"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

O período sistemático



Após Sócrates e Platão, vemos aparecer Aristóteles no cenário filosófico e, com ele, o Período Sistemático. Aristóteles foi um grande sistematizador, organizador do pensamento. Foi a ele atribuída uma das primeiras divisões e compartimentações da filosofia em campos, como a Filosofia Natural, a Lógica, a Ética, a Metafísica, a Política e a Estética. Platão e Sócrates, como pudemos observar nas outras aulas, já discutiam sobre estes assuntos, mas eles ainda se confundiam uns com os outros. Devemos a Aristóteles o empenho em separá-los e organizá-los segundo regras mais precisas. 

Assim, em seu livro “Organon”, palavra grega que quer dizer “instrumento”, Aristóteles fala sobre a lógica e como ela deve ser uma ferramenta para a filosofia. A lógica fornece a possibilidade de tornar qualquer discurso mais claro e preciso, de modo a se evitar erros de interpretação, como os famosos “mal entendidos”. O Discurso pode ser dividido em forma e conteúdo. As formas podem ser palavras como “cadeira”, “mesa” etc, e que também podem ser chamadas de sinais; o conteúdo, geralmente, é aquilo que queremos significar com estas palavras ou sinais “um objeto utilizado para se descansar”, “um objeto utilizado para se repousar, o prato de comida na hora da refeição”.
Tanto mais claro e preciso será o discurso quanto melhor se souber associar determinados conteúdos a determinados sinais, encaixar os conteúdos nas formas. Neste sentido, quanto melhor se souber fazer isto, tanto mais próximo da expressão máxima da verdade se estará. Vê-se que Aristóteles não concorda com a definição de verdade de Sócrates e Platão como uma ideia que está fora do mundo físico. Para ele, estaremos diante da Verdade quanto melhor pudermos traduzir o mundo físico por meio de nossas descrições.
Deste modo, ele se empenha, em sua filosofia natural, em descrever os diversos organismos vivos com que se depara, estabelecendo suas semelhanças e diferenças, classificando-os segundo a sua espécie. A essência de um ser, para Aristóteles, é aquilo que o faz pertencer a uma determinada espécie, a uma determinada categoria. Assim, o bem-te-vi é um pássaro, pois, em sua descrição, encontramos elementos que se encaixam na categoria de pássaros e não, por exemplo, na categoria de cadeiras.
Não existe nenhuma ideia perfeita de Bem-te-vi em um mundo separado, inteligível, em relação ao qual cada um dos bem-te-vis de um local são cópias imperfeitas como queriam Sócrates e Platão. Existem apenas os bem-te-vis, que cantam nas árvores, e a essência deles é a descrição da soma de todas as qualidades que os tornam bem-te-vis. A essência de uma cadeira é a descrição precisa da soma de todas as qualidades de certos objetos utilizados para se sentar e que os insere na classe das cadeiras; assim, o mesmo raciocínio funciona para todos os objetos do mundo.
Aristóteles também se viu impelido a falar um pouco sobre aquilo que fazia com que cada coisa ocupasse uma posição na natureza e, segundo esta posição, executasse um determinado movimento. Ele se viu impelido a falar sobre as causas das coisas serem como são em suas obras sobre a metafísica, sobre a ética e a estética. Na verdade, o problema central em cada uma era explicar o movimento que parecia existir em tudo e, ainda, salvar a verdade como algo que não é uma metamorfose constante.
Para explicar isto, ele admitiu que o ser, a existência, poderia se dar de duas maneiras: a primeira enquanto ato, enquanto existência física propriamente dita; e a segunda como potência, isto é, como uma possível existência física futura. Assim, uma cadeira existe em ato, pois sentamos nela. Ela está realizando uma de suas disposições que é permitir o ato de alguém descansar nela - e é por isto que ela se enquadra na categoria de cadeira. Mas ela pode atualizar uma qualidade que está somente em potência como, por exemplo, servir, futuramente, de lenha para fogueira (se ela for feita de madeira, obviamente). Neste sentido, ela também é, em potência, lenha de fogueira e, se um dia ela concretizar esta possibilidade, executou-se um movimento sem que a verdade sobre a cadeira se tenha modificado. Desde o início já era verdade que ela era uma cadeira em ato e lenha de fogueira em disposição.
O movimento, qualquer que ele seja (uma decisão, um pensamento, o envelhecimento, o nascimento, um assassinato, uma pedra rolando ladeira abaixo, um beijo, etc), qualquer ação, é a efetivação de algo que já existia em potência.
A conclusão que se pode chegar é que a existência, em sua totalidade, já está dada, mas apenas parte de suas disposições se efetivou. O movimento de tudo que existe é esta constante efetivação da existência.

Fonte: Palavra em Ação. 
CD-ROM, Claranto Editora.

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