"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

O período helenístico



Aristóteles, seguindo a tradição de Platão, também se preocupou bastante com o ensino. Foi convidado para educar o filho do governante da Macedônia no ano de 343 a.C Este se chamava Alexandre e, mais tarde, ficou conhecido pela alcunha de “Alexandre, o Grande”, devido às suas enormes conquistas pela África e Ásia, espalhando incrivelmente seu império, chegando a dominar a própria Grécia. Foi graças à assimilação e disseminação da cultura grega pelo império de Alexandre, na Ásia e na África, que se possibilitou o florescimento do período helenístico. 

Quando Alexandre subiu ao trono, após a morte de seu pai, Aristóteles volta à Atenas e funda sua própria escola com o nome de Liceu. Lá se dedica ao ensino do que hoje se chamariam as diversas ciências, mas sempre voltado para explicações que tentavam dar conta de um aspecto mais amplo de compreensão filosófica do mundo que a simples taxonomia.
Posteriormente, a Grécia sai do domínio dos macedônios para cair no domínio dos romanos. Os romanos também integraram, em sua própria cultura, a cultura grega, o que ajudou a difundir e assentar firmemente, com o aumento de seu grandioso e longevo império, os ideais helênicos. Todas as manifestações culturais que resultaram daí, as artes plásticas e dramáticas, a filosofia, o direito, a política, a poesia, a arquitetura, a engenharia etc. ainda estão presentes nos dias de hoje.
Os filósofos deixam de ser cidadãos gregos e se tornam cidadãos do mundo, cidadãos cosmopolitas (cosmo = mundo; pólis = cidade), e a filosofia, que nasceu no berço grego, espalha-se, aumentando as fronteiras do conhecimento ao mesmo tempo em que aumenta as fronteiras físicas do mundo conhecido.
No que diz respeito a esta filosofia cosmopolita, vemos aparecer duas tradições, entre outras, com características próprias bastante definidas: o Estoicismo e o Epicurismo. Estas duas escolas tentaram, cada uma a seu modo, dar conta de aspectos muito gerais da natureza humana, principalmente aqueles relacionados à ética, ou seja, aos fundamentos críticos-teóricos do comportamento humano.
Geralmente, a ética trata do bem e do mal, porém estamos falando da teoria crítica a respeito do bem e do mal, a qual não se relaciona, necessariamente, ao entendimento que a religião ou que o senso comum faz
destes dois conceitos. Assim, cada uma destas escolas tentava justificar suas conclusões sobre o bem e sobre o mal de maneiras divergentes.
Assim, por exemplo, os estoicos acreditavam que havia uma necessidade extra-humana que perpassava tudo que havia na criação, na natureza, inclusive no próprio homem. Assim, não havia espaço para o acaso, para o acidente, tudo obedecia a uma ordem natural que não poderia ser modificada pelo desejo. As ações humanas também tinham um lugar nesta ordem e tanto melhor poderíamos nos conduzir diante da vida quanto mais se soubesse o quão pouco se pode decidir sobre ela.
Por outro lado, encontramos uma tradição bem diferente do Estoicismo, o Epicurismo. Para os epicuristas, a natureza deixa grandes portas abertas no que diz respeito às decisões. De modo que se pode optar por caminhos diferentes ao se tomar decisões diferentes. Basicamente se pode escolher entre viver uma vida de dores e resignação, como a vida estoica, ou escolher viver uma vida de prazeres por meio da exultação dos sentidos. Para os epicuristas, a vida será tanto melhor quanto mais prazeres se obtiver, consequentemente quanto mais desprazeres se evitar, sempre por meio das decisões acertadas.
O bem e o mal assumem valores bastante diversos dependendo da tradição moral que se presume adotar, epicurista ou estoica. Assim, a liberdade de pensamento ganha uma proporção bem grande na medida em que não fica restrita a dogmas do tipo “O agir bem é assim ou assado e o agir mal é assim e assado”. Geralmente, vemos afirmações categóricas deste tipo nas diversas religiões, porque o princípio destas religiões é a aceitação com base na fé e não com base na argumentação racional. Notamos, de maneira bastante clara, então, que a filosofia, ainda que se aproxime da moral e da religião para estudá-la, não pode ser confundida com ela e nem defensora, sem mais nem menos, de seus preceitos.

Vamos refletir um pouco:

1-  Podemos dizer, então, que o bem e o mal não existem de maneira geral e universal para todos? Explique.

2- Vivemos num país católico, mas que também possui uma série de outras religiões convivendo aparentemente de maneira pacífica. Segundo o que você conhece acerca destas religiões, o bem o mal seriam conceitos iguais para todas elas ou haveria pequenas diferenças? Tente responder citando alguns exemplos.

3- por que a filosofia não pode ser confundida com religião, apesar de também lidar com conceitos do bem e do mal?

4- Faça uma autoanálise: você, em sua vida cotidiana, assume uma postura estoicista ou epicurista? Dê exemplos práticos e relacione-os com o estoicismo e com o epicurismo.

Fonte: Palavra em Ação. 
CD-ROM, Claranto Editora.

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