A Amizade (Parte 01/07)
Certa manhã esbarrou Celestino com outro solitário passeante e, ao cruzar com ele e, como de hábito, sorrir-lhe, viu naquela cara o reflexo do seu próprio sorriso, um saudar de compreensão. E, volvendo a cabeça, logo depois de se cruzarem, viu que também o desconhecido a tinha voltada, e tornaram a sorrir um para o outro. Devia de ser um semelhante. Todo aquele dia Celestino o passou mais alegre que de costume, cheio do calor que lhe deixou na alma eco de sua singeleza que o mundo, porque um rosto humano, lhe devolvera.
Na manhã seguinte, defrontaram-se outra vez no momento em que um pardal, com muito ruído, foi pousar num salgueiro próximo. Apontou-o Celestino ao outro, e disse, a rir:
- Que passarinho!.... É um pardal.
- É mesmo, é um pardal – o outro respondeu, rindo também.
E, mutuamente excitados, riram-se a mais não poder: primeiro, do pássaro que lhes fazia coro chilreando, depois, de estarem rindo. E assim ficaram amigos os dois tolos, ao ar livre e sob o céu de Deus (Miguel de Unamuno – 1999).
Você tem amigos?
É possível viver sem ter amigos?
O que é a amizade?
No conto O Semelhante, Miguel de Unamuno apresenta Celestino, o personagem principal, como uma daquelas pessoas que, por serem portadores de deficiência mental, são marginalizadas e maltratadas na comunidade onde vivem. E os rótulos de maluco, tolo entre outros servem de autorização ao sadismo de adultos e até, infelizmente, de crianças.
Texto produzido por Djaci Pereira Leal para a Secretaria de Estado da Educação do Paraná.
1 de junho de 2011 às 20:25
AFF ¬¬ professora trouxe nos pra Midioteca para vermos esse texto. muito enteresante *-*