Ética e política
Se a política tem como
finalidade a vida justa e feliz, isto é, a vida propriamente humana digna de
seres livres, então é inseparável da ética.
De fato, para os gregos, era
inconcebível a ética fora da comunidade política – a polis como koinonia ou
comunidade dos iguais -, pois nela a natureza ou essência humana encontrava sua
realização mais alta.
Quando estudamos a ética, vimos
que Aristóteles distinguira entre teoria e prática e, nesta, entre fabricação e
ação, isto é, diferenciara poiesis e práxis. Vimos também que reservara à práxis um lugar mais alto do que à
fabricação, definindo-a como ação voluntária de um agente racional em vista de
um fim considerado bom. A práxis por
excelência é a política. A esse respeito, na Ética a Nicômaco, escreve Aristóteles:
Se, em nossas ações, há algum
fim que desejamos por ele mesmo e os outros são desejados só por causa dele, e
se não escolhemos indefinidamente alguma coisa em vista de uma outra (pois,
nesse caso, iríamos ao infinito e nosso desejo seria fútil e vão), é evidente
que tal fim só pode ser o bem, o Sumo Bem… Se assim é, devemos abarcar, pelo
menos em linhas gerais, a natureza do Sumo Bem e dizer de qual saber ele
provém. Consideramos que ele depende da ciência suprema e arquitetônica por
excelência. Ora, tal ciência é manifestamente a política, pois é ela que
determina, entre os saberes, quais são os necessários para as Cidades e que
tipos de saberes cada classe de cidadãos deve possuir… A política se serve das
outras ciências práticas e legisla sobre o que é preciso fazer e do que é
preciso abster-se; assim sendo, o fim buscado por ela deve englobar os fins de
todas as outras, donde se conclui que o fim da política é o bem propriamente humano.
Mesmo se houver identidade entre o bem do indivíduo e o da Cidade, é
manifestamente uma tarefa muito mais importante e mais perfeita conhecer e
salvaguardar o bem da Cidade, pois o bem não é seguramente amável mesmo para um
indivíduo, mas é mais belo e mais divino aplicado a uma nação ou à Cidade.
Platão identificara a justiça no
indivíduo e a justiça na polis.
Aristóteles subordina o bem do indivíduo ao Bem Supremo da polis. Esse vínculo interno entre ética e política significava que
as qualidades das leis e do poder dependiam das qualidades morais dos cidadãos
e vice-versa, das qualidades da Cidade dependiam as virtudes dos cidadãos.
Somente na Cidade boa e justa os homens poderiam ser bons e justos; e somente
homens bons e justos são capazes de instituir uma Cidade boa e justa.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
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