Darwin (Parte 07/11)
— Sim, pois o homem
possui a fantástica capacidade de se adaptar às mais diversas condições de
vida. Darwin ficou admirado quando viu como os índios conseguiam sobreviver ao
clima frio da Terra do Fogo. Se as pessoas que vivem no Equador têm a pele mais
escura do que os habitantes dos países nórdicos, isto se deve ao fato de que a
pele escura funciona como um protetor solar. As pessoas muito brancas que se
expõem demais ao Sol têm probabilidades muito maiores de desenvolver câncer de
pele.
— A pele branca
também tem alguma vantagem para os que vivem nos países nórdicos?
— É claro que sim.
Se não fosse assim, todo mundo teria pele escura. O tipo de pele branca tem
mais facilidade para produzir vitaminas em contato com a luz do Sol; e isto é
importante nos lugares em que o Sol não aparece com tanta freqüência. Hoje em
dia isto não é mais tão importante, pois podemos suprir nossas necessidades de
vitaminas por meio da ingestão de certos alimentos. Mas na natureza não existe
nada por acaso. Tudo se deve a pequenas modificações, cujos efeitos se fazem
sentir por várias gerações.
— De fato é uma
coisa fantástica.
— Não é mesmo? Bem,
acho que podemos resumir a teoria da evolução de Darwin…
— Vamos lá!
— …com as seguintes
palavras: as constantes variações
entre indivíduos de uma mesma espécie e as elevadas taxas de nascimento constituem a matéria-prima para a evolução da
vida na Terra. A seleção natural na
luta pela sobrevivência é o mecanismo, a força propulsora que está por trás
desta evolução. A seleção natural é responsável pela sobrevivência dos mais
fortes, ou dos que melhor se adaptam ao seu meio.
— Para mim isto é
tão lógico quanto um problema de matemática. Como foi recebido o livro sobre a
origem das espécies?
— O livro provocou
um estardalhaço. A Igreja protestou veementemente e a ciência na Inglaterra se
dividiu. Na verdade, isto já era de se esperar, pois Darwin sempre tinha
contestado o fato de se atribuir a Deus o ato da criação. Alguns poucos
fanáticos, porém, chegaram a afirmar que seria um feito ainda maior criar algo
que já trouxesse dentro de si a possibilidade latente de evoluir, em vez de
criar para todo o sempre alguma coisa preestabelecida em todos os seus
detalhes.
De repente Sofia
deu um pulo da poltrona.
— Olhe, ali! —
gritou.
E apontou para fora
da janela. Lá embaixo, um homem e uma mulher passeavam de mãos dadas às margens
do lago. Eles estavam completamente nus.
— São Adão e Eva —
disse Alberto. — Eles não têm outra saída senão aceitar o destino que os coloca
junto com Chapeuzinho Vermelho e Alice no País das Maravilhas. Por isso é que
eles apareceram por aqui.
Sofia foi até à
janela e acompanhou com os olhos o casal, até que os dois desapareceram no meio
das árvores.
— Isto porque
Darwin também acreditava que os homens descendiam dos animais, não era?
— Em 1871, ele
publicou um livro intitulado The descent
of man, ou “A ascendência do homem”. Nele, Darwin aponta as enormes
semelhanças entre os homens e os animais e explica que os homens e os macacos
antropóides haviam tido os mesmos ancestrais. Nesse meio tempo haviam sido
encontrados os primeiros fósseis de cérebros de tipos humanos extintos,
primeiro numa pedreira no rochedo de Gibraltar e alguns anos mais tarde em
Neandertal, na Renânia. Curiosamente, houve bem menos protestos em 1871 do que
em 1859, quando da publicação de Sobre a
origem das espécies. Mas o primeiro livro já tinha indicado que o homem
descendia dos macacos. E, como já disse, quando Darwin faleceu em 1882, ele foi
solenemente sepultado como um pioneiro da ciência.
— Quer dizer que no
fim da vida ele conseguiu fama e reconhecimento?
— Sim, bem no fim.
Primeiro, porém, ele foi considerado o homem mais perigoso de toda a
Inglaterra.
— Deus meu!
— Diz-se que uma
senhora da aristocracia teria dito o seguinte: “Vamos esperar que nada disso
seja verdade. Mas se for, vamos esperar que ela não se espalhe por toda a
parte”. Um cientista famoso disse algo parecido: “Uma descoberta humilhante,
quanto menos se falar dela, melhor”.
— Dizendo isto eles
estavam provando que o homem é mesmo parente das toupeiras!
— Você tem toda
razão. Mas, como já disse, é fácil ser mais inteligente depois. De uma hora para a outra, muitos se sentiram obrigados a
rever suas concepções sobre a gênese do mundo e do homem descrita na Bíblia. O
jovem autor John Ruskin expressou-se assim: “Ah, se estes geólogos me deixassem
em paz! Ao final de cada verso da Bíblia ouço o bater de seus martelos!”.
— E o bater dos
martelos eram as dúvidas quanto às palavras de Deus?
— Foi isto que ele
quis dizer. Pois não só a compreensão literal da gênese descrita na Bíblia
tinha ido por terra. A teoria de Darwin também dizia que variações fundamentalmente
casuais teriam produzido o homem. E
mais ainda: Darwin transformara o homem no produto de uma fria “luta pela
sobrevivência”.
— Darwin disse
alguma coisa sobre como surgem estas variações casuais?
— Você tocou agora
no ponto mais fraco de sua teoria. Darwin tinha apenas noções muito vagas sobre
a hereditariedade. Para ele, alguma coisa acontece no cruzamento, pois um casal
nunca gera dois filhos iguais. Só isto já representa certa variação. Por outro
lado, é difícil produzir algo realmente novo. Além disso, existem plantas que
se reproduzem por gemação e animais que se reproduzem por simples divisão
celular. A questão de saber como surgem as variações só foi devidamente
incorporada à teoria de Darwin pelo chamado neodarwinismo.
— Conte!
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