"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Karl Marx (Parte 04/07)



- Marx dedicou-se especialmente à questão da transição de uma sociedade capitalista para uma sociedade comunista. Para tanto, ele fez uma análise detalhada do modo de produção capitalista. Só que antes de abordarmos esta questão, vamos falar um pouco sobre o que Marx pensava a respeito do trabalho humano.  

- Vamos lá.
- Antes de se tornar comunista, o jovem Marx interessava-se pelo que realmente acontece com o homem quando ele trabalha. Hegel também analisou este aspecto e constatou uma relação de troca mútua, uma relação “dialética” entre o homem e a natureza. O jovem Marx chegou à mesma conclusão: quando o homem altera a natureza, ele mesmo também se altera. Ou, em outras palavras: quando o homem trabalha, ele interfere na natureza e deixa nela suas marcas; mas neste processo de trabalho também a natureza interfere no homem e deixa marcas em sua consciência.
- Diz-me com que trabalhas e te direi quem és.
- Exatamente. Marx dizia que o modo como trabalhamos marca a nossa consciência, mas a nossa consciência também marca o modo como trabalhamos. Podemos dizer que existe uma interação entre “mão” e “cabeça”. Desta forma, o conhecimento do homem está intimamente relacionado com seu trabalho.
- Então deve ser horrível ficar desempregado.
- Sim. De certa forma, quem não tem um trabalho está solto no ar. Hegel já havia dito isso. Para Hegel e Marx o trabalho é uma coisa positiva; uma coisa que pertence à condição humana.
- Então também deve ser positivo ser um trabalhador.
- Fundamentalmente, sim. Mas é exatamente sobre este ponto que Marx constrói sua crítica avassaladora do modo de produção capitalista.
- Estou curiosa!
- No sistema capitalista, o trabalhador trabalha para outra pessoa. Dessa forma, seu trabalho é algo externo a ele mesmo; em outras palavras, seu trabalho não lhe pertence. O trabalhador se aliena em relação a seu trabalho e, ao mesmo tempo, em relação a si mesmo. Ele perde sua dignidade humana. Usando uma expressão hegeliana, Marx fala de alienação.
- Entendo o que você está dizendo. Eu tenho uma tia que embrulha bombons há mais de vinte anos numa fábrica. Ela diz que odeia ir para o trabalho todos os dias.
- E se ela odeia seu trabalho, Sofia, de alguma forma ela também se odeia.
- De qualquer forma ela odeia bombons.
- Na sociedade capitalista, o trabalho é organizado de modo a que um trabalhador realize um trabalho escravo para outra classe social. Desta forma, o trabalhador “cede” não apenas sua própria força de trabalho, como também toda a sua existência humana.
- Mas é tão ruim assim mesmo?

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