Karl Marx (Parte 07/07)
- Depois de Marx, o movimento socialista dividiu-se em
duas correntes principais: de um lado, a democracia social; de outro, o leninismo.
A democracia social, cujo objetivo era encontrar um caminho paulatino e
pacífico para uma ordem social mais justa, prevaleceu na Europa ocidental.
Podemos chamar o caminho por ela percorrido de uma lenta revolução. O
leninismo, por sua vez, que continuou a acreditar que só uma revolução seria
capaz de combater a antiga sociedade de classes, ganhou importância na Europa
oriental, na Ásia e na África. Cada uma dessas ramificações procura lutar a seu
modo contra a penúria e a opressão.
- Mas o resultado disso não acabou sendo uma nova forma
de opressão? Por exemplo, na União Soviética e no Leste europeu?
- Sem dúvida. E aqui temos mais uma vez a prova de que
tudo o que o homem toca se transforma numa mistura de bem e de mal. Seria
totalmente errôneo responsabilizar Marx pelos descaminhos e pelo lado negro dos
chamados países socialistas cinqüenta ou cem anos depois de sua morte. O que
podemos dizer é que ele poderia ter pensado que até mesmo o comunismo, se é que
um dia existiria, não poderia ser administrado senão por pessoas. E as pessoas
cometem erros. Não é possível querer ter o céu na terra. As pessoas sempre
criarão novos problemas.
- Com toda a certeza.
- Bem, acho que podemos ir colocando um ponto final por
aqui, Sofia.
- Espere um pouco! Você não disse alguma coisa parecida
com “só existe justiça entre iguais”?
- Não. Foi Scrooge quem disse isto.
- Como é que você sabe que foi ele quem disse isto?
- Bem, nós dois somos frutos da imaginação do mesmo
autor. Deste modo estamos muito mais ligados um ao outro do que pode parecer à
primeira vista.
- Você e sua ironia incorrigível!
- Ironia em dose dupla, Sofia.
- Mas vamos voltar um pouquinho a esta questão da
injustiça. Você disse que Marx considerava o capitalismo uma sociedade injusta.
Como você definiria uma sociedade justa?
- John Rawls, um filósofo da moral de inspiração
marxista, sugeriu uma interessante situação hipotética para ilustrar este
problema: imagine que você fosse membro de um Alto Conselho, cuja tarefa fosse
elaborar todas as leis de uma sociedade do futuro.
- Eu bem que gostaria de fazer parte deste Conselho.
- Os membros do Conselho teriam de pensar em
absolutamente tudo, pois assim que estivessem de acordo sobre todas as questões
e assinassem as leis, cairiam mortos.
- Deus meu!
- E alguns segundos depois voltariam à vida exatamente na
sociedade cujas leis tinham elaborado. E agora vem o mais importante: nenhum
deles saberia onde acordaria nesta sociedade, quer dizer, ninguém
saberia qual seria a posição que iria ocupar dentro dela.
- Entendo.
- Tal sociedade seria uma sociedade justa, pois cada um
estaria entre seus iguais.
- E cada uma entre suas iguais!
- Claro. Isto porque no jogo proposto por Rawls ninguém
saberia se acordaria homem ou mulher nesta nova sociedade. E como as chances
seriam de cinqüenta por cento para cada probabilidade, a sociedade seria
igualmente atrativa tanto para homens quanto para mulheres.
- Isto me soa muito atraente.
- Agora, diga-me: a Europa era uma sociedade assim nos
tempos de Marx?
- Não!
- Talvez você possa me dar um exemplo de uma sociedade
assim em nossos dias…
- Bem… boa pergunta.
- Pense sobre o assunto. Por ora chega de Marx.
- O que você disse?
- Próximo capítulo!
0 Response to "Karl Marx (Parte 07/07)"
Postar um comentário