"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Freud (Parte 05/09)



- Quando projetamos alguma coisa estamos transferindo a outros as características que tentamos reprimir em nós mesmos. Uma pessoa avarenta, por exemplo, gosta de ficar dizendo que os outros são avarentos. Alguém que não quer admitir que pensa muito em sexo geralmente é o primeiro a se irritar quando encontra outras pessoas fissuradas por sexo.
- Entendo.
- Freud dizia que nossa vida cotidiana está repleta de tais ações inconscientes. Muitas vezes nos esquecemos do nome de certa pessoa, ficamos mexendo numa pontinha de nossa roupa enquanto estamos falando ou então ficamos mudando de posição objetos aparentemente sem importância. Ou podemos tropeçar em nossas próprias palavras e acabar trocando letras e nomes, que à primeira vista podem parecer totalmente inocentes, mas que na verdade não são. Freud pelo menos não considera essas coisas tão inocentes e casuais como podemos achar. Ele acha que elas deveriam ser encaradas como sintomas. Para ele, esses atos falhos podem nos revelar segredos os mais íntimos.  

- Daqui para frente, vou prestar bastante atenção em cada palavra que disser.
- Mesmo assim, você não poderá escapar de seus impulsos inconscientes. O segredo está em não se desgastar demais ao se empurrar as coisas desagradáveis para o subconsciente. É como querer tapar o buraco de uma toupeira. Você pode até conseguir, mas com certeza ela virá à superfície em algum outro ponto. O mais sadio é deixar só encostada a porta entre o consciente e o subconsciente.
- Se trancarmos a porta à chave podemos provocar distúrbios psíquicos em nós mesmos?
- Sim. Um neurótico é justamente alguém que despende energia demais na tentativa de banir de seu consciente tudo aquilo que o incomoda. Com freqüência trata-se de reprimir experiências bem específicas. São as chamadas “experiências traumáticas”, que eu já mencionei no início de nossa conversa, talvez um pouco cedo demais. Freud as chama de traumas. A palavra “trauma” é grega e significa “ferida”.
- Entendo.
- Em seus tratamentos, às vezes Freud tentava abrir cuidadosamente estas portas trancadas; outras vezes, procurava abrir outra porta. Com a colaboração do paciente, ele tentava trazer à tona novamente as experiências reprimidas. Isto porque o paciente não tem consciência de que as reprimiu. Não obstante, ele deseja que o médico, ou o analista, como se diz em psicanálise, o ajude a encontrar um caminho que o leve a seus traumas escondidos.
- E como o médico procede neste caso?
- Freud chamava este procedimento de técnica da livre associação. Isto significa que ele deixava o paciente deitado, bem relaxado, falando apenas sobre coisas que lhe viessem à cabeça, por mais irrelevantes, casuais, desagradáveis ou penosas que elas lhe fossem. Para o analista, as associações do paciente no divã trazem indícios de seus traumas e das resistências que impedem a conscientização. Pois são exatamente os traumas que ocupam os pacientes o tempo todo, só que não de forma consciente.
- Quer dizer que quanto mais a gente se esforça para esquecer uma coisa, mais a gente pensa inconscientemente nela?
- Exatamente. Por isso é importante prestar atenção aos sinais do inconsciente. Para Freud, o “caminho real” que leva para o inconsciente passa pelos sonhos. Por esta razão, uma de suas mais importantes obras é o livro A interpretação dos sonhos, publicado em 1900. Nele, Freud mostra que nossos sonhos não são meros acasos. Por meio dos sonhos, nossos pensamentos inconscientes tentam se comunicar com nosso consciente.
- Continue.

0 Response to "Freud (Parte 05/09)"