Darwin (Parte 06/11)
— Malthus
desenvolveu esta idéia e a aplicou à situação populacional da Terra. Ele dizia
que a capacidade de procriação do homem é tão grande que o número de
nascimentos é sempre muito superior ao número de crianças que chegam a crescer.
E como a produção de alimentos nunca consegue acompanhar o crescimento
populacional, um grande número de pessoas está condenado a perecer na luta pela
sobrevivência. Quem consegue sobreviver, e pode assim assegurar o sustento de
sua família, está entre aqueles que melhor se saíram na luta pela
sobrevivência.
— Isto parece
lógico.
— E era exatamente
este o mecanismo universal que Darwin vinha procurando. De repente, ele achou
uma explicação para o modo como a evolução se processa. E a responsável por
isso tudo é a seleção natural na luta
pela vida: quem melhor se adapta ao meio ambiente sobrevive e pode garantir a continuidade
de sua espécie. Esta era a segunda teoria que ele publicou em seu livro Sobre a origem das espécies. Ele
escreve: “O elefante se reproduz mais lentamente que os demais animais e eu me
dei ao trabalho de calcular o número mínimo provável de sua procriação natural.
Podemos supor com certa margem de segurança que a fase reprodutora do elefante
começa aos trinta anos e vai até os noventa. Podemos supor, ainda, que durante
este período ele consegue gerar seis filhotes e que vive até os cem anos. Neste
caso, após setecentos e quarenta ou setecentos e cinqüenta anos haveria cerca
de dezenove milhões de descendentes de um único par”.
— Isto para não
falarmos das milhares de ovas de um único bacalhau.
— Darwin também
explicou que a luta pela sobrevivência entre as espécies mais próximas
geralmente é a mais acirrada. É que elas precisam lutar pelo mesmo alimento. E
nessa hora são as pequenas diferenças, ou seja, os pequenos desvios positivos
da média, que mais contam. Quanto mais acirrada a luta pela sobrevivência, mais
rápida a evolução de novas espécies. E nesse contexto sobrevivem apenas os que
melhor se adaptaram; todos os outros perecem.
— Quer dizer que
quanto menos alimento e quanto mais crescimento tanto mais rápida é a evolução?
— Mas a questão não
é só de alimento. Outro dado importante é a capacidade de escapar das garras de
outros animais. Por exemplo, pode ser muito vantajoso ter uma cor de pele que
funciona como camuflagem, poder correr rapidamente, pressentir a presença de
predadores ou, pelo menos, ter um sabor repelente. Um veneno capaz de matar os
predadores também pode ser importante. Não é por acaso que muitos cactos são
venenosos, Sofia. É que quase nada além dos cactos é capaz de crescer nos
desertos. Por esta razão, estas plantas estão particularmente expostas a
predadores vegetarianos.
— Além disso,
muitas espécies de cactos possuem espinhos.
— Outra coisa de
fundamental importância é, naturalmente, a capacidade de reprodução. Darwin
dedicou-se intensamente ao estudo da polinização das plantas. As flores exibem
suas lindas cores e exalam doces perfumes a fim de atrair insetos que ajudam na
polinização. Pelo mesmo motivo, os pássaros gorjeiam seus lindos trinados. Um
boi plácido e melancólico, que não se interessa por vacas, é totalmente irrelevante
para a história de sua raça. Afinal, a única tarefa deste indivíduo é atingir a
maturidade sexual e procriar, a fim de dar continuidade à raça. É como uma
grande corrida de revezamento. Aquele que, por alguma razão, não consegue
passar o que herdou será sempre colocado de lado. Desta forma, a raça está em
constante processo de aperfeiçoamento. A resistência a doenças é, sobretudo, a
característica preservada nas variantes que sobrevivem.
— Quer dizer que
tudo sempre se modifica para melhor?
— A constante
seleção cuida para que os que melhor se adaptaram a certo meio ambiente, ou a
certo nicho ecológico, continuem sobrevivendo neste meio ambiente. Mas o que
pode ser uma característica positiva em determinado meio talvez não tenha
qualquer valia em outro. Para alguns tentilhões das ilhas Galápagos, sua
capacidade de voar era muito importante. Só que não é muito importante saber
voar quando se tem de arrancar o alimento do solo e não há predadores. E
justamente porque na natureza existem tantos nichos diferentes é que tantas
espécies de animais se desenvolveram ao longo dos tempos.
— Mas só há uma
espécie humana.
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