"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

O Cristianismo



A partir do século I da era cristã, houve um fenômeno bastante interessante com a filosofia. Os divulgadores do cristianismo, Paulo e João, já apregoavam a boa nova pelo mundo e esta se espalhava com grande velocidade, principalmente nas camadas populacionais pobres de Roma. No início, lá aconteceu uma das maiores perseguições religiosas de que se tem notícia até os dias do holocausto dos judeus, pelos alemães, durante os anos de nazismo. Posteriormente, Roma assumiu o cristianismo como religião oficial do Império, apaziguando os ânimos de todos e difundindo-a por todo o mundo. 

Mas, para que houvesse esta aceitação, algumas concessões tiveram que ser feitas. As pessoas não abandonariam suas velhas crenças, em troca de uma nova, simplesmente porque assim o imperador queria. Era necessário, portanto, realizar uma tentativa de conciliação entre os antigos cultos pagãos com a nova religião. Esta conciliação muitas vezes se deu pelo uso da força. A partir de Roma, que desde então até os dias de hoje ainda abriga a sede de igreja católica, o poder dos homens representado pelo imperador (o poder temporal) se misturou com o poder divino por meio de seu intermediário na terra, o Papa.
A partir disto, a igreja acumulou muitas riquezas sob muitos pretextos diferentes e, com esta riqueza, um poder considerável sobre imperadores e impérios. A igreja organizou exércitos e se pôs em marcha sob o pavilhão da cruz de Cristo, esquecendo-se um pouco daqueles antigos ideais de convívio pacífico entre os semelhantes. O cristianismo, sob muitas formas, passou de perseguido a perseguidor e as Cruzadas (guerras santas no Oriente) e a Santa Inquisição (tribunais religiosos) foram apenas algumas de suas ações mais famosas na tentativa de empurrar à força o cristianismo na garganta de muita gente.
Porém, os filósofos não são homens de muita ação, preferem a teoria à prática, de modo que, na filosofia, a tentativa de realizar o concílio entre cristãos e não-cristãos se deu por meio da ponderação racional. Um dos mais famosos pensadores deste período filosófico, que também é chamado de Patrística por alguns, foi Santo Agostinho.
Nas suas duas principais obras, “A cidade de Deus” e “Confissões”, os temas são sempre a discussão, quase teológica, a respeito dos preceitos da Igreja. Temos, por exemplo, o dogma da criação do mundo, que é afirmado pela Igreja Católica, mas que não é uma ideia muito fácil de aceitar por alguns povos antigos. Assim também ocorre com a ideia do pecado original, com a de uma trindade una, a ideia da encarnação e da morte de Deus, a do juízo final, ou mesmo a ideia da responsabilidade humana pelo mal na Terra. Isto sem mencionar a própria noção de Dogma, que são verdades apenas transmitidas e que não permitem qualquer explicação.
Assim, podemos condensar as principais discussões deste período, que também pode ser chamado de período medieval na filosofia, como três diferentes possíveis respostas à pergunta: “Posso conciliar a Fé religiosa e a Razão?” ou, “Posso explicar a Fé pela Razão e a Razão pela Fé?”

Resposta 1 - Não. A Fé se coloca num patamar superior ao da Razão. A Fé se encontra num plano divino e, por este motivo, não possui as imperfeições do plano humano, onde se localiza a Razão humana. “É irracional, por isto eu creio.”

Resposta 2 - Sim. A Fé, no entanto, subjuga a Razão. A razão pode coexistir com a fé contanto que não a ataque. Assim, a Razão deve ser usada para compreender a Fé, mas não deve ultrapassar certos limites sob o risco da perdição da alma humana. “A Razão é somente um instrumento da Fé.”

Resposta 3 - Não. A Razão e a Fé ocupam lugares distintos e, no plano humano, não permitem qualquer comunicação entre si. Devem, portanto, se manterem afastadas uma da outra para que não se corrompam mutuamente. “Eu uso a minha Razão num momento e uso a minha Fé em outro momento, nunca ao mesmo tempo.”
Assim, estes três tipos de respostas, com suas respectivas argumentações, eram as mais usuais neste período filosófico. No entanto, não eram as únicas. Como já foi dito, o poder de repressão da Igreja neste período era tal que até mesmo a filosofia se retraiu sob o peso da cruz e da espada, não exercendo sua liberdade de reflexão e comunicação do pensamento em todos os níveis e direções possíveis.

Fonte: Palavra em Ação. 
CD-ROM, Claranto Editora.

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