"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Mineração no Brasil Colônia (Parte 09/09)


A Economia nos Fins do Século XVIII

O “Renascimento Agrícola” – A partir da decadência da mineração na segunda meta­de do século XVIII, a agricultura exportadora voltou a ocupar posição de destaque na economia colonial. Esse fenômeno foi chamado, pelo historiador Caio Prado Jr., de “renascimento da agricultura”. Mas não foi apenas o esgotamento das jazidas que explica esse renascimento. Outros fatores devem ser destacados.
O esgotamento do ouro ocorre no contexto da crise do Antigo Regime, motivada pelas pro­fundas transformações na Europa. O renascimento agrícola esteve ligado, de um lado, ao incremento demográfico do século XVIII e, de outro, à grande alteração da ordem econômica inglesa em meados do século, com a Revolução Industrial.
Com isso, criou-se na Europa uma demanda intensa de produtos agrícolas para alimentar a população em crescimento. Por outro lado, a Revolução Industrial, que se iniciou no setor têxtil do algodão, ampliou consideravelmente a demanda por essa matéria-prima. O fornece­dor tradicional do algodão era a Índia, agora incapaz de suprir satisfatoriamente a. crescente demanda. No século XVIII, as colônias sulistas dos atuais EUA, importantes fornecedoras do algodão, paralisaram suas remessas em virtude de seu rompimento com a Inglaterra e do início da Guerra de Independência (1776 - 1781). As pressões das circunstâncias levaram a Inglaterra a se voltar para outros mercados, favorecendo então o Brasil, que intensificou a produção algodoeira.
A produção açucareira retomou, por seu turno, um ritmo acelerado de expansão, também na segunda metade do século XVIII, em virtude da Revolução Francesa (1789 - 1799), que estimulou as rebeliões coloniais antilha­nas de dominação francesa, desorganizando a produção açucareira e favorecendo a exportação brasileira. Importantes centros de produção açucareira como o Haiti (colônia francesa) conheceram uma agitação sem precedentes. Em razão disso, os engenhos do Brasil foram reativados, beneficiando-se da nova conjuntura. Por fim, a neutralidade portuguesa diante dos conflitos europeus, desencadeados com a Revolução Francesa, criou condições para o incremento de seu comércio colonial.
Todos esses acontecimentos contribuíram para alterar a fisionomia geoagrícola do Brasil. De fato, a nova conjuntura estimulou a diversificação da produção. A produção do algo­dão teve como centro o Maranhão. Outras regiões também se dedicaram ao seu cultivo, embora em menor escala, como o extremo norte do Pará, Ceará, região do agreste nordestino, Minas e Goiás. No caso do açúcar, além dos centros tradicionais nordestinos, novas áreas foram ativadas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em São Paulo o quadrilátero do açúcar formado pelas cidades de Mogi-Guaçu, Sorocaba, Piracicaba e Jundiaí iria preparar, no século XIX, o ingresso da cultura cafeeira. Desenvolveu-se também o plantio do arroz no Maranhão e no Rio de janeiro, e de anil ou índigo em Cabo Frio.
Nesse quadro de diversificação, a pecuária sulina teve um papel importante na definição de fronteiras no Prata. Essa atividade teve a sua origem na destruição das missões jesuíticas pelos bandeirantes paulistas. O gado criado pelos jesuítas se dispersou pelos campos do sul e encontrou condições favoráveis para a sua multiplicação. As primeiras atividades pecuárias no sul limitavam-se ao apresamento do gado solto para dele extrair o couro, que era exportado (a carne não era consumida). Posteriormente, com a mineração, a capitania de São Pedro (atual Rio Grande do Sul) ganhou vitalidade com a exportação do gado, conforme já vimos. Com o declínio da mineração, a região se integrou definitivamente ao resto da colônia com a produção do charque (carne­seca), que será exportado para os centros urbanos e toda a região litorânea do Rio à Bahia. Com as charqueadas consolidou-se o domínio português na região platina.

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