Classificação das ciências
Ciência, no singular, refere-se
a um modo e a um ideal de conhecimento que examinamos até aqui. Ciências, no
plural, refere-se às diferentes maneiras de realização do ideal de
cientificidade, segundo os diferentes fatos investigados e os diferentes
métodos e tecnologias empregados.
A primeira classificação
sistemática das ciências de que temos notícia foi a de Aristóteles, à qual já
nos referimos no início deste livro. O filósofo grego empregou três critérios
para classificar os saberes:
● critério da ausência ou presença da ação humana nos seres investigados,
levando à distinção entre as ciências teoréticas (conhecimento dos seres que
existem e agem independentemente da ação humana) e ciências práticas
(conhecimento de tudo quanto existe como efeito das ações humanas);
● critério da imutabilidade ou permanência e da mutabilidade ou movimento
dos seres investigados, levando à distinção entre metafísica (estudo do Ser enquanto
Ser, fora de qualquer mudança), física ou ciências da Natureza (estudo dos
seres constituídos por matéria e forma e submetidos à mudança ou ao movimento)
e matemática (estudo dos seres dotados apenas de forma, sem matéria, imutáveis,
mas existindo nos seres naturais e conhecidos por abstração);
● critério da modalidade prática, levando à distinção entre ciências que
estudam a práxis (a ação ética,
política e econômica, que tem o próprio agente como fim) e as técnicas (a
fabricação de objetos artificiais ou a ação que tem como fim a produção de um
objeto diferente do agente).
Com pequenas variações, essa classificação foi mantida até o século XVII,
quando, então, os conhecimentos se separaram em filosóficos, científicos e
técnicos. A partir dessa época, a Filosofia tende a desaparecer nas classificações
científicas (é um saber diferente do científico), assim como delas desaparecem
as técnicas. Das inúmeras classificações propostas, as mais conhecidas e
utilizadas foram feitas por filósofos franceses e alemães do século XIX,
baseando-se em três critérios: tipo de objeto estudado, tipo de método
empregado, tipo de resultado obtido. Desses critérios e da simplificação feita
sobre as várias classificações anteriores, resultou aquela que se costuma usar
até hoje:
● ciências matemáticas ou lógico-matemáticas (aritmética, geometria,
álgebra, trigonometria, lógica, física pura, astronomia pura, etc.);
● ciências naturais (física, química, biologia, geologia, astronomia,
geografia física, paleontologia, etc.);
● ciências humanas ou sociais (psicologia, sociologia, antropologia,
geografia humana, economia, linguística, psicanálise, arqueologia, história,
etc.);
● ciências aplicadas (todas as ciências que conduzem à invenção de
tecnologias para intervir na Natureza, na vida humana e nas sociedades, como
por exemplo, direito, engenharia, medicina, arquitetura, informática, etc.).
Cada uma das ciências subdivide-se em ramos específicos, com nova
delimitação do objeto e do método de investigação. Assim, por exemplo, a física
subdivide-se em mecânica, acústica, óptica, etc.; a biologia em botânica,
zoologia, fisiologia, genética, etc.; a psicologia subdivide-se em psicologia
do comportamento, do desenvolvimento, psicologia clínica, psicologia social,
etc. E assim sucessivamente, para cada uma das ciências. Por sua vez, os
próprios ramos de cada ciência subdividem-se em disciplinas cada vez mais
específicas, à medida que seus objetos conduzem a pesquisas cada vez mais
detalhadas e especializadas.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
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