"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Ética



A filosofia ainda pode tratar do comportamento humano numa tentativa de compreendê-lo e, às vezes, de direcioná-lo. Também chamada de filosofia prática ou de filosofia moral, porque lida com os fatos morais ligados ao comportamento humano, a Ética é um dos campos de investigação mais vastos em toda a filosofia. Desde os antigos gregos até os dias de hoje, a Ética tem sido estudada com um vigor que em momento algum perdeu o fôlego, ao contrário de tantos outros ramos da filosofia. Podemos conjeturar a este respeito dizendo que interessa muito ao ser humano conhecer as regras do convívio social harmonioso.
Por vezes é usado o termo “Moral” no mesmo sentido do de “Ética”, no entanto cabe aqui uma pequena distinção entre estes termos e que pode ser de certa importância. Entendemos por Moral ou por Moralidade um certo conjunto de afirmações, ou de convenções, ou mesmo de regras, estabelecidos de comum acordo pelos membros de uma comunidade, com o fim de preservar certos hábitos ou costumes que lhes são inerentes e, também, de não permitir a fácil assimilação de comportamentos considerados danosos para esta comunidade.  

Neste sentido, Moral ou Moralidade pode ser definida como uma ligação explícita ou implícita entre um grupo de pessoas, lhes conferindo uma identidade por meio da consonância de gostos, hábitos e comportamentos.
Por sua vez, Ética, em sentido estrito como filosofia prática ou filosofia moral, é o discurso crítico realizado sobre a Moral. A Ética aparece quando a filosofia volta seu olhar investigativo para esta consonância de hábitos, gostos e comportamentos, tentando avaliar, julgar e promover uma certa ordem sobre eles. Se nos utilizarmos de um paralelismo, podemos dizer que, assim como a filosofia da ciência não se confunde com a Ciência, também a Ética não se confunde com a Moral. A Moral é um estado comportamental, consolidado pelo tempo, e que não precisa aparecer na forma de leis escritas, mas pode estar subentendida por todos do grupo numa espécie de consciência moral. A Ética quer investigar, entender e discursar sobre as origens e a importância deste estado moral.
Na medida em que o homem se surpreende vivendo em grupo, são assumidas certas regras de comportamento para manter a coesão desse grupo. Estas regras limitam as liberdades individuais para garantir a força desse grupo em diversas situações de risco e ameaça. Temos um exemplo bastante pertinente da força de coesão moral das regras nas Tábuas dos Dez Mandamentos. Estas Leis Divinas, recebidas diretamente de Deus por Moisés, consolidaram as bases morais do povo hebreu por milhares de anos. Estas Leis definiram que ações eram permitidas por meio daquelas que eram proibidas, deixando naqueles que as respeitavam a sensação de ciência sobre o certo e o errado, sobre o crime e o castigo, sobre o pecado e a punição.
Basicamente é este o fim de qualquer estado moral, indicar aos seus membros o caminho do certo e do errado, para que estes optem pela primeira opção e descartem a segunda como alternativa de vida. Entrementes, como cada grupo possui peculiaridades próprias de formação e de existência, possuindo hábitos e comportamentos distintos entre si, este certo e errado irá variar de grupo para grupo.
Em um momento inicial da história humana, os grupos sociais se mantinham coesos pela existência de um poder divino. Isto é, assim como os eventos da natureza possuíam uma origem divina, as leis das sociedades também deveriam possuir uma fonte divina.
As sociedades portadoras de tais Leis se tornavam herdeiras dos hábitos de conduta dos deuses e, portanto, se tornavam os escolhidos para partilharem de um lugar perto deles. As Leis, como os Dez Mandamentos, vinham diretamente de Deus e os seres humanos se viam impingidos a escolher entre o bem e o mal, que eram as manifestações e os resultados das ações certas ou erradas. Na maioria das vezes, a escolha errada distanciaria os homens de seu criador, enquanto as acertadas os aproximariam dele.
Posteriormente vemos estas Leis se desvincularem das mãos divinas e se tornarem cada vez mais pertencentes ao campo do estritamente humano. Vemos surgirem as leis cíveis, que regulamentam o comportamento humano da mesma forma que as leis divinas, apontando o certo e o errado (o bem e o mal),
porém sem a conotação intrínseca de pecado das leis divinas. A criação dessas leis, assim como as sanções para as faltas cometidas, ficam a cargo dos próprios homens. É o homem apontando o caminho do bem moral, social e legal para si mesmo. Contudo, as Leis divinas não deixaram de existir por causa disto e parecem conviver em harmonia com as leis dos homens. A Ética se encarrega, então, de traçar algum paralelo racional entre estes dois âmbitos de manifestação da justiça.
A justiça, em geral, se manifesta pela execução de julgamentos. Resumidamente, os julgamentos são enunciações de juízos acerca de atitudes e comportamentos exclusivamente humanos. Estes juízos podem ser aprobatórios ou reprobatórios e se referem aos comportamentos considerados bons ou maus respectivamente.
A todo instante de nossas vidas enunciamos juízos, realizamos julgamentos, aprovando ou reprovando os comportamentos e as atitudes de nossos próximos. Assim, direcionamos a nossa própria conduta nos baseando em exemplos positivos ou negativos que os outros nos fornecem. Deste modo, a sociedade obtém parâmetros para a busca incessante de um ideal de perfeição que só pode ser encontrado nas boas ações, nas ações corretas, naquelas em que o ser humano melhor manifesta os seus diversos potenciais.

Fonte: Palavra em Ação.
CD-ROM, Claranto Editora.

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