O Cristianismo
A
partir do século I da era cristã, houve um fenômeno bastante interessante com a
filosofia. Os divulgadores do cristianismo, Paulo e João, já apregoavam a boa
nova pelo mundo e esta se espalhava com grande velocidade, principalmente nas
camadas populacionais pobres de Roma. No início, lá aconteceu uma das maiores
perseguições religiosas de que se tem notícia até os dias do holocausto dos
judeus, pelos alemães, durante os anos de nazismo. Posteriormente, Roma assumiu
o cristianismo como religião oficial do Império, apaziguando os ânimos de todos
e difundindo-a por todo o mundo.
Mas,
para que houvesse esta aceitação, algumas concessões tiveram que ser feitas. As
pessoas não abandonariam suas velhas crenças, em troca de uma nova,
simplesmente porque assim o imperador queria. Era necessário, portanto,
realizar uma tentativa de conciliação entre os antigos cultos pagãos com a nova
religião. Esta conciliação muitas vezes se deu pelo uso da força. A partir de
Roma, que desde então até os dias de hoje ainda abriga a sede de igreja
católica, o poder dos homens representado pelo imperador (o poder temporal) se
misturou com o poder divino por meio de seu intermediário na terra, o Papa.
A
partir disto, a igreja acumulou muitas riquezas sob muitos pretextos diferentes
e, com esta riqueza, um poder considerável sobre imperadores e impérios. A
igreja organizou exércitos e se pôs em marcha sob o pavilhão da cruz de Cristo,
esquecendo-se um pouco daqueles antigos ideais de convívio pacífico entre os
semelhantes. O cristianismo, sob muitas formas, passou de perseguido a
perseguidor e as Cruzadas (guerras santas no Oriente) e a Santa Inquisição
(tribunais religiosos) foram apenas algumas de suas ações mais famosas na
tentativa de empurrar à força o cristianismo na garganta de muita gente.
Porém,
os filósofos não são homens de muita ação, preferem a teoria à prática, de modo
que, na filosofia, a tentativa de realizar o concílio entre cristãos e
não-cristãos se deu por meio da ponderação racional. Um dos mais famosos
pensadores deste período filosófico, que também é chamado de Patrística por
alguns, foi Santo Agostinho.
Nas
suas duas principais obras, “A cidade de Deus” e “Confissões”, os temas são
sempre a discussão, quase teológica, a respeito dos preceitos da Igreja. Temos,
por exemplo, o dogma da criação do mundo, que é afirmado pela Igreja Católica,
mas que não é uma ideia muito fácil de aceitar por alguns povos antigos. Assim
também ocorre com a ideia do pecado original, com a de uma trindade una, a ideia
da encarnação e da morte de Deus, a do juízo final, ou mesmo a ideia da
responsabilidade humana pelo mal na Terra. Isto sem mencionar a própria noção
de Dogma, que são verdades apenas transmitidas e que não permitem qualquer
explicação.
Assim,
podemos condensar as principais discussões deste período, que também pode ser
chamado de período medieval na filosofia, como três diferentes possíveis
respostas à pergunta: “Posso conciliar a Fé religiosa e a Razão?” ou, “Posso
explicar a Fé pela Razão e a Razão pela Fé?”
Resposta
1 - Não. A Fé se coloca num patamar superior ao da Razão. A Fé se encontra num
plano divino e, por este motivo, não possui as imperfeições do plano humano,
onde se localiza a Razão humana. “É irracional, por isto eu creio.”
Resposta
2 - Sim. A Fé, no entanto, subjuga a Razão. A razão pode coexistir com a fé
contanto que não a ataque. Assim, a Razão deve ser usada para compreender a Fé,
mas não deve ultrapassar certos limites sob o risco da perdição da alma humana.
“A Razão é somente um instrumento da Fé.”
Resposta
3 - Não. A Razão e a Fé ocupam lugares distintos e, no plano humano, não
permitem qualquer comunicação entre si. Devem, portanto, se manterem afastadas
uma da outra para que não se corrompam mutuamente. “Eu uso a minha Razão num
momento e uso a minha Fé em outro momento, nunca ao mesmo tempo.”
Assim,
estes três tipos de respostas, com suas respectivas argumentações, eram as mais
usuais neste período filosófico. No entanto, não eram as únicas. Como já foi
dito, o poder de repressão da Igreja neste período era tal que até mesmo a
filosofia se retraiu sob o peso da cruz e da espada, não exercendo sua
liberdade de reflexão e comunicação do pensamento em todos os níveis e direções
possíveis.
Fonte: Palavra em Ação.
CD-ROM, Claranto Editora.
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