"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Entendendo nossa democracia: 3. o voto nulo (parte III)




Muito bem, o discurso da campanha pelo voto nulo é quase irresistível, não é? Se ninguém presta, se é tudo a mesma ..., se o processo é viciado, se somos obrigados, vamos nos abster de participar, ué. Parece lógico, não é? A minha opinião acho que você já sabe, mas vou dar um exemplo a seguir, pra deixar ainda mais clara:
No primeiro turno da votação de outubro para presidente estaremos provavelmente diante de cerca de 16 opções de voto, sendo 13 candidatos de diversos partidos mais as opções nulo, branco ou simplesmente não aparecer para votar. Para muita gente as 13 primeiras opções exigirão “escolher o menos pior”.
Aí surge aquele “Não concordo com nada do que está aí, não quero fazer parte desse circo, portanto voto em ninguém”. É o voto da indignação
O voto em branco é diferente. Ele quer dizer: “não sei em quem votar. Fiquei em dúvida e prefiro me abster”. Também é uma opção válida. É o voto da dúvida.
Já o não comparecimento à votação pode querer dizer que “não vale a pena me deslocar até o local da votação para escolher o menos pior. Vou pra praia que ganho mais”. É o voto do desprezo.
Resumo: temos 13 candidatos mais a Indignação, a Dúvida ou o Desprezo.  

Agora imaginemos uma situação hipotética, com dois candidatos no segundo turno para serem eleitos por 147 milhões de eleitores. Suponha que a campanha pelo voto nulo seja um tremendo sucesso, todo mundo abrace a causa, fazendo com que a soma dos nulos, brancos e abstenções no segundo turno seja de mais de 146.999.997 milhões de pessoas. Após apurar os nulos, brancos e abstenções, os votos válidos serão reduzidos a… 3 (três). Três votos válidos, dos três fariseus que não votaram branco, nem em nulo!
De novo: aqueles milhões de votos não foram anulados pela justiça, mas pelos eleitores, individualmente. Sabe o que que vai acontecer, hein?
O candidato que dos três votos obtiver 2, será eleito presidente.
Sacou então, hein? Dos 147 milhões de votos potenciais ganhou o candidato que teve dois votos…
– Ah, mas vai ficar feio pra ele.
Pois é. E daí, cara?

Adaptado de Café Brasil de Luciano Pires

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