"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Darwin (Parte 05/11)



— A toda hora Darwin pensava na teoria de Lyell sobre as minúsculas alterações capazes de provocar grandes transformações ao longo do tempo. Só que ele não conseguia encontrar uma explicação que pudesse valer como princípio universal. É claro que ele conhecia a teoria de Lamarck, segundo a qual as diferentes espécies de animais tinham desenvolvido exatamente aquilo de que precisavam. As girafas, por exemplo, teriam um pescoço tão comprido porque, ao longo das gerações, tiveram que esticá-lo cada vez mais para apanhar as folhas das árvores. Lamarck acreditava também que as características adquiridas pelo indivíduo por meio de seu próprio esforço eram herdadas depois por seus descendentes. Mas a teoria da “hereditariedade de características adquiridas” era rejeitada por Darwin, pois Lamarck não havia conseguido provar suas afirmações. Foi então que Darwin começou a pensar em outra coisa, muito mais próxima e evidente. Podemos dizer que o verdadeiro mecanismo da evolução das espécies estava bem diante do seu nariz.  

— Estou curiosa.
— Só que você mesma vai descobrir que mecanismo é este. Responda-me a seguinte pergunta: se você possui três vacas, mas só tem comida para alimentar duas, o que você faz?
— Humm… posso abater a terceira, talvez?
— Exatamente… E qual delas você abateria?
— Certamente aquela que dá menos leite.
— Você acha isso mesmo?
— Sim, é uma coisa lógica.
— Pois isso é exatamente o que os homens vêm fazendo há milênios. Mas ainda não terminamos nossa reflexão sobre as duas vacas que sobraram. Vamos supor que você queira que uma delas se reproduza. Qual você escolheria para cruzar?
— Aquela que dá mais leite. É que sua cria provavelmente também seria uma boa vaca leiteira.
— Quer dizer que você prefere as vacas que dão mais leite às que dão menos leite, não é? Pois bem, só precisamos de mais uma pergunta. Se você gosta de caçar e tem dois cães farejadores, mas precisa dar um deles, qual dos dois você manteria em casa?
— Naturalmente aquele que tem o melhor faro para o tipo de caça que eu quero.
— Ou seja, você preferiria o melhor cão farejador. E é assim, Sofia, que os homens vêm criando animais domésticos há mais de dez mil anos. Nem sempre as galinhas botaram cinco ovos por semana, as ovelhas nem sempre tiveram tanta lã e os cavalos nem sempre foram tão fortes e tão rápidos. Só que os homens fizeram uma seleção artificial. O mesmo vale para a flora. Por que semear batatas estragadas, se podemos conseguir tanchões sadios? Ninguém quer se dar ao trabalho de colher espigas sem grãos. Darwin explica que não há duas vacas, duas espigas, dois cães nem dois tentilhões que sejam iguais. A natureza apresenta uma vasta gama de variações. Mesmo dentro de uma única espécie não há dois indivíduos rigorosamente iguais. E você já deve ter percebido isto quando bebeu o líquido azul.
— Sim, é verdade!
— Em vista disso, Darwin não pôde deixar de se perguntar se na natureza não haveria um mecanismo correspondente. Seria possível que também a natureza fizesse uma seleção, neste caso “natural”, dos indivíduos que pudessem se desenvolver? E ainda: este mecanismo não poderia, ao longo do tempo, provocar o surgimento de novas espécies de plantas e animais?
— Aposto que a resposta é sim.
— Darwin ainda não tinha conseguido entender muito bem qual seria tal seleção “natural”. Mas em outubro de 1838, exatamente dois anos depois de ter retornado com o Beagle, caiu-lhe às mãos casualmente um pequeno livro de Thomas Malthus, especialista em estudos populacionais. O livro se chamava Ensaio sobre o princípio de população. Malthus buscara inspiração para escrever este livro no americano Benjamin Franklin, que entre outras coisas inventou também o pára-raios. Franklin chamava a atenção para o fato de que na natureza devia haver fatores de limitação, pois se assim não fosse uma única espécie de planta ou de animal teria se espalhado por toda a Terra. E era o simples fato de haver diferentes espécies que as mantinha em equilíbrio.
— Entendo.

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