Ideologia
Netuno e Anfitrite - Jan Gossaert
De
maneira bastante simplificada, Ideologia pode ser considerado um conjunto
qualquer de ideias sistematizadas e propaladas a todos como reflexo da realidade.
Neste sentido, podemos considerar vários grupos teóricos como produtores de
ideologia. Temos, por exemplo, o grupo dos cientistas, que afirmam um certo
conjunto de ideias sobre os eventos naturais. Eles acreditam que estas ideias
correspondem à realidade sobre o mundo natural. Faz parte da ideologia científica
a noção de que o mundo natural é composto por elementos com propriedades
físico-químicas, que estes elementos se unem para formar a matéria, que podemos
fazer experiências e observar como se dá a dinâmica da matéria em diversas
situações e que os resultados destas experiências, muitas vezes, nos conduzem a
uma afirmação pura e verdadeira sobre o mundo.
Assim
como a ideologia científica, podemos ter, também, as ideologias filosóficas,
teológicas ou religiosas. Uma das ideias mais presentes dentro das ideologias
filosóficas é a da capacidade irrestrita da Razão. Em outras palavras, é a ideia
segundo a qual a Razão é inata ao ser humano e verdadeira em si mesma, isto é,
não necessita de nenhuma justificativa para existir e não é capaz de conduzir o
pensamento na direção do erro ou da falsidade.
Assim,
o uso da Razão dentro da filosofia é apregoado ideologicamente como o
instrumento necessário e universal na busca da verdade. Contudo, não há,
absolutamente, nada na realidade presente que confirme esta afirmação, é por
este motivo que a ideia da necessidade e da universalidade da Razão faz parte
de uma ideologia filosófica, entre outras. Isto quer dizer que esta ideia só
possui confirmação dentro do sistema filosófico do qual é parte integrante.
Mas
o mais interessante quando o ponto são as diversas ideologias é que o contrário
do que foi dito acima também pode ser verdadeiro. Por exemplo, afirmar que não
há nada na realidade presente que confirme a Razão, como instrumento necessário
e universal na busca da verdade, faz parte de outro conjunto sistematizado de ideias.
Este, por sua vez, pode ser conhecido pelo nome de “Irracionalismo” e também
constitui, por si só, uma outra ideologia. O próprio conceito de “Verdade” faz
parte de um tipo de ideologia e assim por diante. Vemos que o mundo é composto
por ideologias que tentam nos convencer acerca do estado presente das coisas,
ou seja, sobre aquilo que conhecemos por ‘realidade’ ou por ‘verdade’.
Outro
exemplo de ideologias são as teológicas, ou seja, aquelas que sistematizam ideias
acerca da existência e atributos de Deus ou de outras divindades. Dentre as
diversas ideologias teológicas temos aquelas que afirmam a existências de um
Deus único, perfeito, onipotente, onipresente etc. Também há aquelas que
afirmam um sistema hierárquico divino, com deuses e deusas, mas, também, há
outras em que simplesmente não há divindades, mas apenas a afirmação de um
plano cósmico universal para tudo o que existe. Todas elas, no entanto, possuem
um sistema ordenado de ideias, postulados, axiomas, dogmas acerca da criação,
do infinito, do eterno e dos destinos humanos.
Dentre
as ideologias religiosas temos as ideologias católicas, evangélicas, budistas,
taoístas, xintoístas, hinduístas etc. Todas elas são compostas por teorias e ideias
acerca da comunicação do homem com as divindades. Por exemplo, temos a ideia da
redenção humana por meio de sacrifícios de sangue, muito presentes nas
ideologias greco-latinas e judaico-cristãs. Temos a ideia de karma, presente no
hinduísmo, segundo a qual os destinos humanos estão selados desde antes de seu
nascimento. Temos, de maneira bastante presente na maioria das religiões, a ideia
de uma vida após a morte, seja esta vida carnal ou espiritual.
Mas
o importante mesmo é lembrar que uma ideologia é, em última instância, uma
produção humana e que, por isto, muitas vezes, está voltada para fins bastante
práticos. Na maioria das vezes as ideologias existem para a defesa de interesses
de grupos políticos, religiosos, econômicos ou sociais que podem estar ou não
no poder. A força das ideologias sobre as massas é tão grande que, muitas vezes,
“estar no poder” significa ser capaz de criar e espalhar bem uma determinada ideologia.
Poder
é controle; se falamos de poder político, religioso ou econômico, então estamos
falando de manipular os ideais políticos, religiosos ou econômicos da maioria
das pessoas (a massa) para este fim de manipulação e controle - tanto melhor
será uma ideologia quanto mais assimilada por todos ela for. Este foi o caso da
ideologia capitalista que, praticamente, “engoliu” o mundo inteiro, fazendo um
pequeno grupo deter o controle econômico e político sobre quase toda a
população do planeta. Percebemos, então, que as ideologias estão aí menos para
educar do que para convencer e controlar.
Fonte:
Palavra em Ação.
CD-ROM,
Claranto Editora.
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