As “Diretas-Já!”
O acontecimento final do governo do general Figueiredo foi a campanha
pelas Diretas Já, em 1984. Uma coisa
maravilhosa, na qual praticamente o país inteiro tomou parte, lutando pelo
direito de votar para presidente. Nos últimos comícios, no Rio de Janeiro e em
São Paulo, reuniram-se milhões de pessoas. Foram as maiores manifestações de
massa da história do Brasil.
No dia em que a Emenda Dante de
Oliveira, restabelecendo as diretas, foi votada pela Câmara dos Deputados,
Brasília ficou em estado de emergência. O general Newton Cruz, a cavalo como um
Napoleão desvairado, queria prender todo mundo vestido de amarelo (símbolo da
campanha) e chicoteava os carros que buzinavam a favor da emenda. O pior
aconteceu: apesar de os “sim” ganharem de 298 a 65, inclusive com alguns votos
do PDS, faltaram 22 votos para a vitória. Vários canalhas tinham votado contra
ou simplesmente não compareceram. Na verdade, uma batalha tinha sido perdida,
mas não a guerra. Ainda dava para botar o povo de novo na rua para protestar e
exigir uma nova votação. Mas a cúpula do PMDB já estava armando um acordo com
políticos descontentes do PDS. Praticamente só o PT, ainda pequeno, protestou
contra a armação. Pelas regras antigas que foram mantidas, o presidente seria
eleito indiretamente pelo Colégio Eleitoral. O Colégio Eleitoral, formado pelo
Congresso e por deputados estaduais (seis por cada Assembléia Estadual, do
partido majoritário no respectivo estado), era uma armação que sempre dava
vitória ao governo. Acontece que o candidato oficial do PDS, sr. Paulo Maluf,
estava muito queimado. Sua ligação com a podridão do regime atraía o ódio
popular. Se ele fosse presidente seria uma decepção muito grande para o Brasil.
Muitos políticos do PDS perceberam que não dava para Maluf. Liderados
pelo senador José Sarney, eles formaram a Frente Liberal que, no Colégio
Eleitoral, elegeu Tancredo Neves
presidente do Brasil (o vice era Sarney). Pouco depois, esse pessoal, que saiu
do PDS mas que mantinha as velhas idéias conservadoras, fundou o PFL (Partido
da Frente Liberal).
Tancredo Neves fez carreira no PSD junto das oligarquias mineiras. Foi
ministro da Justiça de Getúlio e esteve no MDB. Moderadíssimo, nunca tivera
atritos graves com o regime militar. Pois é, um político hábil, mas que nunca
se ligou a nenhuma luta popular, virou salvador da pátria. Talvez, porque tenha
falecido antes de tomar posse. Assim, por ironia da história, o presidente que
poria fim ao regime militar seria o ex-líder do regime no Senado: José Sarney,
vice de Tancredo. A tragédia da história se repetia como farsa.
Fontes
bibliográficas:
História do Brasil – Luiz Koshiba –
Ed. Atual
História Crítica do Brasil – Mário
Schmidt – Ed. Novos Tempos
História do Brasil – Boris Fausto –
Ed. Difel
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