A Amizade (Parte 07/07)
Charles Darwin (1809-1882)
O Homem: Animal e Racional
Na ética, Aristóteles, preocupa-se em orientar o agir em função da razão, pois por viver em sociedade e em relação a outros homens, desenvolve-se por meio da razão a cultura, ou seja, o modo de viver que é pautado pela racionalidade.
A partir do que apresenta Aristóteles sobre a amizade e, obviamente, como componente ético do agir humano, é possível elencar a seguinte questão: O homem é resultado daquilo que a natureza e a biologia fizeram dele ou, é um produto do meio social e cultural?
Para ajudar na busca de solução a esta questão, tendo como foco a importância que Aristóteles dedica a amizade, e a necessidade de o homem desenvolver determinados hábitos para viver em sociedade e, portanto, poder contribuir com o bem-estar; apresenta-se a discussão do biólogo Charles Darwin, que trata o homem enquanto ser biológico, ou seja, animal. O estudo que Charles Darwin realiza tem como foco o desenvolvimento da vida ao longo do tempo no planeta. Nesta busca, Darwin parte da tese de que as diferentes espécies de vida existentes no planeta evoluem.
Mas ao considerar a evolução da vida e, portanto, das espécies trata o homem também como um ser que sofre os mesmos processos na busca de preservar a vida e a espécie. Esta abordagem considera o homem em sua animalidade. É claro que ao fazer isso, Darwin não quer negar o desenvolvimento da cultura e a influência da mesma para a vida humana.
Em um dos capítulos de sua obra A origem das Espécies, de 1859, Darwin trata da luta pela existência, onde discorre sobre como no meio animal as diversas espécies agem em busca de garantir sua existência. Darwin denomina luta por entender que há um conflito de interesses entre as diversas espécies que habitam o meio e que procuram em função do meio garantir a existência.
Tudo o que podemos fazer é ter sempre em mente a idéia de que todos os seres vivos pelejam por aumentar em proporção geométrica, e que cada qual, pelo menos em algum período de sua vida, ou durante alguma estação do ano, seja permanentemente, ou então de tempos em tempos, tem de lutar por sua sobrevivência e está sujeito a sofrer considerável destruição. Quando refletimos sobre essa luta vital, podemos consolar-nos com a plena convicção de que a guerra que se trava na natureza não é incessante, nem produz pânico; que a morte geralmente sobrevém de maneira imediata e que os mais resistentes, os mais fortes, os mais saudáveis e os mais felizes conseguem sobreviver e multiplicar-se. (DARWIN, 1994, p. 87)
Darwin apresenta uma conclusão a partir da série de observações que fez da natureza. O que é bastante claro é o fato de que no reino natural ocorre constantemente a luta pela sobrevivência, e isto é visível, sobretudo quando se observa a intervenção do homem no meio.
Destaca-se o fato de que, para Darwin, o homem é um animal e que por mais vantagens que tenha sobre todos os demais e sobre o meio em que vive também ele é movido por suas características animais, que interferem em sua vida cotidiana.
As características animais do ser humano estarão sujeitas ou não a sua racionalidade. Portanto, quando se estuda em Aristóteles que o homem é um animal racional, constata-se que a vantagem do homem sobre os demais animais se dá pelo uso que faz da razão. A abordagem do tema amizade se torna desafiadora ao observar que o mesmo homem que, segundo Aristóteles, por meio do desenvolvimento de sua razão tem o domínio de suas emoções, sentimentos e ações, e também movidos por sua animalidade, onde predomina seus impulsos, desejos e instintos.
Para a sustentação de um pensamento ético possível, pautado na racionalidade como quer Aristóteles é possível ignorar o outro lado deste mesmo ser, ou seja, sua animalidade? Pensa-se que não, pois tais preocupações deram origem a outras ciências que buscam estudar e entender como se dá o equilíbrio entre o que há em cada ser humano: o animal e o racional.
Por isso, é bom lembrar que o próprio homem é um ser em evolução, como afirma Darwin, mas, sobretudo a ser descoberto como se pode constatar com o desenvolvimento de outras ciências que o têm como seu objeto principal de estudo e pesquisa.
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