"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Arte


Taj Mahal, em Agra, Índia

A palavra portuguesa “Arte” tem sua origem na palavra latina “Ars”, que possui um muito amplo leque significativo. No entanto, os significados mais comuns da palavra foram aqueles também trazidos para a língua portuguesa e que podem ser o de Fabricação, de Manufatura, de Técnica, de Habilidade ou de Sabedoria. Todas estas palavras são usadas para denotar duas capacidades exclusivamente humanas que nos são bem comuns: a primeira é a de poder criar algo útil e/ou belo que antes não existia; e a segunda é a de deter o conhecimento necessário para reinventar ou reproduzir este algo.  

A partir disto, a Arte ganha duas finalidades básicas bastante claras. Uma dessas finalidades é a que está ligada ao desejo humano de manipular e de construir. Para tanto, o homem se vê em situações em que cria e constrói diversos engenhos, máquinas, utensílios ferramentas, para amenizar o esforço de seu trabalho e acelerar o passo de suas invenções. Esta primeira finalidade da Arte está relacionada com a Técnica ou com a habilidade de fabricar e manipular engenhos, ou melhor, com a utilidade que estes engenhos e conhecimentos diversos possam ter. A finalidade da Arte é, então, satisfazer o desejo humano de construir e dar forma ao mundo. Muitas de nossas ciências, como a física, a química, a medicina, a engenharia, a agronomia etc, se põem a serviço deste primeiro sentido e finalidade de Arte.
A Segunda finalidade de Arte, que está estreitamente ligada à filosofia, diz respeito à tentativa humana de perseguir um Ideal, uma ideia, um conceito, geralmente acerca do que seja o Belo. Este conceito adquire diversas expressões e representações de acordo com a maneira como o artista desejou apresentá-lo aos apreciadores de suas obras. Em última instância, esta segunda finalidade da arte é a de apresentar um ideal de beleza, que existe na mente do artista, por meio da figuração daquilo que jamais fora visto. Isto é, na forma daquilo que é essencialmente novo.
Muitas vezes se diz que a Arte, neste segundo sentido de perseguir e expressar o Belo, possui um fim em si mesma; é muito comum ouvirmos que a Arte não precisa de uma explicação, que ela se basta a si mesmo, que ela nem é útil nem inútil ou mesmo que ela é a sua própria causa. Isto ocorre pelo fato do artista, no ato da criação, querer apresentar aquilo que não possui origem, ou seja, aquilo que nunca existiu, a pura Novidade. Quanto mais novidade ele trouxer para a sua obra, tanto mais original ela será e tanto mais ele se aproximará do ato da verdadeira “criação”, que quer dizer “aquilo que nunca existiu antes e que passa a existir agora.”
No entanto, este ato de Motor primeiro não parece ser da alçada humana, de modo que o artista se vale do privilégio de transitar, também, numa espécie de reino divino, sendo ele o único que pode ter acesso àquilo que nunca muda e que, no entanto, aparece e desaparece no reino dos mortais comuns: estamos falando da Beleza manifesta em sua essência. Para o artista, o Belo é o mundo interpretado pelo olhar que sabe Ver essa essência etérea, esvanecente, isto é, o Belo é aquilo que está presente no mundo, mas que só pode ser visto com os olhos do espírito, tocado apenas pelas asas da paixão, mas que ora ou outra se mostra numa paisagem, num corpo humano, numa cena diária, numa revelação divina etc.
A Arte é contraditória somente quando se tenta defini-la, pois ela tenta figurar aquilo que é eterno e que, no entanto, muda, aquilo que é essência e que, no entanto, se manifesta no espaço e no tempo, aquilo que só pode ser visto com os olhos do espírito e que, no entanto, necessita dos sentidos para ser observada, aquilo que sempre existiu e que, no entanto, é novidade pura. A arte é contraditória quando tenta perseguir e apresentar o Belo em si mesmo, fornecendo um exemplo provisório que é a obra artística física. Vejamos como Fernando Pessoa descreve, poeticamente, o olhar, o trabalho, o objetivo e a essência do artista.

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade no Mundo

As formas de expressão da Arte são tantas quantas forem as ações inventivas que os homens possam realizar ou imaginar. Contudo, as mais conhecidas formas de expressão artísticas habitam o nosso convívio diário, como é o caso da música, da pintura, da escultura, do cinema, do teatro, da poesia, da fotografia e assim por diante. Seja qual for a forma física que o artista utilizou para atingir o seu fim último, para perseguir e representar o Belo, tanto mais terá alcançado este propósito quanto mais satisfação pessoal o seu trabalho proporcionar a si mesmo; principalmente, quanto mais prazer estético ele fornecer àqueles que o percebem.

Fonte: Palavra em Ação.
CD-ROM, Claranto Editora.

0 Response to "Arte"