Juízo de fato e de valor
Se dissermos: “Está chovendo”,
estaremos enunciando um acontecimento constatado por nós e o juízo proferido é
um juízo de fato. Se, porém,
falarmos: “A chuva é boa para as plantas” ou “A chuva é bela”, estaremos
interpretando e avaliando o acontecimento. Nesse caso, proferimos um juízo de valor.
Juízos de fato são aqueles que
dizem o que as coisas são, como são e por que são. Em nossa vida cotidiana, mas
também na metafísica e nas ciências, os juízos de fato estão presentes.
Diferentemente deles, os juízos de valor - avaliações sobre coisas, pessoas e
situações - são proferidos na moral, nas artes, na política, na religião.
Juízos de valor avaliam coisas,
pessoas, ações, experiências, acontecimentos, sentimentos, estados de espírito,
intenções e decisões como bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis.
Os juízos éticos de valor são
também normativos, isto é, enunciam
normas que determinam o dever ser de
nossos sentimentos, nossos atos, nossos comportamentos. São juízos que enunciam
obrigações e avaliam intenções e ações segundo o critério do correto e do
incorreto.
Os juízos éticos de valor nos
dizem o que são o bem, o mal, a felicidade. Os juízos éticos normativos nos
dizem que sentimentos, intenções, atos e comportamentos devemos ter ou fazer
para alcançarmos o bem e a felicidade. Enunciam também que atos, sentimentos,
intenções e comportamentos são condenáveis ou incorretos do ponto de vista
moral.
Como se pode observar, senso
moral e consciência moral são inseparáveis da vida cultural, uma vez que esta
define para seus membros os valores positivos e negativos que devem respeitar
ou detestar.
Qual a origem da diferença entre
os dois tipos de juízos? A diferença entre a Natureza e a Cultura. A primeira,
como vimos, é constituída por estruturas e processos necessários, que existem
em si e por si mesmos, independentemente de nós: a chuva é um fenômeno
meteorológico cujas causas e cujos efeitos necessários podemos constatar e
explicar.
Por sua vez, a Cultura nasce da
maneira como os seres humanos interpretam a si mesmos e suas relações com a
Natureza, acrescentando-lhe sentidos novos, intervindo nela, alterando-a
através do trabalho e da técnica, dando-lhe valores. Dizer que a chuva é boa para as plantas pressupõe a relação
cultural dos humanos com a Natureza, através da agricultura. Considerar a chuva
bela pressupõe uma relação
valorativa dos humanos com a Natureza, percebida como objeto de contemplação.
Freqüentemente, não notamos a
origem cultural dos valores éticos, do senso moral e da consciência moral,
porque somos educados (cultivados) para eles e neles, como se fossem naturais
ou fáticos, existentes em si e por si mesmos. Para garantir a manutenção dos
padrões morais através do tempo e sua continuidade de geração a geração, as
sociedades tendem a naturalizá-los. A naturalização da existência moral
esconde, portanto, o mais importante da ética: o fato de ela ser criação
histórico-cultural.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
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