Lógica
A
Lógica é, em filosofia ou em qualquer outro campo do conhecimento humano que
tem por base o discurso racional, o instrumento máximo de estruturação,
articulação e expressão do pensamento. Enquanto estruturadora do pensamento, a
Lógica classifica os conceitos e as idéias por meio de uma hierarquia criada de
modo a compreender os efeitos e a abrangência que esses conceitos e idéias
possam ter entre si. Podemos encontrar dentro da lógica termos como hipóteses,
argumentos, teoremas, axiomas, proposições, enunciados, premissas, conclusões
etc. Cada um desses nomes marca uma “posição” na qual a ideia poderá ser
colocada de maneira provisória ou permanente.
Na
medida em que se cria uma classificação, uma ordenação das idéias, então a
lógica pode começar a trabalhar com elas. Em geral, ela possui regras precisas
para que os conceitos mudem de posição dentro daquilo que se passou a chamar
raciocínio lógico. Por exemplo, partindo-se de uma hipótese, que é um enunciado
sem compromisso com a Verdade, pode-se efetuar algumas operações lógicas,
previamente elaboradas, e obter uma conclusão que é uma afirmação que falsifica
ou verifica aquele enunciado que antes era uma mera hipótese. Assim, por meio
de uma articulação lógico-racional do pensamento, podemos obter diversos
enunciados que possam ou não estabelecer, por meio de demonstrações, um
compromisso com a Verdade.
Uma
vez organizada uma série qualquer de idéias, classificando-as segundo os tipos
e categorias em que podem se enquadrar, e uma vez efetuada as operações que
permitem obter sentenças (verdadeiras ou falsas) a respeito dessas idéias, só
então podemos partir para uma tentativa de expressar estas sentenças de modo
claro e compreensível. Tanto mais claras e compreensíveis serão transmitidas
estas sentenças quanto menos dúvidas elas gerarem a respeito daquilo que
significam, a respeito daquilo que expressam os seus conteúdos. Tentando
alcançar um ideal de clareza e precisão, os lógicos criaram uma linguagem
própria, com símbolos próprios, para, assim, evitar as falhas comuns de
comunicação da linguagem ordinária.
Disto
tudo podemos concluir que a Lógica não trata diretamente do mundo e de seus
objetos considerados em si mesmos. Mas somente dos pensamentos que podemos ter
a respeito do mundo e de seus objetos. No entanto, a Lógica não encara os
pensamentos como o faz, por exemplo, a psicologia: como um conteúdo mental
presente e subjetivo a cada sujeito. A lógica encara os pensamentos como
possibilidades formais e instrumentais do conhecimento. Em outras palavras, a
lógica vê os pensamentos como ferramentas capazes de desvendar alguns segredos
sobre as capacidades humanas de conhecer os próprios pensamentos acerca do
mundo racional. Neste sentido, a lógica é reflexiva, ou seja, um ato mental que
estuda as possibilidades formais da própria lógica.
Mas
não podemos dizer que a Lógica é a encarregada de estabelecer os limites do
conhecimento humano. Ainda que sua função se aproxime muito da de uma teoria do
conhecimento, ela apenas estabelece os limites para o pensar teórico (para a
pura articulação entre os conceitos), e para o pensar prático (para o
estabelecimento de critérios e convenções a respeito de classificações e
comunicações dos pensamentos). Já uma teoria do conhecimento pode ir muito
além. Uma teoria do conhecimento pode manejar idéias sem necessariamente
encará-las, apenas, como meras formas ou instrumentos da Razão, mas, também,
como Entes e Fenômenos, que são categorias metafísicas. A Lógica não chega a
este ponto.
A
Lógica também não pode ser confundida com nenhum tipo de ciência natural. Ainda
que se preste, em alguns momentos, como importante ferramenta científica, ela
não trata dos eventos naturais. Ela apenas regula as diversas maneiras
possíveis de elaborar teorias compreensíveis, racionais e conclusivas a
respeito desses eventos. Por exemplo, a Lógica não é capaz de explicar o que é
a chuva, ela não se presta a esse fim. A Lógica contribui para a compreensão
deste fenômeno meteorológico, conhecido pelo nome de chuva, apenas impondo aos
cientistas fronteiras, limites de como raciocinar a respeito dele e,
posteriormente, permitir uma explicação em termos convencionados por estes
cientistas. Para simplificar, podemos dizer que a Lógica não permite conhecer a
chuva, permite apenas conhecer o discurso sobre a chuva.
Além
da ciência, a Lógica também alcança a nossa vida diária e não raro escutamos
alguém falar “É lógico que isto, ou é lógico que aquilo outro.” Neste sentido
corriqueiro e não filosófico da palavra, observamos que está sendo realizada
uma tentativa de convencimento do interlocutor acerca da obviedade de uma dada
situação. Neste caso, podemos facilmente substituir a palavra “lógico” pela
palavra “óbvio”, sem maiores prejuízos para a informação. Mas não podemos
substituir a palavra “óbvio” por “lógico” na mesma medida. A palavra
“lógica” possui um significado muito mais rico que “óbvio”.
É
importante notar, no entanto, que o uso da palavra “lógico” no lugar de “óbvio”
se dá, principalmente, pela aparente força de persuasão que a primeira aparenta
ter mais que a segunda. Notamos, portanto, a relação intrínseca que a Lógica,
no sentido estrito, almeja ter com a ideia de Verdade e que contamina, por
assim dizer, o sentido lato ou vulgar da palavra.
Fonte:
Palavra em Ação.
CD-ROM,
Claranto Editora.
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