"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

A Amizade (Parte 05/07)



O Determinante da Amizade

Havendo então três motivos pelos quais as pessoas amam, a palavra “amizade” não se aplica ao amor às coisas inanimadas, já que neste caso não há reciprocidade de afeição, e também não haverá o desejo pelo bem de um objeto [...] mas em relação a um amigo dizemos que devemos desejar-lhe o que é bom por sua causa. Entretanto, àqueles que desejam o bem desta maneira atribuímos apenas boas intenções se o desejo não é correspondido; quando há reciprocidade, a boa intenção é a amizade. (ARISTÓTELES, 2001, p. 155)

A amizade, segundo Aristóteles, pressupõe reciprocidade. É um sentimento específico para os nossos semelhantes, pois precisamos que nosso sentimento seja correspondido. É por isso que muitos comentadores de Aristóteles e estudiosos do pensamento grego afirmam que a amizade para os gregos é o “(...) que torna, entre si, semelhantes e iguais”. (VERNANT,1973)
Então, segundo Aristóteles, “(...) para que as pessoas sejam amigas deve-se constatar que elas têm boa vontade recíproca e se desejam bem reciprocamente”. (ARISTÓTELES, 2001, p. 155)

Os amigos cuja afeição é baseada no interesse não amam um ao outro por si mesmos, e sim por causa de algum proveito que obtêm um do outro. O mesmo raciocínio se aplica àqueles que se amam por causa do prazer; não é por seu caráter que gostamos das pessoas espirituosas, mas porque as achamos agradáveis. Logo, as pessoas que amam as outras por interesses amam por causa do que é bom para si mesmas, e aquelas que amam por causa do prazer amam por causa do que lhes é agradável, e não porque a outra pessoa é a pessoa que ama, mas porque ela é útil ou agradável. (ARISTÓTELES, 2001p. 155)

Há espécies de amizade em que predomina a busca pelo útil ou agradável, algo passageiro, segundo Aristóteles, pois é uma característica do ser, que Aristóteles chama de acidente, por se tratar de características que não são permanentes, pois a utilidade está sempre em mudança, pelo fato de ser o resultado de algum bem ou prazer.

Este tipo de amizade, segundo Aristóteles, parece existir principalmente entre as pessoas idosas (nesta idade as pessoas buscam não o agradável, mas o útil) e, em relação às pessoas que estão em plenitude ou aos jovens, entre aqueles que buscam o proveito. Entre estas amizades se incluem os laços de família e de hospitalidade. (ARISTÓTELES, 2001, p. 155-156)

Aristóteles afirma que entre os jovens o motivo da amizade é o prazer, por viverem sob a influência das emoções e buscarem o que lhes é agradável, porém o prazer muda com a idade. Aristóteles faz uma observação minuciosa das fases da vida e de como as emoções e o prazer são diferentes em cada uma delas. Não está, contudo afirmando ou declarando que não seja possível outro tipo de amizade nestas fases da vida, mas demonstrando o que lhes é mais comum.

A amizade perfeita é a existente entre as pessoas boas e semelhantes em termo de excelência moral; neste caso, cada uma das pessoas quer bem à outra de maneira idêntica, porque a outra pessoa é boa, e elas são boas em si mesmas. Então as pessoas que querem bem aos seus amigos por causa deles são amigas no sentido mais amplo, pois querem bem por causa da própria natureza dos amigos, e não por acidente; logo, sua amizade durará enquanto estas pessoas forem boas, e ser bom é uma coisa duradoura. (ARISTÓTELES, 2001, p. 156)

Aristóteles apresenta em que consiste uma amizade perfeita. A amizade perfeita acontecerá entre pessoas boas e semelhantes em relação à virtude, ou seja, as que fazem a escolha adequada de suas ações e emoções e que querem o bem aos amigos por causa deles mesmos, da própria natureza dos amigos e não por ser agradável ou útil. Toda amizade é baseada no bem ou no prazer. Portanto, a baseada no bem só poderá ocorrer entre pessoas boas.
Quando se fala em bem, considera-se a ética, pois pressupõe que o homem age sempre em busca de ser feliz e que conseguirá isto se buscar o bem, pois o seu contrário lhe acarretará a infelicidade. As pessoas boas são aquelas que possuem uma vida orientada pela busca do agir ético, visam o equilíbrio em suas ações e emoções.

Então, quando a amizade é por prazer ou por interesse mesmo duas pessoas más podem ser amigas, ou então uma pessoa boa e outra má, ou uma pessoa que não é nem boa nem má pode ser amiga de outra qualquer espécie; mas pelo que são em si mesmas é óbvio que somente pessoas boas podem ser amigas. Na verdade, pessoas más não gostam uma da outra a não ser que obtenham algum proveito recíproco. (ARISTÓTELES, 2001, p. 157)

Aristóteles fala da amizade que se dá pelo prazer ou interesse e a que se dá pelo que as pessoas são em si mesmas. Considera que a que se dá por prazer ou interesse poderá existir entre as pessoas más. Mas a amizade perfeita só poderá ocorrer entre as pessoas boas e semelhantes pelo fato de que amam a pessoa em si mesma.
Você já deve ter ouvido muito o ditado popular: “Diga-me com quem andas e te direi quem és”. Esse ditado popular é muito usado quando nos orientam a respeito de nossas amizades, de nossas companhias. Ele traduz o que nos ensina Aristóteles a respeito da amizade. Pois, podemos estar andando com pessoas más sem percebermos que o que em nós as atrai não é o que somos, mas o que lhes oferecemos, ou temos a oferecer. É por isso que há tantas decepções nas relações amistosas.

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