"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Conhecimento



O Conhecimento é encarado, pela maioria das pessoas, como um acúmulo de informações diversas que se pode ter sobre assuntos variados. Criou-se um raciocínio do tipo: quanto mais informação se puder acumular, por exemplo sobre futebol, então mais sobre este esporte em particular se conhece. Mas notamos que o conceito de conhecimento pode ser um pouco mais complexo que isso. Por vezes achamos que o conhecimento não precisa depender tanto assim de uma enorme lista de informações, mas do uso que eu possa fazer destas informações no mundo prático. Então, vejamos: posso saber recitar o nome inteiro de todos os jogadores (titulares e reservas) da primeira seleção de futebol da Arábia Saudita. Contudo ninguém nunca me pediu para fazê-lo, de modo que não sei muito bem o que fazer com esta informação. Neste caso, a informação existe, mas como sua utilidade é um tanto duvidosa, há apenas parte do conhecimento.  

O que é o conhecimento então? O campo filosófico que tenta responder esta pergunta chama-se Teoria do Conhecimento; este já forneceu várias respostas muito bem elaboradas durante toda a sua história, que remonta aos antigos gregos. Para Platão, como já tivemos a oportunidade de estudar, o conhecimento verdadeiro era se aproximar dos universais, isto é, das Idéias (os conceitos) perenes, imutáveis, perfeitos e necessários. Para Aristóteles, conhecimento era a manifestação da própria consciência, que se encontra em pensamentos e que se identifica como Ser em ato e em potência (como sujeito e como objeto do conhecimento). Para Heráclito, o conhecimento era a consciência do movimento contínuo e eterno do cosmos, o qual se reflete nos movimentos particulares de todas as coisas.
Platão e Aristóteles refletem duas vertentes diferentes sobre o conhecimento e que se manifestaram, com certas variações, repetidamente em muitos outros pensadores posteriores a eles. Platão vê o conhecimento como algo a ser buscado e adquirido, como objetos supra-sensíveis que existem de maneira independente dos seres humanos e cujas qualidades existem neles mesmos. Estes objetos não pertencem a este mundo, mas a um outro mais perfeito, mais real, mais permanente, que seria idêntico àquilo que se entenderia por Verdade no sentido mais puro possível.
Já Aristóteles não dissocia o conhecimento da vida fenomenal, do ato de buscar o conhecimento que é, também, o ato de conhecer. Para Aristóteles, o mundo é uma manifestação do conhecimento e este pode ser desvendado pelo ato da interação dinâmica com este mundo, transformando potência em ato. Ao contrário de Platão, o conhecimento para Aristóteles não existe em si mesmo, mas somente com a intervenção do sujeito do conhecimento que realiza o ato de conhecer por meio de suas diversas possibilidades.
O conhecimento ainda pode ser considerado uma união de diversas capacidades humanas interligadas e voltadas para um determinado fim, que pode ser prático ou teórico. Nesse sentido, encontramos os órgãos dos sentidos, a percepção sensorial, recebendo ou captando informações do meio circundante; a memória acumulando as informações que são recebidas pela percepção; o entendimento trabalhando com as possibilidades de combinação entre estas informações e, por fim, a atividade motora coordenando os músculos, os ossos e os tendões no sentido da ação. Supervisionando cada um destes momentos está a consciência, atenta a cada situação, para interferir oportunamente sobre eles. Unidas, estas habilidades projetam o ser humano por meio dos tempos na direção da interação e na produção do conhecimento.
Então o conhecimento em parte se constrói e, em parte, é alcançado. De uma forma ou de outra, o conhecimento é uma disposição do espírito humano, que tenta apreender o Real. É a ação mental, cultural, religiosa, social ou filosófica de explicar aquilo que nos cerca, de manter uma teoria sobre a existência, sobre o mundo e sobre como agir nele. A Teoria do conhecimento fabrica alguns parâmetros para se chegar a um acordo sobre quando, como e por que conhecemos. Basicamente, a Teoria do conhecimento, que é a atitude filosófica sobre ele, descreve as possibilidades filosóficas do verdadeiro conhecimento.
Se tomarmos um exemplo de possibilidade de verdadeiro conhecimento, teremos, no caso do Realismo, que identificar o objeto do conhecimento com a teoria sobre ele, de maneira que, comparando-se o pensado com aquilo de que se pensa (em outras palavras, a realidade com a teoria sobre ela) e verificando a semelhança entre um e outro, então tanto melhor será o conhecimento quanto mais semelhante àquilo que se quer conhecer ele for. Mas temos, também, o exemplo do Empirismo, cujo único critério para o verdadeiro conhecimento é, tão somente, o bom uso das experiências que se pode realizar sobre o mundo. Além do realismo e do empirismo, há a corrente racionalista. Esta vislumbra apenas as possibilidades lógicas como método de análise das afirmações sobre o mundo. No racionalismo, a lógica é o único critério confiável para se poder dizer se há ou não conhecimento verdadeiro sobre um determinado assunto.
O conhecimento sempre manterá uma ligação com a idéia de verdade e isto independe da escola filosófica que discursa sobre ele. A verdade é, assim, o objetivo final de qualquer investigação sobre o mundo e, para entender o que seja o conhecimento, teremos que levar em conta o ideal de Verdade ao qual a Teoria acerca do conhecimento faz referência. Se a Verdade for tudo aquilo sobre o que o Sujeito for capaz de pensar, então o conhecimento será o seu próprio pensamento. Se a Verdade for uma Essência, uma Idéia, então o conhecimento será a obtenção dela. Se a Verdade for a intervenção humana no mundo, então o conhecimento será qualquer ação que se puder executar sobre ele. Se a Verdade for um ato de Fé, então o conhecimento será tudo aquilo em que se puder acreditar. Se a Verdade for somente um produto do discurso, então o conhecimento será o simples ato de convencer alguém sobre a sua existência.

Fonte: Palavra em Ação.
CD-ROM, Claranto Editora.

0 Response to "Conhecimento"