"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Ideologia


Netuno e Anfitrite - Jan Gossaert

De maneira bastante simplificada, Ideologia pode ser considerado um conjunto qualquer de ideias sistematizadas e propaladas a todos como reflexo da realidade. Neste sentido, podemos considerar vários grupos teóricos como produtores de ideologia. Temos, por exemplo, o grupo dos cientistas, que afirmam um certo conjunto de ideias sobre os eventos naturais. Eles acreditam que estas ideias correspondem à realidade sobre o mundo natural. Faz parte da ideologia científica a noção de que o mundo natural é composto por elementos com propriedades físico-químicas, que estes elementos se unem para formar a matéria, que podemos fazer experiências e observar como se dá a dinâmica da matéria em diversas situações e que os resultados destas experiências, muitas vezes, nos conduzem a uma afirmação pura e verdadeira sobre o mundo.  

Assim como a ideologia científica, podemos ter, também, as ideologias filosóficas, teológicas ou religiosas. Uma das ideias mais presentes dentro das ideologias filosóficas é a da capacidade irrestrita da Razão. Em outras palavras, é a ideia segundo a qual a Razão é inata ao ser humano e verdadeira em si mesma, isto é, não necessita de nenhuma justificativa para existir e não é capaz de conduzir o pensamento na direção do erro ou da falsidade.
Assim, o uso da Razão dentro da filosofia é apregoado ideologicamente como o instrumento necessário e universal na busca da verdade. Contudo, não há, absolutamente, nada na realidade presente que confirme esta afirmação, é por este motivo que a ideia da necessidade e da universalidade da Razão faz parte de uma ideologia filosófica, entre outras. Isto quer dizer que esta ideia só possui confirmação dentro do sistema filosófico do qual é parte integrante.
Mas o mais interessante quando o ponto são as diversas ideologias é que o contrário do que foi dito acima também pode ser verdadeiro. Por exemplo, afirmar que não há nada na realidade presente que confirme a Razão, como instrumento necessário e universal na busca da verdade, faz parte de outro conjunto sistematizado de ideias. Este, por sua vez, pode ser conhecido pelo nome de “Irracionalismo” e também constitui, por si só, uma outra ideologia. O próprio conceito de “Verdade” faz parte de um tipo de ideologia e assim por diante. Vemos que o mundo é composto por ideologias que tentam nos convencer acerca do estado presente das coisas, ou seja, sobre aquilo que conhecemos por ‘realidade’ ou por ‘verdade’.
Outro exemplo de ideologias são as teológicas, ou seja, aquelas que sistematizam ideias acerca da existência e atributos de Deus ou de outras divindades. Dentre as diversas ideologias teológicas temos aquelas que afirmam a existências de um Deus único, perfeito, onipotente, onipresente etc. Também há aquelas que afirmam um sistema hierárquico divino, com deuses e deusas, mas, também, há outras em que simplesmente não há divindades, mas apenas a afirmação de um plano cósmico universal para tudo o que existe. Todas elas, no entanto, possuem um sistema ordenado de ideias, postulados, axiomas, dogmas acerca da criação, do infinito, do eterno e dos destinos humanos.
Dentre as ideologias religiosas temos as ideologias católicas, evangélicas, budistas, taoístas, xintoístas, hinduístas etc. Todas elas são compostas por teorias e ideias acerca da comunicação do homem com as divindades. Por exemplo, temos a ideia da redenção humana por meio de sacrifícios de sangue, muito presentes nas ideologias greco-latinas e judaico-cristãs. Temos a ideia de karma, presente no hinduísmo, segundo a qual os destinos humanos estão selados desde antes de seu nascimento. Temos, de maneira bastante presente na maioria das religiões, a ideia de uma vida após a morte, seja esta vida carnal ou espiritual.
Mas o importante mesmo é lembrar que uma ideologia é, em última instância, uma produção humana e que, por isto, muitas vezes, está voltada para fins bastante práticos. Na maioria das vezes as ideologias existem para a defesa de interesses de grupos políticos, religiosos, econômicos ou sociais que podem estar ou não no poder. A força das ideologias sobre as massas é tão grande que, muitas vezes, “estar no poder” significa ser capaz de criar e espalhar bem uma determinada ideologia.
Poder é controle; se falamos de poder político, religioso ou econômico, então estamos falando de manipular os ideais políticos, religiosos ou econômicos da maioria das pessoas (a massa) para este fim de manipulação e controle - tanto melhor será uma ideologia quanto mais assimilada por todos ela for. Este foi o caso da ideologia capitalista que, praticamente, “engoliu” o mundo inteiro, fazendo um pequeno grupo deter o controle econômico e político sobre quase toda a população do planeta. Percebemos, então, que as ideologias estão aí menos para educar do que para convencer e controlar.

Fonte: Palavra em Ação.
CD-ROM, Claranto Editora.

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