Metafísica
Espelho falso - René Magritte
Quando
alguém nos faz uma pergunta sobre o que seria a Realidade, imediatamente apontamos
para uma série de objetos no mundo que imaginamos serem elementos dessa
Realidade e exemplos convincentes sobre o que acreditamos ser mais fundamental para
compreendê-la. Então dizemos: “Ora, a realidade é tudo o que sinto e percebo, é
a cadeira, a mesa, o professor, a lousa etc”. Mas, se a pessoa que nos faz tal
pergunta é um filósofo Metafísico, é muito provável que ele não se sinta
convencido de que a Realidade possa ser resumida neste tipo de resposta. É bem
provável que este filósofo queira saber mais. Ele irá querer saber o que faz de
cada coisa aquilo que ela é, não pela função ou lugar que ocupam enquanto
objetos materiais, mas pela ideia ou conceito essenciais que podemos obter
deles.
Assim,
Metafísica, em grego, quer dizer, literalmente, “aquilo que está para além da
física”, ou seja, “aquilo que é considerado em si mesmo, em sua essência, independentemente
das contingências do mundo material”. Um dos exemplos mais clássicos de uma
filosofia metafísica é encontrado nas teorias platônicas acerca das Ideias.
Como já vimos anteriormente, Platão acreditava que o mundo percebido pelos
sentidos é um mundo inconstante, corruptível, passageiro, porque está repleto
de cópias dos verdadeiros objetos que se encontram em um mundo supra terreno, o
Mundo Inteligível. Nessa região, que só é alcançada pelo olho da Razão (ou da
Alma), habitavam as Ideias que são os Originais de todos os objetos encontrados
na Terra.
Essas
Ideias (formas) platônicas, por serem essência (aquilo que é por si mesmo, ou
seja, independente de qualquer outra coisa), possuem a característica da
imutabilidade. Jamais se corrompem, mudam de forma ou deixam de ser algo para
se transformar em um outro. Para Platão, alcançar este mundo onde as Ideias
Originais habitavam era estar diante da manifestação máxima da Verdade. Para os
gregos deste período, Verdade possuía um sentido bastante preciso, qual seja:
Aquilo que existe; aquilo que é e não pode deixar de ser; aquilo que está
presente ou aquilo que nos cerca. Por este motivo, Platão acreditava que os objetos
físicos não podiam corresponder a exemplos da Verdade, justamente porque
mudavam de forma com o passar do tempo, eram transitórios, corruptíveis,
limitados, imperfeitos. A única conclusão a que ele poderia chegar era a de que
estes objetos não existiam de fato, que eram uma ilusão enganosa, que não
passavam de simulações daqueles que de fato existiam, que eram perfeitos,
eternos, originais, e que deveriam estar para além do alcance dos nossos
sentidos.
Para
além da física, para além dos nossos sentidos, para além do tempo e do espaço,
para além dos corpos e/ou dos objetos deste mundo. Este é o sentido puro de
Metafísica, um campo filosófico de conhecimento dedicado a sistematizar as ideias
e teorias sobre aquilo que subjaz a matéria, ou seja, sobre aquilo que causa ou
provoca a matéria, mas que não se identifica com ela. Para os filósofos metafísicos,
como era o caso de Platão, as essências causam o mundo físico, ainda que estejam
irremediavelmente separadas dele e de nós, seres humanos. Para estes filósofos,
a única maneira de restabelecer esta ligação com a essência perene das coisas
seria por meio da filosofia que, com seu discurso e método racional de investigação,
poderia mostrar o engano em se prender às aparências do mundo terreno.
Também
podemos identificar a Metafísica, fora do campo da filosofia, na investigação
teológica que tenta encontrar a causa primeira do mundo, sua essência, nas
formas divinas. Neste caso específico, a Metafísica também pode se identificar
com uma explicação de cunho religioso ou, até mesmo, supersticioso. A partir
das teorias mecanicistas e deterministas sobre o mundo, muito da tradição metafísica,
inclusive a teológica e religiosa, começou a ser colocada em segundo plano.
Isto aconteceu porque as explicações baseadas em causas que habitavam um mundo
supra-sensível deixaram de ser convincentes depois de filósofos como Hume e
Kant. Isto é, as causas dos objetos e dos movimentos desses objetos tinham que
ser encontradas neles mesmos, e não em algo que estava para além deles.
A
metafísica se divide em dois momentos cronológicos na história da filosofia. No
primeiro, se buscava o Ente, o Ser, a essência das coisas, nas suas
possibilidades incorpóreas, de maneira independente da existência humana.
Assim, neste primeiro momento ou sentido da Metafísica, as coisas e suas
possibilidades de existência independem da vontade humana de conhecê-las. No
exemplo tirado da filosofia de Platão, o Mundo Inteligível existiria
independentemente do desejo humano de conhecê-lo ou de negá-lo. Já no segundo
momento ou sentido metafísico, o sujeito do conhecimento se põe entre o objeto
do conhecimento e sua essência. Isto é, a essência das coisas irá depender da
capacidade cognitiva humana, ou seja, de uma habilidade do conhecimento. No
primeiro caso, a Verdade independe de nossos gostos, desejos ou, mesmo, de
nossa existência. Já no segundo caso, esta Verdade Essencial não tem razão de
ser sem que haja alguém que a procure, que se interesse por ela, e que realize
o movimento mental de descobri-la/inventá-la.
Fonte:
Palavra em Ação.
CD-ROM,
Claranto Editora.
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