Características do mito
O mito primitivo é
sempre um mito coletivo. O grupo, cuja sobrevivência deve ser assegurada,
existe antes do indivíduo e é só através dele que os sujeitos individuais se
reconhecem enquanto tal. Explicando melhor, o sujeito só tem consciência, só
se conhece como parte do grupo. É
através da existência dos outros e do reconhecimento dos outros que ele se
afirma. Por isso, pode ser expulso
simbolicamente: no momento em que falta o reconhecimento dos outros
integrantes do grupo, ele não se reconhece, não se encontra mais.
Outra característica do
mito é o fato de ser sempre dogmático, isto é, de apresentar-se como verdade
que não precisa ser provada e que não admite contestação. A sua aceitação,
então, tem de ser através da fé e da crença. Não é uma aceitação racional, e
não pode ser nem provado nem questionado. Dentro dessa perspectiva de
coletivismo, a transgressão da norma, a não-obediência da regra afeta o
transgressor e toda sua família ou comunidade. Assim é criado o tabu — a proibição —, envolto em clima
de temor e sobrenaturalidade, cuja desobediência é extremamente grave. Só os
ritos de purificação ou de "bode expiatório", nos quais o pecado é
transferido para um animal, podem restaurar o equilíbrio da comunidade e evitar
que o castigo dos deuses recaia sobre todos.
Fonte:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Temas
de Filosofia. São Paulo, Moderna, 2000 (edição digital).
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