Darwin (Parte 10/11)
— De onde veio esta
primeira “célula original”? Será que Darwin tem uma resposta para isto?
— Já disse que
Darwin era um homem muito cauteloso. Nesse ponto, porém, ele se permite
especular um pouco. E escreve:
[…] se (e como é
imenso este “se”!) pudermos imaginar um pequeno tanque aquecido, dentro do qual
existam todo o tipo de sais de amônia e de fósforo, luz, calor, eletricidade
etc. e se imaginarmos que lá dentro uma reação química dá origem a uma proteína
que, por sua vez, é capaz de sofrer alterações mais complexas […]
— Sim, e daí?
— Darwin estava
“filosofando” aqui sobre a possibilidade de a primeira célula viva ter surgido
a partir de matéria inorgânica. E mais uma vez ele acerta na mosca. É que a
ciência de hoje parte da premissa de que a primeira forma de vida surgiu mesmo
num “tanque aquecido”, exatamente como Darwin imaginou um dia.
— Prossiga!
— Um esquema será
suficiente. E não se esqueça de que estamos deixando Darwin para trás e
saltando para as mais recentes pesquisas sobre a origem da vida no mundo.
— É isto que me
deixa nervosa: será que ninguém sabe
como a vida surgiu?
— Provavelmente
não. A cada dia, porém, fragmentos vêm se juntar para formar uma imagem de como
a vida poderia ter surgido.
— Continue!
— Primeiro, é
preciso dizer que toda a vida na Terra, tanto plantas quanto animais, é
constituída exatamente pelas mesmas substâncias. A definição mais simples de
vida é aquela segundo a qual tudo o que vive possui um metabolismo e pode se
reproduzir de forma autônoma. Nesse sentido, todas as formas de vida são
governadas por uma substância que chamamos de DNA, ou ácido
desoxirribonucléico. É dele que se constituem os cromossomos, ou o material
genético encontrado em todas as células vivas. O DNA é uma molécula, ou
macromolécula, como também é chamado, extremamente complexa. E a pergunta aqui
seria a seguinte: como surgiu a primeira molécula de DNA?
— Sim?
— A Terra surgiu há
alguns bilhões de anos, quando se formou o sistema solar. No início ela era uma
massa de matéria incandescente, que aos poucos foi se esfriando até formar a
crosta terrestre. Soma-se a isto o fato de a ciência moderna calcular que a
vida surgiu provavelmente entre três e quatro bilhões de anos atrás.
— Isto parece
absolutamente improvável.
— Espere para dizer
isto depois de ouvir o resto da história. Em primeiro lugar é preciso atentar
para o fato de a Terra ser completamente diferente naquela época do que é hoje.
Ainda não havia vida e ainda não havia oxigênio na atmosfera. O oxigênio livre
só surgiu a partir da fotossíntese das plantas. E o fato de naquela época não
haver oxigênio é um dado muito importante, pois não se pode conceber que os
elementos constitutivos da vida, que por sua vez podem formar o DNA, tenham
surgido numa atmosfera oxigenada.
— Por que não?
— Porque o oxigênio
é extremamente reativo. Os elementos constitutivos da molécula de DNA teriam se
oxidado muito antes de uma molécula tão complexa quanto a do DNA ter tempo de
se formar.
— Entendo.
— Pela mesma razão,
podemos afirmar com certeza que hoje não é possível surgir nenhuma nova forma
de vida, nem mesmo uma bactéria ou um vírus. Todas as formas de vida na Terra devem ter exatamente a mesma
idade. Um elefante tem uma árvore genealógica tão longa quanto a da bactéria
mais simples. Talvez pudéssemos dizer que um elefante, ou uma pessoa, não
passa, na verdade, de uma colônia coerente de animais monocelulares. Pois em
cada uma das células de nosso corpo temos exatamente o mesmo material genético.
A receita completa de quem somos está dentro de cada uma das células de nosso
corpo.
— Que pensamento
mais curioso…
— Um dos grandes
mistérios da vida é o fato de as células de um animal pluricelular possuírem a
capacidade de se especializar para uma determinada função. Isto porque nem
todas as diferentes características herdadas são ativadas em todas as células.
Algumas dessas características, ou genes, são “ligadas” e outras “desligadas”.
Uma célula do fígado produz proteínas diferentes das de uma célula nervosa ou
de uma célula da pele. Mas tanto na célula do fígado, quanto na dos nervos ou
da pele, encontramos a mesma molécula de DNA, dentro da qual estão contidas
todas as informações referentes ao organismo em questão.
— Continue!
— Quando ainda não
havia oxigênio na atmosfera, também não havia uma camada de ozônio protetora ao
redor da Terra. Isto significa que nada detinha a radiação vinda do cosmo. Pois
é possível que justamente esta radiação tenha sido muito importante para a
formação da primeira molécula complexa. De fato, tal radiação cósmica foi a
única energia que fez as diferentes substâncias químicas na Terra se combinarem
para formar macromoléculas.
— Entendi.
0 Response to "Darwin (Parte 10/11)"
Postar um comentário