Bioética (Parte 06/08)
ENTRE DOIS MUNDOS
Sabemos por meio da mídia que o Brasil está na vanguarda das pesquisas do tratamento contra o câncer, e que nos últimos anos temos desenvolvido tecnologia de ponta que derrubou muitos mitos sobre a doença cujo até mesmo o nome era temeroso pronunciar. (VALLADRES e BERGAMO, maio. 2005) Por outro lado, a mesma imprensa veiculou que a população brasileira tem acesso precário ao tratamento contra esta doença (SOARES, outubro. 2005). Apenas para efeito de comparação, ainda que isto seja complexo, devemos considerar que a despeito de todos os problemas relativos a distribuição de renda, guerras, e pobreza generalizada e escassez de recursos, bem como a falta de acesso e produção de tecnologias que assola o continente africano, o Brasil tem padrões bastante semelhantes aos dos africanos em relação ao tratamento de câncer em geral.
(...) como operário, índio, escravo africano ou explorado asiático do mundo colonial; como corporalidade feminina, raça-não-branca, gerações futuras que sofrerão em sua corporalidade a destruição ecológica; como velhos sem destino na sociedade de consumo, crianças de rua abandonadas, imigrantes estrangeiros refugiados, etc (...) ( DUSSEL, 2000, p. 213)
O modo de produção e exploração capitalista consome os recursos naturais de forma indiscriminada. Se não bastasse, os produtos desta exploração estão ao alcance apenas de algumas elites que possuem recursos para manter o acesso a tais produtos.
Tal é o preço que a sociedade paga para dar as belas damas da burguesia o prazer de usar rendas – e não é barato? Somente alguns milhares de operários cegos, algumas filhas de proletários tísicas e uma geração raquítica daquela população transmitirá as suas enfermidades aos filhos e netos. E que importa? Nada, absolutamente nada. A nossa burguesia (...) continuará a ornamentar com rendas as suas esposas e filhas. Que bela coisa, a serenidade de alma de um burguês Inglês? ( ENGELS, 1985 p. 278 ss )
Denotamos a exploração do trabalho humano e da natureza em geral, as indústrias que causaram e causam a destruição da camada de ozônio, hoje ganham dinheiro com protetores solar. Os textos do início da produção industrial, das primeiras décadas do século XIX na Inglaterra, nos mostram que, longe de serem resolvidos os problemas se agravam a medida que o sistema capitalista se desenvolve. Vejamos com Engels, (1985), como esta situação é recorrente na história.
Nas minas de carvão da Cornualha [Inglaterra] trabalham, quer nas galerias subterrâneas, quer na superfície, cerca de 19.000 homens e 11.000 mulheres e crianças(...) nas minas de carvão e de ferro, onde o método de exploração é mais ou menos o mesmo, trabalham crianças de 4, 5 e 7 anos. A maioria tem no entanto mais de 8 anos. Empregavam-nas no transporte do minério do local de extração à galeria dos cavalos ou até o poço principal ou então abrir ou fechar as portas rolantes que separam os diferentes compartimentos da mina, antes e depois da passagem dos operários e do material. Habitualmente, são os menores que estão encarregados de guardar essas portas; têm de ficar sentados 12 horas por dia na obscuridade, sós num corredor estrito e na maior parte dos casos, úmido, sem ter o trabalho suficiente que justifique esse aborrecimento embrutecedor criado inação total. (...) Verifica-se muito freqüentemente que as crianças mau chegam em casa se atiram para o soalho em frente ao fogo e adormecem instantaneamente, não podendo engolir a menor migalha de comida, (...) é mesmo freqüente que eles se deitem exaustos no meio do caminho para casa e a noite, quando os pais vão procurá-los, são encontrados dormindo. Parece que essas crianças passam geralmente a maior parte domingo na cama para se recompor um pouco do cansaço da semana; um número muito pequeno freqüenta a igreja e a escola (...) Essas pessoas vivem no campo e em regiões abandonadas e desde que realizem o seu duro trabalho, ninguém a não ser a polícia se ocupa deles. Por essa razão, e também por que mandam as crianças desde a mais tenra idade, a sua formação intelectual é totalmente negligenciada. (...) Só existe, portanto, um pequeno número de mineiros que sabem ler, e menos ainda que sabem escrever. (ENGELS, 1985, p. 273 – 282)
Um robô coloca moléculas de DNA em placas de vidro que, submetidas à ação de raios ultravioletas, produzem reação química capaz de distinguir os genes das células sadias das doentes. Instrumentos identificam mutações genéticas nas células, equipamentos que fazem seqüênciamento do DNA em larga escala. Considerações tecnológicas que configuram um cenário típico de primeiro mundo, parte da rotina dos pesquisadores dos institutos de pesquisa brasileiro de tecnologias biomoleculares e celulares, que são reconhecidos internacionalmente.
Os pesquisadores do Projeto Genoma Humano do Câncer superam em termos de resultados os laboratórios das grandes potências mundiais, como os EUA, Inglaterra, Alemanha, Suiça entre outras. Nossos laboratórios conseguiram em menos de um ano identificar mais de um milhão de seqüências de genes de tumores comuns no Brasil. Contudo, se este ambiente é criado nos laboratórios brasileiros, uma avaliação estatística demonstra que há um precipício crescente entre o conhecimento científico e o tratamento destes doentes no Brasil. Dados fornecidos pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) apontam que ao passo que na Europa e nos EUA um paciente de câncer de intestino vive em média vinte meses após o período crítico da doença, no Brasil a sobrevida é de apenas doze meses.
De acordo com o (INCA) Instituto Nacional de Câncer, a sobrevida nos países desenvolvidos, após cinco anos de tratamento é de 74% dos pacientes nos casos de câncer de mama, enquanto no Brasil e nos países em desenvolvimento é no máximo de 51%. Nos casos do câncer de pulmão, a sobrevida nos países desenvolvidos é de 21% e nos países subdesenvolvidos é de 10%. Diante da situação apresentada, e para dar continuidade a discussão sobre o acesso aos benefícios da ciência, devemos nos perguntar por que o acesso às tecnologias de ponta não chegam às camadas populares da sociedade numa realidade em que o Brasil possui tecnologia avançada.
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