Relação entre arte e humano
Duas grandes concepções
percorrem a história das relações entre arte e humano, ambas iniciadas na
Grécia com Platão e Aristóteles.
A concepção platônica, que
sofrerá alterações no curso da História sociocultural, considera a arte uma
forma de conhecimento. A aristotélica, que também sofrerá mudanças no correr da
História, toma a arte como atividade prática.
Para Platão, a arte se situa no
plano mais baixo do conhecimento, pois é imitação das coisas sensíveis, elas
próprias imitações imperfeitas das essências inteligíveis ou idéias. Na Renascença,
porém, a concepção platônica é retomada, mas com novo sentido: afirma-se,
agora, que a arte é uma das formas altas de acesso ao conhecimento verdadeiro e
ao divino (fica abaixo apenas da Filosofia e do êxtase místico).
Essa mudança se deve ao fato de
que a Renascença platônica redescobre os escritos herméticos e de magia natural
nos quais se afirma que Deus criou o homem dando-lhe a capacidade de criar
novos deuses e novos mundos, o que ele faz através das artes, e estas, por sua
vez, lhe dão o conhecimento das formas secretas e invisíveis das coisas.
A valorização das artes como
expressão do conhecimento encontra seu apogeu durante o Romantismo, quando a
arte é concebida como “o órgão geral da Filosofia”, sob três aspectos
diferentes: para alguns, a arte é a única via de acesso ao universal e ao
absoluto; para outros, como Hegel, as artes são a primeira etapa da vida
consciente do Espírito, preparando a religião e a Filosofia; e outros, enfim, a
concebem como o único caminho para reatar o singular e o universal, o
particular e o geral, pois, através da singularidade de uma obra artística,
temos acesso ao significado universal de alguma realidade. Essa última
perspectiva é a que encontramos, por exemplo, no filósofo Martin Heidegger,
para quem a obra de arte é desvelamento e desvendamento da verdade.
A concepção aristotélica parte
da diferença entre o teórico e o prático, decorrente da diferença entre o
necessário e o possível, tomando a arte como atividade prática fabricadora.
Essa concepção, mantida durante séculos e rivalizando com as variantes
platônicas, recebe duas grandes contribuições no século XIX: a dos que afirmam
a utilidade social das artes (particularmente, a arquitetura) e a dos que
afirmam o caráter lúdico das artes, como Nietzsche, para quem a arte é jogo,
liberdade criadora, embriaguez e delírio, vontade de potência afirmativa da
vida: é “um estado de vigor animal”, “uma exaltação do sentimento da vida e um
estimulante da vida”.
Fantasia, jogo, sabedoria
oculta, desejo, explosão vital, afirmação da vida, acesso ao verdadeiro: eis
algumas maneiras pela quais a estética concebe a atividade artística.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
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