Karl Marx (Parte 03/07)
- Antigamente, as pessoas saíam remando para apanhar os
peixes. Hoje em dia eles são apanhados em traineiras gigantescas.
- E com isto você já está passando para a terceira camada
da base de uma sociedade. A coisa aqui se complica um pouco, pois se trata de
quem detém os meios de produção numa sociedade e de como o trabalho é
organizado no interior da sociedade. Trata-se, portanto, das relações de posse
e da divisão de trabalho. Marx chama isto de relações de produção de uma
sociedade. Elas são, portanto, a terceira camada da base social.
- Entendo.
- Até aqui podemos concluir, portanto, que para Marx o modo
de produção numa sociedade determina que relações políticas e ideológicas
podemos encontrar nela. Não é por acaso que hoje em dia pensamos diferente, e
possuímos uma moral diferente, das pessoas que viviam numa sociedade feudal
antiga.
- Quer dizer que Marx não acreditava num direito natural
válido para qualquer época.
- Não. Para Marx, a resposta à pergunta sobre o que é
moralmente correto era um produto da base social. De fato, não é por acaso que
nas antigas comunidades de camponeses os pais determinavam com quem seus filhos
deviam se casar. Afinal, tratava-se também de saber quem herdaria as terras.
Numa grande cidade moderna, as relações sociais são outras; conseqüentemente,
também são outras as formas pelas quais as pessoas buscam seus parceiros.
Podemos conhecer nossos companheiros ou companheiras numa festa, ou então numa
discoteca, e, se nos sentirmos suficientemente apaixonados um pelo outro,
podemos passar a dividir uma casa ou um apartamento.
- Eu não ia gostar nada se meus pais escolhessem meu
futuro marido.
- Não, pois você é fruto de sua época. Marx também
afirmava que em geral era a classe dominante numa sociedade que determinava o
que é certo e o que é errado. Pois, para ele, toda a história era a história
das lutas de classes, ou seja, das discussões sobre a quem deveriam
pertencer os meios de produção.
- Mas os pensamentos e as idéias das pessoas também não
contribuem para as mudanças da história?
- Sim e não. Marx tinha consciência de que as relações na
superestrutura de uma sociedade tinham algum efeito sobre a sua base. Só que
ele negava que a superestrutura tivesse uma história só sua, independente do
resto. Para ele, o que tinha feito a história avançar da sociedade escravocrata
da Antigüidade até a sociedade industrial eram sobretudo as modificações na
base da sociedade.
- Sim, você já disse isso.
- Em todas as fases da história existe, segundo Marx, um
conflito entre duas classes dominantes da sociedade. Na sociedade
escravocrata da Antigüidade havia um conflito entre os cidadãos livres e os
escravos; na sociedade feudal da Idade Média, um conflito entre os
senhores feudais e os vassalos e, mais tarde, entre nobres e plebeus. Mas no
tempo de Marx, numa sociedade burguesa ou, como dissemos, capitalista,
ele via este conflito sobretudo entre capitalistas e trabalhadores, ou entre
capitalistas e o proletariado, quer dizer, entre os que possuíam e os que não
possuíam os meios de produção. E como a classe “que estava por cima” jamais
abriria mão voluntariamente de sua posição de dominância, só uma revolução
seria capaz de provocar uma modificação nesse estado de coisas.
- E a sociedade comunista?
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