General João Batista Figueiredo (1979 – 1985)
O general João Batista Figueiredo
foi o nosso presidente equestre. Ex-chefe do SNI, declarou que “preferia o
cheiro dos cavalos ao cheiro do povo”. Infelizmente, no Brasil o povo podia
escolher o desodorante, mas não o presidente.
O regime deveria ser condecorado com uma ferradura. A inflação veio a
galope, dando coices nos salários. O ministro Delfim Netto, o “gordinho
sinistro” achava que “primeiro o bolo deveria crescer, para depois ser
dividido”. Pois aí está a grande empulhação da ditadura: o Brasil teve um
grande crescimento econômico e sua renda per capita ficou bem maior. Mas o bolo
foi comido pelos ricos.
Segundo o IBGE, em 1980 aos 5% mais ricos cabiam 37,9% do total da renda
do país, e aos 50% mais pobres sobravam 12,6%. Portanto, a fatia a ser
partilhada pelos 5% mais ricos era três vezes maior que a fatiazinha que ainda
tinha de ser rachada entre a multidão dos 50% mais famintos! Êta festazinha de
aniversário safada: isso tinha de dar bolo!
Através da inflação, os salários eram comidos pelos patrões. Não satisfeito,
o governo Figueiredo inventou várias leis que deveriam proibir aumentos
salariais para compensar a inflação. Mas os tempos eram outros e o Congresso
Nacional barrou as medidas.
A dívida externa alcançou cifras absurdas: quase 100 bilhões de dólares.
Ora, ela fez com que o Brasil tivesse de pagar, todos os anos, vários bilhões
de dólares aos banqueiros internacionais que tinham financiado o país. O
resultado é que pagamos os tais 100 bilhões, mas continuamos devendo a mesma
quantia! E continuamos tendo de pagar! Uma verdadeira bomba de sucção na
economia.
A partir de 1982, o país começou a negociar com o FMI (Fundo Monetário
Internacional), para ajudar no pagamento da dívida externa. O FMI, como sempre,
fez exigências cruéis: o Brasil deveria reduzir os salários, cortar os gastos
públicos (menos dinheiro para as escolas e universidades, para os hospitais,
para investir na economia), aceitar que a economia parasse de crescer. Tudo
isso em nome da estabilização econômica. Para a oposição, recorrer ao FMI era
botar a economia do Brasil nas mãos do capitalismo internacional.
Na verdade, o regime militar tinha simplesmente desgraçado nossa
economia. O crescimento dos tempos do “milagre” era ilusório: um país não pode
crescer por muito tempo mantendo tanta injustiça social. Daí que em 1981
aconteceu, pela primeira vez desde os anos da crise de 1929, o crescimento
negativo da economia do país. O Brasil tinha ficado mais pobre ainda. Era a
terrível estagflação, mistura de estagnação econômica (tudo parando) com inflação.
Figueiredo gostava de dizer que “jurou fazer deste país uma democracia”.
(Engraçado, antes não era?) Mas sua abertura foi uma mistura de oportunismo com
recuo. É bem verdade que a censura abrandou, embora fosse mais fácil publicar
revistas pornôs do que jornaizinhos de esquerda. Realmente, Figueiredo era
tolerante com as manifestações democráticas. Não foi à toa que os generais
linha-dura nunca o perdoaram e até hoje o xingam de “traidor do regime”. Ponto
favorável para ele no julgamento da história. Mas não se deve esquecer o lado
repressor do governo Figueiredo: reprimiu greves; prendeu militantes do PCB e
do PC do B; expulsou padres estrangeiros que colaboravam com a luta camponesa
pela reforma agrária; impôs novidades nas regras eleitorais, para favorecer o
governo; fez com que mudanças na Constituição só ocorressem com aprovação de
dois temos do Congresso; enquadrou estudantes na LSN.
A extrema direita, que nunca foi reprimida, continuou fazendo das suas:
um atentado terrorista à secretária da OAB (1980). No ano seguinte, durante um
show de MPB comemorando o dia 1º de maio, várias bombas foram instaladas no
Riocentro (Rio de Janeiro). Se explodissem, podemos imaginar quantos morreriam.
Só uma delas estourou, no colo de um sargento do Exército que estava num carro
estacionado por lá. Ele ao lado de um capitão. O que faziam ali? O inquérito
policial-militar concluiu que ambos foram "vítimas". Para muita
gente, porém, tinha sido um frustrado atentado de extrema direita. Os dois
morreram de acidente de trabalho...
A anistia veio em 1979. Mas não foi "ampla, geral e
irrestrita". O pior é que os torturadores também foram anistiados, sem
jamais terem sentado no banco dos réus. De qualquer modo, ela permitiu o
retorno dos exilados e a libertação dos presos políticos. Os reencontros no
aeroporto e na saída da cadeia emocionaram uma geração que havia sacrificado
sua juventude por seu patriotismo.
Fontes
bibliográficas:
História do Brasil – Luiz Koshiba –
Ed. Atual
História Crítica do Brasil – Mário
Schmidt – Ed. Novos Tempos
História do Brasil – Boris Fausto –
Ed. Difel
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