Platão e Aristóteles: a preocupação com o conhecimento
Sócrates fez a Filosofia
preocupar-se com nossa possibilidade de conhecer e indagar quais as causas das
ilusões, dos erros e da mentira. No esforço para definir as formas de conhecer
e as diferenças entre o conhecimento verdadeiro e a ilusão, Platão e
Aristóteles introduziram na Filosofia a ideia de que existem diferentes
maneiras de conhecer ou graus de conhecimento e que esses graus se distinguem
pela ausência ou presença do verdadeiro, pela ausência ou presença do falso.
Platão distingue quatro formas
ou graus de conhecimento, que vão do grau inferior ao superior: crença,
opinião, raciocínio e intuição intelectual. Para ele, os dois primeiros graus
devem ser afastados da Filosofia – são conhecimentos ilusórios ou das aparências,
como os dos prisioneiros da caverna – e somente os dois últimos devem ser
considerados válidos. O raciocínio treina e exercita nosso pensamento,
preparando-o para uma purificação intelectual que lhe permitirá alcançar uma
intuição das idéias ou das essências que formam a realidade ou que constituem o
Ser.
Para Platão, o primeiro exemplo
do conhecimento puramente intelectual e perfeito encontra-se na matemática,
cujas idéias nada devem aos órgãos dos sentidos e não se reduzem a meras
opiniões subjetivas. O conhecimento matemático seria a melhor preparação do
pensamento para chegar à intuição intelectual das idéias verdadeiras, que
constituem a verdadeira realidade.
Platão diferencia e separa
radicalmente duas formas de conhecimento: o conhecimento sensível (crença e
opinião) e o conhecimento intelectual (raciocínio e intuição) afirmando que
somente o segundo alcança o Ser e a verdade. O conhecimento sensível alcança a
mera aparência das coisas, o conhecimento intelectual alcança a essência das
coisas, as idéias.
Aristóteles distingue sete
formas ou graus de conhecimento: sensação, percepção, imaginação, memória,
raciocínio e intuição. Para ele, ao contrário de Platão, nosso conhecimento vai
sendo formado e enriquecido por acumulação das informações trazidas por todos
os graus, de modo que, em lugar de uma ruptura entre o conhecimento sensível e
o intelectual, Aristóteles estabelece uma continuidade entre eles.
A separação se dá entre os seis
primeiros graus e o último, ou a intuição, que é puramente intelectual ou um
ato do pensamento puro. Essa separação, porém, não significa que os outros
graus ofereçam conhecimentos ilusórios ou falsos e sim que oferecem tipos de
conhecimentos diferentes, que vão de um grau menor a um grau maior de verdade.
Em cada um deles temos acesso a
um aspecto do Ser ou da realidade e, na intuição intelectual, temos o
conhecimento pleno e total da realidade ou dos princípios da realidade plena e
total, aquilo que Aristóteles chamava de “o Ser enquanto Ser”.
A diferença entre os seis primeiros
graus e o último decorre da diferença do objeto do conhecimento, isto é, os
seis primeiros graus conhecem objetos que se oferecem a nós na sensação, na
imaginação, no raciocínio, enquanto o sétimo lida com um objeto que só pode ser
alcançado pelo pensamento puro.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
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