"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

O Romantismo (Parte 02/06)


Friedrich Schiller

— Quer dizer que o artista pode nos dizer coisas que o filósofo não é capaz de nos dizer?
— Era isto o que achavam Kant e os românticos. Para Kant, o artista brinca livremente com sua capacidade de cognição. O poeta Friedrich Schiller desenvolveu um pouco mais os pensamentos de Kant. Schiller disse que o processo de criação do artista é uma atividade lúdica e que só nela o homem é verdadeiramente livre, pois ele próprio determina suas regras. Os românticos acreditavam, portanto, que só a arte era capaz de nos aproximar do “indizível”. Alguns levaram esta reflexão às últimas conseqüências e chegaram a comparar o artista com Deus.  

— Provavelmente porque o artista cria a sua própria realidade, exatamente como Deus criou o mundo.
— Costumava-se dizer que o artista possuía uma espécie de imaginação criadora do mundo. Em seu êxtase artístico, ele seria capaz de experimentar um estado em que as fronteiras entre sonho e realidade desaparecem. O poeta Novalis, um dos jovens gênios do Romantismo, disse: “O mundo se transforma em sonho e o sonho em mundo”. Novalis escreveu um romance ambientado na Idade Média e intitulado Heinrich von Ofterdingen, que ficou inacabado quando o autor faleceu no ano de 1801, mas que foi de grande importância para o Romantismo. Nele encontramos o jovem Heinrich, que procura incansavelmente a “flor azul” que um dia viu em sonho e por quem se apaixonou desde então. O romântico inglês Coleridge expressou assim o mesmo pensamento:
E se você dormisse? E se você sonhasse? E se, em seu sonho, você fosse ao Paraíso e lá colhesse uma flor bela e estranha? E se, ao despertar, você tivesse a flor entre as mãos? Ah, e então?
— Lindo.
— Este anseio por algo longínquo e inatingível foi um traço típico dos românticos. Vem daí o seu forte interesse por tempos passados, como a Idade Média, por exemplo, que no Iluminismo ainda era tida como uma época de trevas, mas que agora voltava a ser energicamente revalorizada; ou então por culturas distantes, por exemplo a “terra do sol nascente” e toda a sua mística. Os românticos sentiam-se atraídos pela noite, pelo “crepúsculo”, por antigas ruínas e pelo sobrenatural. Interessava-lhes muito aquilo que costumamos chamar de o lado oculto da vida: o obscuro, o misterioso, o místico.
— Acho que deve ter sido uma época muito interessante. Mas quem eram esses românticos?
— O Romantismo foi sobretudo um fenômeno urbano. Precisamente na primeira metade do século passado [XIX], a cultura urbana vivia um período de apogeu em muitas regiões da Europa, e também na Alemanha. Os “românticos” típicos eram jovens, muitas vezes estudantes, embora nem sempre fossem alunos exemplares. Eles tinham uma postura marcadamente antiburguesa e chamavam os “simples mortais”, a polícia ou a locatária dos quartos em que moravam, de “filisteus”, ou simplesmente de “inimigos”.
— Pois eu não alugaria um quarto para um romântico.
— Por volta de 1800, os românticos da primeira geração eram muito jovens. Desse ponto de vista, podemos chamar o movimento romântico de a primeira revolta de jovens da Europa. Podemos até mesmo traçar paralelos claros entre eles e a cultura hippie que viria cento e cinqüenta anos mais tarde.
— Você está se referindo a flores, cabelos compridos, sons de guitarra e ociosidade?
— Sim. Dizia-se que a ociosidade era o ideal do gênio e a indolência a primeira virtude do romântico. Era dever do romântico viver a vida, ou imaginar-se distante dela. As obrigações e tarefas cotidianas eram preocupações dos filisteus.
— Houve românticos na Noruega?
— Wergeland e Welhaven são dois exemplos. Wergeland defendia também muitos ideais iluministas, mas sua vida foi a de um típico romântico. Ele era um galanteador e vivia apaixonado, só que a Stella a quem dedicava seus poemas, e agora temos um traço tipicamente romântico, era tão distante e inatingível quanto a “flor azul” de Novalis. O próprio Novalis apaixonou-se por uma jovem de apenas catorze anos. Ela morreu quatro dias após completar quinze anos, mas Novalis a amou por toda a vida.

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