"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Características do mito




O mito primitivo é sempre um mito coletivo. O grupo, cuja sobrevivência deve ser assegurada, existe antes do in­divíduo e é só através dele que os sujeitos individuais se reconhecem en­quanto tal. Explicando melhor, o sujeito só tem consciência, só se conhece co­mo parte do grupo. É através da existên­cia dos outros e do reconhecimento dos ou­tros que ele se afirma. Por isso, pode ser expulso simbolicamente: no momento em que falta o reconhecimento dos outros integrantes do grupo, ele não se reco­nhece, não se encontra mais.  

Outra característica do mito é o fato de ser sempre dogmático, isto é, de apresentar-se como verdade que não precisa ser provada e que não admite contestação. A sua aceitação, então, tem de ser através da fé e da crença. Não é uma aceitação racional, e não po­de ser nem provado nem questionado. Dentro dessa perspectiva de coletivismo, a transgressão da norma, a não-obediência da regra afeta o transgres­sor e toda sua família ou comunidade. Assim é criado o tabu — a proibição —, envolto em clima de temor e sobrenaturalidade, cuja desobediência é extre­mamente grave. Só os ritos de purifi­cação ou de "bode expiatório", nos quais o pecado é transferido para um animal, podem restaurar o equilíbrio da comunidade e evitar que o castigo dos deuses recaia sobre todos.

Fonte:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. São Paulo, Moderna, 2000 (edição digital).

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