O Romantismo (Parte 06/06)
Johann Gottlieb Fichte
— O que são esses “contos artísticos”?
— São contos que usam a estrutura dos contos populares,
mas que são fruto da imaginação de determinado escritor. Por exemplo, os contos
de Hans Christian Andersen. O gênero dos contos fantásticos foi cultivado com
especial apreciação pelos românticos. Um dos mestres alemães nesse gênero foi
E. T. A. Hoffmann.
— Acho que já ouvi falar dos “Contos de Hoffmann”.
— O conto fantástico era o ideal literário dos
românticos, mais ou menos como o teatro foi a forma artística preferida do
Barroco. Isto porque no conto o escritor podia usar livre e ludicamente toda a
sua força criativa.
— Ele podia brincar de Deus num mundo de ficção.
— Exatamente. Bem, agora talvez fosse o caso de fazermos
um resumo de tudo o que dissemos.
— Por favor.
— Os filósofos do Romantismo concebiam o que chamavam de
“alma do mundo” como um “eu” capaz de criar todas as coisas do mundo num estado
semelhante ao do sonho. O filósofo Johann Gottlieb Fichte disse que a natureza
provinha de uma força imaginativa superior, inconsciente. Schelling afirmou
expressamente que o mundo “era em Deus”. Para ele, Deus era consciente de
alguma coisa, mas havia aspectos da natureza que representavam o inconsciente
em Deus, pois Deus também teria um “lado obscuro”.
— Este pensamento é assustador e fascinante ao mesmo
tempo. Ele me faz pensar em Berkeley.
— Mais ou menos semelhante era o modo como se concebia a
relação entre o poeta e sua obra. O conto fantástico dava ao escritor a
possibilidade de explorar ao seu bel-prazer a força de sua imaginação criativa;
a força de uma imaginação que era capaz de criar mundos. E nem sempre o ato da
criação acontecia de forma muito consciente. Não raro o escritor romântico
tinha a sensação de que sua história nascia de uma força que estava além dele.
Algo como escrever sob um estado de transe hipnótico, se você entende o que
digo.
— É mesmo?
— Ao mesmo tempo, porém, o escritor também podia romper
esta ilusão, intervindo na narrativa com breves e irônicos comentários
endereçados ao leitor. Tudo isto para lembrá-lo de que o conto fantástico não
passava de fantasia.
— Entendo.
— Assim procedendo, o escritor podia lembrar o leitor de
que sua própria existência também era “fantástica”. Esta forma de se romper a
ilusão é comumente chamada de ironia
romântica. O escritor norueguês Hendrik Ibsen, por exemplo, colocou a
seguinte frase na boca de uma das personagens de sua peça Peer Gynt: “Mas não se pode morrer no meio do quinto ato”.
— Acho que entendo o que há de estranho na fala desta
personagem. Ela está dizendo claramente que não passa de imaginação.
— Esta afirmação é tão paradoxal, que acho que deveríamos
usá-la para encerrar esta seção.
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