Equador - Miguel Sousa Tavares
No
começo do século XX, Luis Bernardo Valença, conhecido intelectual português, é
convidado pelo rei d. Carlos a executar uma missão descabida e complicada, que
implicará numa abrupta mudança de sua vida. Solteiro e perto dos quarenta anos,
ele desfruta das regalias que uma cidade grande como Lisboa tem a oferecer.
Aceitar o convite do rei significa abandonar tudo por uma vida nova, na qual,
entretanto, poderia colocar em prática suas convicções políticas: contribuir
para a efetiva abolição da escravatura na África, assumindo o papel de
governador de São Tomé e Príncipe.
Mais
de um século depois de abolida a escravidão em Portugal, ainda sobram dúvidas
se de fato os trabalhadores são empregados e bem tratados. É mesmo difícil
esclarecer o limiar entre o trabalho escravo e o assalariado. Muitas vezes,
sobretudo em pequenas colônias perdidas no meio da África, um homem que tem
contrato assinado pode, mesmo assim, continuar a receber chicotadas de quem não
sabe se deve chamar de “senhor” ou de “patrão”.
Equador, primeiro romance de Miguel Sousa Tavares,
publicado em 2003, trata justamente dessa complexidade política e da
dificuldade de definir na prática aquilo que parece claro nos conceitos e na
teoria. Mais do que isso, este livro fala das paixões humanas e de como elas
interferem nos jogos de poder. Luis Bernardo decide aceitar a missão proposta e
é então jogado em uma realidade completamente alheia. Percebe que só a sua
inteligência não será suficiente para dar conta do que o espera na ilha de São
Tomé e Príncipe onde chegam apenas dois barcos por mês e a população desconhece
os direitos humanos já há muito tempo em voga na Europa.
O
leitor, acompanhando os passos de Luis Bernardo, vai conhecendo o território e
os personagens da ilha por meio das descrições minuciosas do autor; junto do
protagonista, percebe a ambiguidade da sua realidade. E não são apenas questões
políticas que estão envolvidas nesse cenário: quando Luis é tomado por uma
paixão proibida e incontornável, tudo se torna ainda mais confuso e envolvente.
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