Darwin (Parte 08/11)
— Basicamente, toda
a vida e toda a reprodução giram em torno da divisão celular. Quando uma célula
se divide, o resultado são duas células iguais com o mesmo material genético.
Por divisão celular entende-se, portanto, o fato de uma célula copiar-se a si
mesma.
— E então?
— Acontece que às
vezes ocorrem alguns pequenos erros neste processo. E o resultado é que a
célula copiada não é exatamente igual à célula-mãe. A biologia moderna chama
isto de mutação. Tais mutações podem
ser totalmente irrelevantes, mas também podem levar a visíveis modificações nas
características do indivíduo. Elas podem ser diretamente nocivas e, neste caso,
os indivíduos “mutantes” serão continuamente eliminados da enorme prole de
descendentes. Muitas doenças também são causadas basicamente por uma mutação.
Mas pode acontecer de uma mutação transmitir ao indivíduo exatamente aquela
característica positiva de que ele precisa para se sair melhor na luta pela
sobrevivência.
— Um pescoço mais
comprido, por exemplo?
— A explicação de
Lamarck para o pescoço comprido da girafa era a de que as girafas sempre
tiveram de esticá-lo para alcançar as folhas do alto das árvores. Para o
darwinismo, porém, as características adquiridas não são transmitidas aos
descendentes. Darwin considerava o pescoço comprido das girafas uma variação
natural dos pescoços dos ancestrais desses animais. O neodarwinismo complementa
esta idéia com a referência a uma nítida causa
para o aparecimento de tais variações.
— Ou seja, as
mutações.
— Sim. Algumas
variações absolutamente casuais no material hereditário teriam determinado em
alguns ancestrais das girafas um pescoço mais comprido do que a média. Nos
períodos de escassez de alimentos, isto podia ser uma característica
fundamental: quem conseguisse alcançar as folhas do alto das árvores saía-se
melhor. Podemos até imaginar que algumas dessas girafas “primitivas” tenham
desenvolvido a capacidade de cavoucar o solo para conseguir alimento. E assim,
no decorrer de um longo espaço de tempo, uma espécie já extinta acabou se
dividindo em duas espécies diferentes.
— Entendo.
— Vamos citar
alguns exemplos mais recentes de como funciona a seleção natural. O princípio
não é complicado.
— Vamos lá!
— Existe na
Inglaterra determinada espécie de mariposa que vive nos troncos acinzentados
das bétulas. Se voltarmos ao século XVIII, veremos que naquela época a maioria
dos exemplares dessa espécie de mariposa era de cor acinzentada. Por que será,
Sofia?
— Para que não
fossem facilmente descobertos por pássaros famintos.
— De vez em quando,
porém, nasciam alguns exemplares de cor escura, graças a mutações puramente
casuais. E o que você acha que acontecia com estes exemplares mais escuros?
— Eles podiam ser
identificados com maior facilidade e se transformavam em presas fáceis para os
pássaros famintos.
— Pois neste meio
ambiente, ou seja, nos troncos de cor clara das bétulas, a cor escura era uma
característica que colocava o indivíduo em desvantagem em relação aos outros.
Por esta razão, eram sempre as mariposas claras que se multiplicavam. Acontece,
porém, que o meio se modificou. Como conseqüência da industrialização, em
muitas regiões os troncos das bétulas, antes claros, escureceram. E o que você
acha que aconteceu com as mariposas?
— As escuras é que
passaram a levar a melhor.
— Isso mesmo. E não
demorou muito até que começaram a se multiplicar. Entre 1848 e 1948 o número de
exemplares escuros dessa espécie de mariposa cresceu cerca de 99% em algumas
regiões. O meio ambiente havia se alterado e a cor clara ficou em desvantagem
em relação à escura na luta pela sobrevivência. Antes tinha sido o contrário.
Os indivíduos claros eram agora os “perdedores” e eram imediatamente eliminados
pelos pássaros, pois se destacavam dos outros nos troncos escuros. Só que de
novo ocorreu uma importante alteração. Nos últimos anos, à medida que a
indústria passou a usar menos carvão e se aperfeiçoaram os sistemas de
filtragem das chaminés, o meio ambiente conseguiu se recuperar sensivelmente.
— E os troncos das
bétulas voltaram a ser acinzentados?
— Sim, e por isso
as mariposas também voltaram a ter sua cor clara. Chamamos isto de adaptação. E estamos falando, neste
caso, de uma lei natural.
— Entendo.
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