O Romantismo (Parte 04/06)
Schelling
— O filósofo mais importante do Romantismo foi Friedrich
Wilhelm Schelling, que viveu de 1775 a 1854. Ele tentou suprimir a divisão
entre “espírito” e “matéria”. Schelling dizia que a natureza inteira, tanto a
alma humana quanto a realidade física, era expressão de um único Deus ou do
“espírito do mundo”.
— Sim, isto me lembra Spinoza.
— Para Schelling, a natureza era o espírito visível, e o
espírito a natureza invisível, pois por toda a parte podemos perceber e sentir
a ação de um espírito ordenador, estruturador. Para ele, a matéria era uma
espécie de inteligência adormecida.
— Isto você precisa explicar um pouco melhor.
— Schelling via o espírito do mundo na natureza, mas também
via este espírito na consciência humana. Nesse sentido, tanto a natureza física
quanto a consciência humana seriam expressão de uma única e mesma coisa.
— Sim, por que não?
— O espírito do mundo deve ser procurado, portanto, tanto
na natureza quanto dentro de cada um. Por isso Novalis pôde dizer que “o
caminho do mistério aponta para dentro”. Com isto ele queria dizer que o homem
traz o universo inteiro dentro de si e que a melhor forma de se vivenciar o
mistério do mundo seria mergulhar em si mesmo.
— É um belo pensamento.
— Para muitos românticos, a filosofia, a pesquisa natural
e a poesia formavam uma unidade superior. Se alguém estivesse sentado em seu
quarto escrevendo inspirados poemas, ou se estudasse a vida das flores e a
composição das pedras, estas coisas seriam apenas duas faces da mesma moeda,
pois a natureza não era um mecanismo morto, mas o espírito vivo do mundo.
— Se você continuar falando, vou acabar me tornando uma
romântica.
— O pesquisador natural norueguês Henrik Steffens, que
Wergeland chamava de “a folha de louro que o vento soprou da Noruega”, porque
Steffens se mudou para a Alemanha, foi a Copenhague em 1801 para fazer
palestras sobre o Romantismo alemão. Ele caracterizou o movimento romântico com
as seguintes palavras: “Cansados da eterna luta por abrir um caminho pela
matéria bruta, escolhemos outro caminho e nos lançamos, apressados, aos braços
do infinito. Mergulhamos em nós mesmos e criamos um novo mundo”.
— Como você conseguiu aprender tudo isto de cor?
— Isto é só um detalhe sem importância, Sofia.
— Continue!
— Schelling também via na natureza uma evolução que ia
das pedras até a consciência humana. Nesse sentido, ele chamava a atenção para
estágios de evolução que iam da natureza inanimada até às formas de vida mais
complexas. A visão romântica da natureza era absolutamente marcada pela
concepção de natureza como um organismo, como uma unidade, portanto, capaz de
desenvolver ao longo do tempo as potencialidades que lhe são inerentes. A
natureza é como uma planta que desenvolve folhas e florescências. Ou como um
poeta que cria seus poemas.
— Isto não lembra um pouco Aristóteles?
— Claro que lembra. A filosofia romântica apresenta
traços tanto aristotélicos, quanto neoplatônicos. Aristóteles tinha uma
concepção mais orgânica dos processos naturais do que os materialistas
mecanicistas.
— Entendo.
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