"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Tróia


A Ilíada, um dos épicos de Homero, narra a guerra que causou a destruição da Tróia lendária. A Tróia histórica constitui um dos mais ricos e extensos sítios arqueológicos do mundo antigo. Tróia é uma cidade proto-histórica, atualmente identificada com uma das nove cidades superpostas descobertas na colina Hissarlik, na Turquia. Foi erguida por colonos gregos, por volta do ano 700 a.C., no estreito de Dardanelos, no extremo noroeste da Anatólia, um local que já havia sido ocupado por sucessivas populações pré-helênicas. A lenda do conflito entre aqueus e troianos pela posse da cidade forneceu o argumento da Ilíada e obras posteriores. Entre 1870 e 1890, Heinrich Schliemann identificou o local da antiga Tróia na colina de Hissarlik, e ali descobriu sete cidades superpostas, destruídas por guerras ou catástrofes. Wilhelm Dörpfeld, que o auxiliava desde 1882, prosseguiu as escavações e identificou restos de mais duas cidades. Os estudos que o americano Carl William Blegen realizou entre 1932 e 1938 confirmaram a existência das nove cidades. Tróia I, o estrato mais antigo, data de 3000 a 2600 a.C., primeira fase do bronze antigo. É um pequeno recinto fortificado com menos de cinqüenta metros na parte mais larga. Tróia II, ainda bem pequena e fortificada, tinha cem metros de extensão máxima. Seria mais um castelo simples, porém rico, destruído pelo fogo por volta de 2300 a.C. Nesse estrato descobriu-se jóias e objetos preciosos que Schliemann, acreditando que se tratava da Tróia homérica, denominou tesouro de Príamo. Tróia III, IV e V foram cidades de importância local que existiram no período de 2300 a 1900 a.C., quando terminou o bronze antigo. Tróia VI, bem mais importante e rica, surgiu pouco antes de 1725 a.C. e foi destruída por um terremoto em aproximadamente 1275 a.C. De suas ruínas ergueu-se Tróia VII-a, a verdadeira Tróia épica, destruída por volta de 1200 a.C. Tróia VIII é da época clássica da Grécia e Tróia IX pertence ao período helenístico-romano, quando Alexandre nela fez um sacrifício dedicado a Aquiles, de quem julgava descendente. No século IV d.C., desapareceram completamente os vestígios históricos da cidade. Páris, filho do rei Príamo de Tróia, raptara Helena, esposa de Menelau, rei de Esparta e famosa por sua beleza. Para se vingar, Menelau formou um poderoso exército comandado por Agamenon e no qual se destacaram Aquiles e Ulisses. O cerco de Tróia, de dez anos, foi marcado por feitos heróicos de ambos os lados, até que, sob inspiração de Ulisses, os gregos construíram um gigantesco cavalo de madeira e o abandonaram perto das portas de Tróia, fingindo uma retirada. Apesar dos presságios de Cassandra, os troianos levaram para dentro da cidade o cavalo, que trazia em seu interior os guerreiros de Ulisses. Abertas as portas, os gregos saquearam e destruíram Tróia. O herói troiano Enéias, filho de Vênus, escapou com alguns partidários e, depois de muitas aventuras, se instalou no Lácio. Os descendentes desse grupo deram origem ao povo romano. É quase certo que a lenda tenha um núcleo de verdade, mas é impossível provar-lhe a historicidade. Uma interpretação de documentos hititas, feita em 1957, favoreceu a hipótese de que os aqueus fossem um povo pré-helênico originário da Europa. Na época de Tróia VI, os aqueus, a partir da região, teriam se espalhado pelo Egeu e formado colônias de micenianos, de onde mais tarde saíram conquistadores de Tróia VII-a. As freqüentes migrações de povos nessa época, no entanto, não permitem comprovar a hipótese.

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