Conhecimento
O
Conhecimento é encarado, pela maioria das pessoas, como um acúmulo de
informações diversas que se pode ter sobre assuntos variados. Criou-se um raciocínio
do tipo: quanto mais informação se puder acumular, por exemplo sobre futebol,
então mais sobre este esporte em particular se conhece. Mas notamos que o
conceito de conhecimento pode ser um pouco mais complexo que isso. Por vezes
achamos que o conhecimento não precisa depender tanto assim de uma enorme lista
de informações, mas do uso que eu possa fazer destas informações no mundo
prático. Então, vejamos: posso saber recitar o nome inteiro de todos os
jogadores (titulares e reservas) da primeira seleção de futebol da Arábia
Saudita. Contudo ninguém nunca me pediu para fazê-lo, de modo que não sei muito
bem o que fazer com esta informação. Neste caso, a informação existe, mas como
sua utilidade é um tanto duvidosa, há apenas parte do conhecimento.
O que
é o conhecimento então? O campo filosófico que tenta responder esta pergunta
chama-se Teoria do Conhecimento; este já forneceu várias respostas muito bem
elaboradas durante toda a sua história, que remonta aos antigos gregos. Para
Platão, como já tivemos a oportunidade de estudar, o conhecimento verdadeiro
era se aproximar dos universais, isto é, das Idéias (os conceitos) perenes,
imutáveis, perfeitos e necessários. Para Aristóteles, conhecimento era a
manifestação da própria consciência, que se encontra em pensamentos e que se
identifica como Ser em ato e em potência (como sujeito e como objeto do
conhecimento). Para Heráclito, o conhecimento era a consciência do movimento
contínuo e eterno do cosmos, o qual se reflete nos movimentos particulares de todas
as coisas.
Platão
e Aristóteles refletem duas vertentes diferentes sobre o conhecimento e que se
manifestaram, com certas variações, repetidamente em muitos outros pensadores
posteriores a eles. Platão vê o conhecimento como algo a ser buscado e adquirido,
como objetos supra-sensíveis que existem de maneira independente dos seres
humanos e cujas qualidades existem neles mesmos. Estes objetos não pertencem a
este mundo, mas a um outro mais perfeito, mais real, mais permanente, que seria
idêntico àquilo que se entenderia por Verdade no sentido mais puro possível.
Já
Aristóteles não dissocia o conhecimento da vida fenomenal, do ato de buscar o
conhecimento que é, também, o ato de conhecer. Para Aristóteles, o mundo é uma
manifestação do conhecimento e este pode ser desvendado pelo ato da interação
dinâmica com este mundo, transformando potência em ato. Ao contrário de Platão,
o conhecimento para Aristóteles não existe em si mesmo, mas somente com a
intervenção do sujeito do conhecimento que realiza o ato de conhecer por meio
de suas diversas possibilidades.
O
conhecimento ainda pode ser considerado uma união de diversas capacidades
humanas interligadas e voltadas para um determinado fim, que pode ser prático
ou teórico. Nesse sentido, encontramos os órgãos dos sentidos, a percepção
sensorial, recebendo ou captando informações do meio circundante; a memória
acumulando as informações que são recebidas pela percepção; o entendimento
trabalhando com as possibilidades de combinação entre estas informações e, por fim,
a atividade motora coordenando os músculos, os ossos e os tendões no sentido da
ação. Supervisionando cada um destes momentos está a consciência, atenta a cada
situação, para interferir oportunamente sobre eles. Unidas, estas habilidades
projetam o ser humano por meio dos tempos na direção da interação e na produção
do conhecimento.
Então
o conhecimento em parte se constrói e, em parte, é alcançado. De uma forma ou
de outra, o conhecimento é uma disposição do espírito humano, que tenta
apreender o Real. É a ação mental, cultural, religiosa, social ou filosófica de
explicar aquilo que nos cerca, de manter uma teoria sobre a existência, sobre o
mundo e sobre como agir nele. A Teoria do conhecimento fabrica alguns
parâmetros para se chegar a um acordo sobre quando, como e por que conhecemos.
Basicamente, a Teoria do conhecimento, que é a atitude filosófica sobre ele,
descreve as possibilidades filosóficas do verdadeiro conhecimento.
Se
tomarmos um exemplo de possibilidade de verdadeiro conhecimento, teremos, no
caso do Realismo, que identificar o objeto do conhecimento com a teoria sobre
ele, de maneira que, comparando-se o pensado com aquilo de que se pensa (em
outras palavras, a realidade com a teoria sobre ela) e verificando a semelhança
entre um e outro, então tanto melhor será o conhecimento quanto mais semelhante
àquilo que se quer conhecer ele for. Mas temos, também, o exemplo do Empirismo,
cujo único critério para o verdadeiro conhecimento é, tão somente, o bom uso
das experiências que se pode realizar sobre o mundo. Além do realismo e do
empirismo, há a corrente racionalista. Esta vislumbra apenas as possibilidades
lógicas como método de análise das afirmações sobre o mundo. No racionalismo, a
lógica é o único critério confiável para se poder dizer se há ou não
conhecimento verdadeiro sobre um determinado assunto.
O
conhecimento sempre manterá uma ligação com a idéia de verdade e isto independe
da escola filosófica que discursa sobre ele. A verdade é, assim, o objetivo
final de qualquer investigação sobre o mundo e, para entender o que seja o
conhecimento, teremos que levar em conta o ideal de Verdade ao qual a Teoria
acerca do conhecimento faz referência. Se a Verdade for tudo aquilo sobre o que
o Sujeito for capaz de pensar, então o conhecimento será o seu próprio
pensamento. Se a Verdade for uma Essência, uma Idéia, então o conhecimento será
a obtenção dela. Se a Verdade for a intervenção humana no mundo, então o
conhecimento será qualquer ação que se puder executar sobre ele. Se a Verdade
for um ato de Fé, então o conhecimento será tudo aquilo em que se puder
acreditar. Se a Verdade for somente um produto do discurso, então o
conhecimento será o simples ato de convencer alguém sobre a sua existência.
Fonte:
Palavra em Ação.
CD-ROM,
Claranto Editora.
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