Ética
A
filosofia ainda pode tratar do comportamento humano numa tentativa de
compreendê-lo e, às vezes, de direcioná-lo. Também chamada de filosofia prática
ou de filosofia moral, porque lida com os fatos morais ligados ao comportamento
humano, a Ética é um dos campos de investigação mais vastos em toda a
filosofia. Desde os antigos gregos até os dias de hoje, a Ética tem sido
estudada com um vigor que em momento algum perdeu o fôlego, ao contrário de
tantos outros ramos da filosofia. Podemos conjeturar a este respeito dizendo
que interessa muito ao ser humano conhecer as regras do convívio social
harmonioso.
Por
vezes é usado o termo “Moral” no mesmo sentido do de “Ética”, no entanto cabe
aqui uma pequena distinção entre estes termos e que pode ser de certa
importância. Entendemos por Moral ou por Moralidade um certo conjunto de
afirmações, ou de convenções, ou mesmo de regras, estabelecidos de comum acordo
pelos membros de uma comunidade, com o fim de preservar certos hábitos ou
costumes que lhes são inerentes e, também, de não permitir a fácil assimilação
de comportamentos considerados danosos para esta comunidade.
Neste
sentido, Moral ou Moralidade pode ser definida como uma ligação explícita ou
implícita entre um grupo de pessoas, lhes conferindo uma identidade por meio da
consonância de gostos, hábitos e comportamentos.
Por
sua vez, Ética, em sentido estrito como filosofia prática ou filosofia moral, é
o discurso crítico realizado sobre a Moral. A Ética aparece quando a filosofia
volta seu olhar investigativo para esta consonância de hábitos, gostos e
comportamentos, tentando avaliar, julgar e promover uma certa ordem sobre eles.
Se nos utilizarmos de um paralelismo, podemos dizer que, assim como a filosofia
da ciência não se confunde com a Ciência, também a Ética não se confunde com a
Moral. A Moral é um estado comportamental, consolidado pelo tempo, e que não
precisa aparecer na forma de leis escritas, mas pode estar subentendida por
todos do grupo numa espécie de consciência moral. A Ética quer investigar,
entender e discursar sobre as origens e a importância deste estado moral.
Na
medida em que o homem se surpreende vivendo em grupo, são assumidas certas regras
de comportamento para manter a coesão desse grupo. Estas regras limitam as
liberdades individuais para garantir a força desse grupo em diversas situações
de risco e ameaça. Temos um exemplo bastante pertinente da força de coesão
moral das regras nas Tábuas dos Dez Mandamentos. Estas Leis Divinas, recebidas
diretamente de Deus por Moisés, consolidaram as bases morais do povo hebreu por
milhares de anos. Estas Leis definiram que ações eram permitidas por meio
daquelas que eram proibidas, deixando naqueles que as respeitavam a sensação de
ciência sobre o certo e o errado, sobre o crime e o castigo, sobre o pecado e a
punição.
Basicamente
é este o fim de qualquer estado moral, indicar aos seus membros o caminho do
certo e do errado, para que estes optem pela primeira opção e descartem a
segunda como alternativa de vida. Entrementes, como cada grupo possui
peculiaridades próprias de formação e de existência, possuindo hábitos e
comportamentos distintos entre si, este certo e errado irá variar de grupo para
grupo.
Em
um momento inicial da história humana, os grupos sociais se mantinham coesos
pela existência de um poder divino. Isto é, assim como os eventos da natureza possuíam
uma origem divina, as leis das sociedades também deveriam possuir uma fonte
divina.
As
sociedades portadoras de tais Leis se tornavam herdeiras dos hábitos de conduta
dos deuses e, portanto, se tornavam os escolhidos para partilharem de um lugar
perto deles. As Leis, como os Dez Mandamentos, vinham diretamente de Deus e os
seres humanos se viam impingidos a escolher entre o bem e o mal, que eram as
manifestações e os resultados das ações certas ou erradas. Na maioria das
vezes, a escolha errada distanciaria os homens de seu criador, enquanto as
acertadas os aproximariam dele.
Posteriormente
vemos estas Leis se desvincularem das mãos divinas e se tornarem cada vez mais
pertencentes ao campo do estritamente humano. Vemos surgirem as leis cíveis,
que regulamentam o comportamento humano da mesma forma que as leis divinas,
apontando o certo e o errado (o bem e o mal),
porém
sem a conotação intrínseca de pecado das leis divinas. A criação dessas leis,
assim como as sanções para as faltas cometidas, ficam a cargo dos próprios
homens. É o homem apontando o caminho do bem moral, social e legal para si
mesmo. Contudo, as Leis divinas não deixaram de existir por causa disto e
parecem conviver em harmonia com as leis dos homens. A Ética se encarrega,
então, de traçar algum paralelo racional entre estes dois âmbitos de
manifestação da justiça.
A
justiça, em geral, se manifesta pela execução de julgamentos. Resumidamente, os
julgamentos são enunciações de juízos acerca de atitudes e comportamentos
exclusivamente humanos. Estes juízos podem ser aprobatórios ou reprobatórios e
se referem aos comportamentos considerados bons ou maus respectivamente.
A
todo instante de nossas vidas enunciamos juízos, realizamos julgamentos,
aprovando ou reprovando os comportamentos e as atitudes de nossos próximos.
Assim, direcionamos a nossa própria conduta nos baseando em exemplos positivos
ou negativos que os outros nos fornecem. Deste modo, a sociedade obtém
parâmetros para a busca incessante de um ideal de perfeição que só pode ser
encontrado nas boas ações, nas ações corretas, naquelas em que o ser humano
melhor manifesta os seus diversos potenciais.
Fonte:
Palavra em Ação.
CD-ROM,
Claranto Editora.
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