espectador e
receptor, busca-se a reação sob a forma do juízo de gosto, do bom-gosto.
A noção de estética, quando formulada e desenvolvida nos séculos XVIII e XIX,
pressupunha:
1. que a arte é produto da
sensibilidade, da imaginação e da inspiração do artista e que sua finalidade é
a contemplação;
2. que a contemplação, do lado
do artista, é a busca do belo (e não do útil, nem do agradável ou prazeroso) e,
do lado do público, é a avaliação ou o julgamento do valor de beleza atingido
pela obra;
3. que o belo é diferente do
verdadeiro.
De fato, o verdadeiro é o que é
conhecido pelo intelecto por meio de demonstrações e provas, que permitem
deduzir um particular de um universal (dedução) ou inferir um universal de
vários particulares (indução) por meio de conceitos e leis. O belo, ao
contrário, tem a peculiaridade de possuir um valor universal, embora a obra de
arte seja essencialmente particular.
Em outras palavras, a obra de
arte, em sua particularidade e singularidade única, oferece algo universal – a
beleza – sem necessidade de demonstrações, provas, inferências e conceitos.
Quando leio um poema, escuto uma sonata ou observo um quadro, posso dizer que
são belos ou que ali está a beleza, embora esteja diante de algo único e
incomparável. O juízo de gosto teria, assim, a peculiaridade de emitir um
julgamento universal, referindo-se, porém, a algo singular e particular.
Desde o início do século
passado, todavia, abandona-se a ideia de juízo de gosto como critério de
apreciação e avaliação das obras de arte. De fato, as artes deixaram de ser
pensadas exclusivamente do ponto de vista da produção da beleza para serem
vistas sob outras perspectivas, tais como expressão de emoções e desejos,
interpretação e crítica da realidade social, atividade criadora de
procedimentos inéditos para a invenção de objetos artísticos, etc. Essa mudança
fez com que a idéia de gosto e de beleza perdessem o privilégio estético e que
a estética se aproximasse cada vez mais da idéia de poética, a arte como trabalho e não como contemplação e
sensibilidade, fantasia e ilusão. A estética ou filosofia da arte possui três
núcleos principais de investigação: a relação entre arte e Natureza, arte e
humano, e finalidades-funções da arte.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
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