"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Darwin (Parte 04/11)



— Um fator decisivo na teoria de Lyell era a idade da Terra. Em muitos círculos de estudiosos na época de Darwin era corrente a suposição de que Deus teria criado a Terra havia cerca de seis mil anos. E as pessoas tinham chegado a este número contando todas as gerações desde Adão e Eva até o presente.
— Que coisa mais ingênua!
— Bem, é muito fácil ser mais inteligente depois. Darwin estimou a idade da Terra em trezentos milhões de anos. Isto porque uma coisa era certa: nem a teoria de Lyell sobre a evolução geológica gradual, nem a teoria da evolução do próprio Darwin faziam sentido, se não fossem consideradas à luz de intervalos de tempo extremamente dilatados.   

— E qual é a idade da Terra?
— Sabemos hoje que a Terra tem alguns bilhões de anos.
— Isso é bastante…
— Até agora nós nos concentramos em um dos argumentos propostos por Darwin para a evolução biológica: os depósitos estratificados de fósseis em diferentes formações rochosas. Outro argumento era a distribuição geográfica das espécies vivas. Nesse sentido, a viagem de pesquisa de Darwin proporcionou-lhe um material novo e extremamente rico. Ele havia visto com seus próprios olhos que as diferentes espécies de animais de uma região distinguiam-se umas das outras por detalhes mínimos. Foi nas ilhas Galápagos, a oeste do Equador, que ele fez algumas observações muito interessantes.
— Conte!
— As ilhas Galápagos são um grupo de ilhas vulcânicas bem próximas umas das outras. Não havia, portanto, grandes diferenças na flora e na fauna. Mas Darwin estava interessado justamente nas pequenas diferenças. Em todas as ilhas ele encontrou tartarugas gigantes, mas de ilha para ilha elas eram um pouco diferentes. Será que Deus realmente tinha criado uma espécie de tartaruga gigante para cada uma daquelas ilhas?
— Muito pouco provável.
— Mais importante ainda foi o que Darwin observou nos pássaros das ilhas Galápagos. As espécies de tentilhões variavam de ilha para ilha, o que podia ser observado nas formas dos bicos desses pássaros. Darwin conseguiu demonstrar que essas diferenças estavam intimamente relacionadas com o modo como os tentilhões se alimentavam nas diferentes ilhas. Alguns deles viviam de comer sementes de pinhas; outros se alimentavam de insetos do chão; outros ainda viviam de comer insetos dos troncos e galhos de árvores… Cada uma dessas espécies tinha um bico que se adaptava perfeitamente ao seu tipo de alimento. Não seria possível que todos esses tentilhões tivessem descendido de uma mesma e única espécie de tentilhão? E será que esta espécie de tentilhão, ao longo dos anos, não tinha se adaptado ao meio ambiente das diferentes ilhas de tal modo que, no final, haviam surgido novas espécies de tentilhões?
— Esta foi a conclusão a que ele chegou mais tarde, não foi?
— Sim. É bem provável que Darwin só tenha se tornado um “darwinista” nas ilhas Galápagos. Ele observou também que a fauna deste pequeno arquipélago tinha grandes semelhanças com muitas espécies de animais que ele tinha visto na América do Sul. Será que Deus realmente tinha criado esses animais para todo o sempre com pequenas diferenças, ou será que os próprios animais tinham se modificado ao longo do tempo? Cada vez mais Darwin duvidava de que as espécies eram imutáveis. Só que ainda lhe faltava uma explicação convincente para o modo como se processava esta evolução, ou esta adaptação ao meio ambiente. O que ele tinha era um argumento para a suposição de que todos os animais da Terra eram parentes.
— Que argumento?
— A evolução dos embriões dos mamíferos. Se você comparar os embriões de um cachorro, de um morcego, de um coelho e de um homem em seus primeiros estágios, você quase não perceberá diferença entre eles. Só numa fase posterior do desenvolvimento do embrião é que se pode distinguir entre o embrião de um homem e o de um coelho. Isto não seria indicativo de que somos parentes distantes dos coelhos?
— Mas ele continuava sem explicar como se processava a evolução para as diferentes espécies…

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