As revoluções sociais
Acabamos de ver que as revoluções modernas possuem duas faces: a face
burguesa liberal (a revolução é política, visando à tomada do poder e à
instituição do Estado como república e órgão separado da sociedade civil) e a
face popular (a revolução é política e
social, visando à criação de direitos e à instituição do poder democrático que
garanta uma nova sociedade justa e feliz).
Vimos também que, nas revoluções modernas, a face popular é sufocada pela
face liberal, embora esta última seja obrigada a introduzir e garantir alguns
direitos políticos e sociais para o povo, de modo a conseguir manter a ordem e
evitar a explosão contínua de revoltas populares.
A face popular vencida não desaparece. Ressurge periodicamente em lutas
isoladas por melhores condições de vida, de trabalho, de salários e com
reivindicações isoladas de participação política. Essa face popular tende a
crescer e manifestar-se em novas revoluções (derrotadas) durante todo o século
XIX, à medida que se desenvolve o capitalismo industrial e as classes populares
se tornam uma classe social de perfil muito definido: os proletários ou
trabalhadores industriais.
Correspondendo à emergência e à definição da classe trabalhadora proletária
e à sua ação política em revoluções populares de caráter político-social,
surgem novas teorias políticas: as várias teorias
socialistas.
As teorias socialistas tomam o proletariado como sujeito político e
histórico e procuram figurar uma nova sociedade e uma nova política na qual a
exploração dos trabalhadores, a dominação política a que estão submetidos e as
exclusões sociais e culturais a que são forçados deixem de existir. Porque seu
sujeito político são os trabalhadores, essas teorias políticas tendem a figurar
a sociedade futura como igualitária, feita de abundância, justiça e felicidade.
Como percebem a cumplicidade entre o Estado e a classe economicamente
dominante, julgam que a existência do primeiro se deve apenas às necessidades
econômicas da burguesia e por isso afirmam que, na sociedade futura, quando não
haverá divisão social de classes nem desigualdades, a política não dependerá do
Estado. São, portanto, teorias antiestatais, que apostam na capacidade de
autogoverno ou de autogestão da sociedade.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
12 de setembro de 2017 às 01:12
Qual é a correlação do texto e o seu contexto histórico ?