Estereótipos e estigmatização; discriminação e preconceito;
“O etnocentrismo consiste em julgar, a partir de
padrões culturais próprios, como “certo” ou “errado”, “feio” ou “bonito”,
“normal” ou “anormal”, os comportamentos e as formas de ver o mundo dos outros
povos, desqualificando suas práticas e até negando sua humanidade. Assim, percebemos
como o etnocentrismo se relaciona com o conceito de estereótipo, que consiste
na generalização e atribuição de valor (na maioria das vezes, negativo) a
algumas características de um grupo, reduzindo-o a essas características e
definindo os “lugares de poder” a serem ocupados. É uma generalização de
julgamentos subjetivos, feitos em relação a um determinado grupo, impondo-lhe o
lugar de inferior e de incapaz, no caso dos estereótipos negativos. No
cotidiano, temos expressões que reforçam os estereótipos: “tudo farinha do
mesmo saco”; “tal pai, tal filho”; “só podia ser mulher”; “nordestino é
preguiçoso”; “serviço de negro”; e uma série de outras expressões e ditados
populares específicos de cada região do país.”
Os estereótipos são também uma maneira de
“biologizar” as características de um grupo, isto é, considerá-las como fruto
exclusivo da biologia, da anatomia. O processo de naturalização ou biologização
das diferenças étnico-raciais, de gênero ou de orientação sexual, que marcou os
séculos XIX e XX, vinculou-se à restrição da cidadania a negros, mulheres e homossexuais.
Uma das justificativas, até o início do século XX,
para a não extensão às mulheres do direito de voto, baseava-se na ideia de que
elas possuíam um cérebro menor e menos desenvolvido do que o dos homens. A
homossexualidade, por sua vez, era tida como uma espécie de anomalia da
natureza, ou seja, uma doença. Nas democracias modernas, desigualdades naturais
podiam justificar o não acesso pleno à cidadania. No interior de nossa
sociedade, encontramos ainda uma série de atitudes etnocêntricas. Muitos
acreditaram que havia várias raças e sub-raças, que determinariam,
geneticamente, as capacidades das pessoas, hoje sabemos que isso não é verdade.
Em se tratando de Brasil, não podemos deixar de
falar nas religiões de matriz africana, como o candomblé e umbanda, resultado
do sincretismo religioso. O sacrifício animal em algumas crenças afro-brasileiras
tem sido considerado sinônimo de barbárie, por praticantes de outros credos.
Trata-se, contudo, simplesmente de uma forma específica para que homens/mulheres
entrem em contato com o divino, com os deuses, nesses casos, os orixás, cada
qual com sua preferência, no que diz respeito ao ritual de oferenda. Outras
religiões pregam formas diversificadas de contato com o divino, classificando e
condenando as práticas do candomblé, como “erradas” e “bárbaras”, ou como
“feitiçaria”.
“O preconceito de alguns segmentos religiosos tem
levado seus seguidores a atacar e desrespeitar os chamados “terreiros”. O
espiritismo kardecista, hoje praticado nas mais distintas partes do Brasil, foi
durante muito tempo perseguido por aqueles que, adotando um ponto de vista
católico ou médico, afirmavam serem as práticas espíritas próprias de
charlatães. Se boa parte dos/as
brasileiros/as se define como católica, a verdade é que somos um país cruzado
por múltiplas crenças, havendo divergências até mesmo no interior do próprio
catolicismo: somos um país plural. A
Constituição Brasileira garante a liberdade religiosa e de crença, e as
instituições devem promover o respeito entre os/as praticantes de diferentes
religiões, além de preservar o direito daqueles/as que não adotam qualquer
prática religiosa. No entanto, é bastante comum encontrarmos crianças e
adolescentes que exibem, com orgulho, para seus/suas educadores/as, os símbolos
de sua primeira comunhão, enquanto famílias que cultuam religiões de matriz
africana são pejorativamente[1] chamadas
de “macumbeiras”, sendo discriminadas por suas identidades religiosas.”
O preconceito relativo às práticas religiosas
afro-brasileiras está profundamente arraigado[2] na
sociedade brasileira, por essas práticas estarem associadas a negros e negras,
grupo historicamente estigmatizado e excluído, e cujos cultos seriam contrários
ao cristianismo europeu. Vale lembrar que expressões culturais de matriz
afro-brasileira como o samba, a capoeira e o candomblé foram, durante décadas,
proibidos e perseguidos pela polícia. Isso mostra que essas práticas foram
incorporadas aos símbolos nacionais no interior de processos extremamente
complexos. O caso mais evidente é o samba, que de “música de negros/as” passou
a ser caracterizado como “música nacional”. As religiões afro-brasileiras, no
entanto, ainda enfrentam um profundo preconceito por parte de amplos setores
da sociedade: há quem considere o candomblé como “dança folclórica”, negando
seu conteúdo religioso; há também quem o caracterize como “prática atrasada”.
Em ambos os casos, seu caráter de religiosidade é negado e não tomado no mesmo
padrão de igualdade de outras práticas e crenças.
Questões de
gênero, religião, raça/etnia ou orientação sexual e sua combinação direcionam
práticas preconceituosas e discriminatórias da sociedade contemporânea. Se o
estereótipo e o preconceito estão no campo das ideias, a discriminação está no
campo da ação, ou seja, é uma atitude. É a atitude de discriminar, de negar
oportunidades, de negar acesso, de negar humanidade. Nessa perspectiva, a
omissão e a invisibilidade também são consideradas atitudes, também se
constituem em discriminação.
Fonte: Texto “Sociologia – 2º Ano do Ensino
Médio” da Profª Bianca Wild
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