"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Nasce o Partido dos Trabalhadores

data:image/jpeg;base64,/9j/4AAQSkZJRgABAQAAAQABAAD/2wCEAAkGBxQTEhUUExQWFhUXGBsZFxgYFhwYHRwcGB0aHR4cIBgYHCgiHR0lHRwcIjEhJSksLy4uGh8zODMtNygtLiwBCgoKDg0OGhAQGCwdHCEsMSwuMCssLC0wLC81LCwwLS0rNy0sLi03Ny00LCwsNywtLCwvLCwsLCwtLSsvLCwtLP/AABEIAMcA/QMBIgACEQEDEQH/xAAcAAABBQEBAQAAAAAAAAAAAAAGAAEEBQcDAgj/xABLEAACAQIEBQEGAwQECwYHAAABAgMEEQAFEiEGEyIxQVEHFDJhcYEjQpEzUmKhFYKx0SQ0Q1Nyc5KTssHwFhdUY3SiCCU1RKPC0v/EABoBAQEAAwEBAAAAAAAAAAAAAAABAgMEBgX/xAAwEQACAQMCAwUHBQEAAAAAAAAAAQIDBBEhMQUSQVFhccHRBhMigZGh8BQyQlLhM//aAAwDAQACEQMRAD8A2wQKOwH6Y94cYfEwMnNSMetIx6wwGAFbCth8LFA1sK2HwsANbCth8LADYe2Fjy7gAkmwG5J8YA9Ya2KR+KoP8nzZhv1QQyTLt3GtFK3++Ov9MudWmkqSAAV2jXXe+wDyAgi35rdxgC2thWwNpxLNIXSKgqSysy6pDHHHdfOsuSVJ2uqn9N8NT1WaMbNT0kQ8t7xJL9tAiW/6jABLhWxScrMD/laVdu3Ile5+vOWw/XHpoK/Utp6ULY6gaaQm9trH3gAi/wAu364AubYYjFKUzBSOukkW+/4csRt6g65Nx6efUYsWpmePTI257mMtH89iG1D63xAdxa2KPPOKaemlhic3eVgoC2Om7RpdtxYapEHk73tYEiwOTQkWaMOLW/EvJcdty5N/mT3wDe1wrTx08kaKCHk2VQCQsTTW2G3XCm/oMMFNEQdvrhyO+PNPIGVWHZgCPuL46g4ARGGtj1hYpDyBh7YfCwA1sK2HwsAMMeJMdMeWGI1oVHoYWGGIc+axJMkDOBK+6r5Pxdv9lv0xSE3CwsLACwsLCwAsLCwsALCwsMcARsyzCOCNpZnCIouzH5fzJ+Q3OKrK4Pe0WeoRgCX5cMg0gJqYIzx+XZNLWb4b2sDe4HwT7xWZxVf0iFc0g/Dj2McTOwKMi7jVoW+o9W/e/bT83r1ghkmf4Y1LH7dh9SdvviN41LGLbSW7PdNUxsWRCpMZCsB+U2BAI8bEHEnGKezbidhmD81tqokG52El7p3PbuoHzXG1Y10qiqRydl/ZStKvJLXRP1+4+FhYWNpxCwsLCwAsLCwsALAJ7YIz7pC4t01MQLEbKsuqJiSews9r/PB3ga9osKvl82sAqpjkYHtaORHP8lOxwBM4NqjLQUkh7vBEx3vuUW+LgnFDwMye5RLGbrHriBH/AJTsh7fNcUntGj5k1FHqdWMgaMqAQriamTVv+ZUkcqO3e42GADrCxSQVNZGNMsKTEdnhcJq+Zjl+A/IM31x0/pKo8Ub3t5litf6hibfbAFvhYp4czqBczUhUD/NyrL/7bKf0BxJy/OIZiVRwXUXZD0ut/wB6NrMv3GAJ+FhYWAFhjh8MRgBDAD7UpWgEdVGQJIQXUEbPy2UlCe+6NJsAe5O1sH18DHH2X8+nVb2u5S9gR+Ojwi9/GqRcAi1yDOFqYlkA0tYa01BipIuOpdmUjdWGzAg4s8Z/zJjPSyElEqkQRlGvyJ+UWZdB2aF1TSU7akUizG4M6Wok+GZVDXOllJKsNt9x0kknpuex3OAJuFhr4fACwsU2a54I35MK86oIuIgwGkHYNI+/LS/mxJsbA2tjiMgMxLVsnPBtaEDTAtv4O8h7byFtxcBe2APVZxZTIzIjNPKuxjp0MzAm9g2i4jvbu5UfPDitrJdkp1gG/XO4Zh2seTCSGHfYyL/dcogAsBb6bY9HAARwXlkkWZ5rJIwYyGmFwNNyIiWOm50i7WAJJ2+5qPbPndkjpVO7HXIAfyjZQfqd/wCrg3o4OVLVTSEAOykG/wCSONRc+m+v9MYHxPm5qqqWc9mbp+SjZR+gH3vjluqnLDHafc4Dae+uPePaGvz6epWwylWVlNmUgg+hBuD+uPpLhnNRVU0Uw/OvUPRhsw+zA4+asFvBvHUlBG8fLEqM2oAuV0m1jbY7HbbHJbVVCWuzPQca4fK6pJ01mUX9uvqb5hYyT/vgf/wq/wC9P/8AGPP/AHvS/wDhk/3h/ux2/qqfaeaXA73+n3Xqa7hYx8e12a5/weP5dZ2/lgv4G4kqq68jwxxwjYMC12b0W/geT9vplCvCTwjTccKubeHPUSS8UGOFhsInG4+cPim4ypebQVcdrloJQB89DW/nbFuWxwqhdSvcEEfqLYAG/ZpViSjJUWBkZh8xJZwR2uLMN7YhcRSu+cUUShtKjUzeAGWd7Wt5MAGq+1hfuMV/skqLJNEDuvKa3pZWhI+zQMMSY7yZ6bupEUJZQCbjoiUat7b86Q2PgIcQpoC384fEcEnDq/i+KQ74rc4yaOcAm6SL+zmSwkQ9wVb0v3U3VuxBGLBThycAU+SZk5ZqeosKiMAkqCElQkgSp6XIsyd1bbcFWa5wMZ7WRs6SxSAyUkyCUKwuEmIjdWv+Wx129Yh6YJhiJ5K01ox8eWYDvgc4rra2C01NypIltzYnVg1r7ssiE2sO40nYEi52PejzB5gS0LRkWsSyujhgCGR1O4+oB+XbBvQqjkvcVnESn3aUhSxVC6qraCTH1KA1jbdR4P0OLIY8Ob3Ftv7cDEEsgyqFkDS20cwhEc3F1meamZCTswR/G+4H5bYLOUCpUgabWt8vTGf8HVjQU9XCZAxpUDR6gSFSANAASBfdqVnJA7vsMaKpuLjse2KCk4dZo2lpXYuYdBjZjdjE4ITUTuzKUdSd76QSbk4ie0Hib3ClLqA00jCOBfWRr6dvIHcj7ecSa7or6Zr7SRTREb7kcuRT3tSaab-Scania, multinacional sueca de salários brasileiros localizada em São Bernardo do Campo (São Paulo). São 7 horas da manhã. 13 de maio de 1978, sexta-feira. Os diretores e executivos observam e não acreditam no que vêem: os operários estão ali, bateram cartão de ponto, mas nada funciona. Braços cruzados, máquinas paradas. E sem o peão, nada existe. A greve. Apesar da rígida proibição da ditadura, os trabalhadores pararam. E dali se espalharam e paralisaram o cinturão industrial do ABC Paulista.  

Foi uma loucura. Todo mundo ficou perplexo. Desde o governo até a esquerda tradicional, incapazes de aceitar que a classe trabalhadora pudesse, por conta própria, resolver seus problemas.
Na liderança, uma nova cabeça no país, que não estava ligada a nenhum partido, a nenhum grupelho de esquerda: Luís Inácio Lula da Silva, o Lula, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Filho de miseráveis camponeses nordestinos que emigraram para São Paulo, Lula trabalhava desde criança. Bom operário, torneiro-mecânico, perdeu o dedo num acidente de trabalho tão comum no Brasil. Na adolescência, não ligava muito para política nem para sindicato. Queria mesmo era jogar bola e namorar. Amadureceu, começou a tomar consciência das coisas e entrou para o sindicato, até ser eleito presidente. Assim, iria se tornar o mais influente líder sindical operário de toda a história do Brasil.
Depois do susto da greve de 1978, o governo respondeu. Na greve de 1979, o presidente já era Figueiredo. O sindicato de São Bernardo sofreu intervenção. A polícia federal ocupou a sede. E quem precisava do prédio? Nas assembléias, compareciam dezenas de milhares de metalúrgicos.
O Brasil inteiro explodiu em greves. Todo mundo queria de volta o que a inflação tinha levado para os patrões. Categorias que antes de 1964 jamais teriam organizado um movimento (afinal, eram de "classe média"), como professores, médicos e engenheiros, descobriram a necessidade de também participar do sindicalismo combativo.
A ditadura reprimia sem dó. O operário Santo Dias, ativista sindical, foi assassinado pela PM na rua. Era preciso deixar claro que novas rebeldias não seriam toleradas. A fábrica da Fiat (Minas Gerais) foi invadida pela PM com cães amestrados. Os trabalhadores deviam se calar!, pois não se intimidaram. Contra os abusos dos patrões, novas greves no ABC, em 1980. A ditadura mostrava, mais uma vez, que estava sempre do lado da burguesia.
Uma operação de guerra foi montada. Guerra contra trabalhadores desarmados. O comandante do II Exército planejou as ações bélicas. Mobilizaram-se homens, armas, recursos. A polícia federal chefiada pelo dr. Romeu Tuma, o DOPS e o DOI-CODI prenderam Lula e mais 15 dirigentes sindicais. Ficaram incomunicáveis.
Esperavam que, prendendo a liderança, acabariam as greves. Engano. Esse era um novo sindicalismo. Organizado pela base, sem chefes supremos a decidir tudo. Cada peão era um responsável. A hidra de 250 mil cabeças.
A greve continuava. Proibida pelo governo, decretada ilegal pelo Tribunal do Trabalho. Mais prisões de políticos, advogados e sindicalistas. A televisão só entrevistava ministro, patrão, policial e pelego, para dar a impressão de que o Brasil era contra. Mas o povo colhia donativos nas ruas para ajudar as famílias dos operários. Provocadores da polícia destruíram lojas, para criar a fama de que greve é baderna. Jornalistas os fotografaram e desmascararam a armação.
O Exército deu, então, o ultimato. As ruas de São Bernardo do Campo foram ocupadas por blindados, soldados de fuzis automáticos, ninhos de metralhadoras. Helicópteros equipados com bombas patrulhavam a cidade. Estava terminantemente proibido fazer assembléia operária.
Pois uma multidão de 120 mil pessoas desafiou o poder. Cabeças erguidas, dona da verdade no coração. Massacrá-los seria dar início a uma guerra civil.
No dia seguinte, não havia mais soldados em São Bernardo. A luta da classe operária havia derrotado a ditadura.

Fontes bibliográficas:

História do Brasil – Luiz Koshiba – Ed. Atual
História Crítica do Brasil – Mário Schmidt – Ed. Novos Tempos

História do Brasil – Boris Fausto – Ed. Difel

0 Response to "Nasce o Partido dos Trabalhadores "