O Romantismo (Parte 05/06)
Gottfried Herder
— Podemos encontrar pensamentos análogos também numa nova
visão de história. Para os românticos, foram de grande importância as reflexões
do filósofo da história Gottfried Herder, que viveu de 1744 até 1803. Para ele,
o curso da história era o resultado de um processo voltado para um objetivo
específico. Justamente por isto chamamos de “dinâmica” sua visão da história.
Os filósofos do Renascimento tinham freqüentemente uma visão estática da
história. Para eles, só o que havia era uma única razão universal, que se
concretizava às vezes mais, às vezes menos, nas diferentes épocas. Herder, ao
contrário, explica que cada época da história tem um valor que lhe é peculiar e
cada povo a sua forma especial de ser, sua própria “alma”. A questão seria
saber se somos capazes de penetrar em outros tempos e em outras culturas para
entendê-los, e como podemos fazer isto.
— Assim como às vezes temos de nos colocar no lugar de
outra pessoa para entendê-la melhor, também precisamos “entrar” em outra
cultura para entendê-la melhor.
— Hoje em dia, isto é uma coisa que se tornou
praticamente evidente. Na época do Romantismo, porém, esta visão era nova.
Desse ponto de vista, o Romantismo contribuiu para intensificar o sentimento de
identidade própria de cada nação. Não é por acaso que, na Noruega, a luta pela
independência nacional tenha eclodido exatamente em 1814.
— Entendo.
— Devido ao fato de o Romantismo ter trazido consigo uma
reorientação em tantos setores, costumamos distinguir duas formas de
Romantismo. Por Romantismo entendemos, de um lado, aquilo que podemos chamar de
Romantismo universal. Nesse sentido,
estamos pensando nos românticos que se preocupavam com a natureza, a alma do
mundo e o gênio artístico. Esta forma de Romantismo veio primeiro e atingiu o
seu apogeu por volta de 1800, sobretudo na cidade alemã de Iena.
— E a outra forma de Romantismo?
— Foi o chamado Romantismo
nacional. Ele veio um pouco mais tarde e teve Heidelberg como centro. Os
românticos nacionais interessavam-se sobretudo pela história do povo, sua
língua e também pela assim chamada cultura “popular”. Pois o povo também era
visto como um organismo preocupado em desenvolver as possibilidades que lhe eram
inerentes. Exatamente como a natureza e a história.
— Diga-me onde moras e te direi quem és.
— O que unia essas duas vertentes do Romantismo era
sobretudo a palavra-chave “organismo”. Todos os românticos consideravam um
organismo vivo tanto uma planta quanto todo um povo e até mesmo uma obra
poética. Por isto é que também não há um limite bem definido entre as duas
vertentes. O espírito do mundo estava presente tanto no povo e na cultura
popular, quanto na natureza e na arte.
— Entendo.
— Herder já havia recolhido canções populares de muitos
países e dado à sua coletânea o eloqüente título de “As vozes dos povos em
canções”. Ele chegou mesmo a chamar os contos populares de “a língua materna
dos povos”. Em Heidelberg começou, então, um trabalho de coleta de canções e
contos populares. Você na certa já ouviu falar dos contos dos irmãos Grimm, não
ouviu?
— Claro: Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Gata
Borralheira e João e Maria…
— E muitos, muitos outros. Na Noruega tivemos Asbjørnsen
e Moe, que percorreram o país de ponta a ponta em busca de material para a sua
coletânea dos “Contos do povo”. Realizar este trabalho era como colher em
abundância um fruto suculento, cujo sabor delicioso e nutritivo acabasse de ser
descoberto. E era preciso ser rápido: os frutos já estavam começando a cair das
árvores. Landstad reuniu canções populares e Ivar Aasen reuniu, por assim
dizer, a própria língua norueguesa. Os mitos e os poemas épicos da era pagã
também foram redescobertos em meados do século XIX. E os compositores de quase
toda a Europa passaram a usar em suas composições os temas de canções
populares, entendidas aqui como canções folclóricas. Desta forma, eles tentavam
construir uma ponte entre a chamada “música artística” e a música popular.
— Música artística?
— Estamos chamando de “música artística” aquela composta
por determinado compositor, quer dizer, a música que era fruto da imaginação de
um artista. A música de Beethoven,
por exemplo. A música popular, por outro lado, não era criada por um compositor
em particular, mas pelo povo inteiro, por assim dizer. Tratava-se, neste caso,
de uma música cujo autor e data de composição não podiam ser identificados com
precisão. Seguindo a mesma linha de raciocínio, podemos estabelecer a diferença
entre os contos populares e os “contos artísticos”, também chamados por alguns
de “contos fantásticos”.
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