Linguagem e metalinguagem
Para conseguir seu propósito, a
lógica distingue dois níveis de linguagem:
1. linguagem natural,
isto é, aquela que usamos em nossa vida cotidiana, nas artes, na política, na
filosofia;
2. linguagem formal, isto
é, aquela que é construída segundo princípios e regras determinados que
descrevem um tipo específico de objeto, o objeto das ciências.
Essa distinção também pode ser
apresentada como diferença entre dois tipos de linguagem simbólicas:
1. a linguagem simbólica
cultural (a linguagem “natural”), que usa signos, metáforas, analogias,
esquemas para exprimir significações cotidianas, religiosas, artísticas,
políticas, filosóficas. A principal característica desse simbolismo é ser conotativo,
isto é, os símbolos carregam muitos sentidos e referem-se a muitas
significações. A linguagem cultural é polissêmica, isto é, nela as palavras
possuem inúmeros significados;
2. a linguagem simbólica
lógico-científica (a linguagem “construída”), que usa um sistema fechado de
signos ou símbolos (o algoritmo), em que cada símbolo é símbolo de uma única
coisa e corresponde a uma única significação. Sua principal característica é
ser essencialmente um simbolismo denotativo ou indicativo, evitando a
polissemia e afirmando a univocidade do sentido simbolizado. Por exemplo: H2O,
+, x, =, , , etc. são símbolos denotativos ou indicativos de um só
objeto ou de um só sentido; são algoritmos.
A lógica ocupa-se com a
linguagem formal ou com a linguagem simbólico-científica. Por ser um discurso
ou uma linguagem que fala de outro discurso ou de outra linguagem, se diz que
ela é uma metalinguagem.
Na vida cotidiana, podemos
dizer, por exemplo, uma frase como: “O Sol é uma estrela”. A lógica começará
dizendo: “A frase ‘O Sol é uma estrela’ é uma proposição afirmativa”.
Prosseguirá dizendo: “A proposição ‘A frase O Sol é uma estrela é uma
proposição afirmativa’ é uma proposição verdadeira”. E assim por diante.
A ideia da lógica como
metalinguagem transparece com clareza quando examinamos, por exemplo, as teses
principais do austríaco Ludwig Wittgenstein, cuja influência seria sentida por
toda a lógica do século passado:
1. qualquer proposição que tenha
significado é composta por proposições elementares, nas quais se encontra a
verdade ou falsidade da proposição com significado;
2. as proposições elementares
adquirem significado porque afiguram (retratam) o mundo não como fatos e
coisas, mas como “estado de coisas”;
3. as proposições da lógica são
verdadeiras independentemente das noções de “significado” e de “estado de
coisas”, porque, rigorosamente, não falam de nada, pois referem-se a qualquer
fato, significado ou estado de coisas que possam ocorrer ou não no Universo. As
proposições lógicas são verdades vazias, referidas apenas ao próprio uso
das convenções lógicas.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
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