O poder teológico-político
O poderio da Igreja cresce à
medida que se esfacela e desmorona o Império Romano. Dois motivos levam a esse
crescimento: em primeiro lugar, a expansão do próprio cristianismo pela obra da
evangelização dos povos, realizada pelos padres nos territórios do Império
Romano e para além deles; em segundo lugar, porque o esfacelamento de Roma, do
qual resultará, nos séculos seguintes, a formação sócio-econômica conhecida
como feudalismo, fragmentou a propriedade da terra (anteriormente, tida como
patrimônio de Roma e do imperador) e fez surgirem pequenos poderes locais
isolados, de sorte que o único poder centralizado e homogeneamente organizado
era o da Igreja.
A Igreja (tanto em Roma quanto
em Bizâncio, tanto no Ocidente quanto no Oriente) detém três poderes
crescentes, à medida que o Império decai: 1. o poder religioso de ligar os
homens a Deus e dele desligá-los; 2. o poder econômico decorrente de grandes
propriedades fundiárias acumuladas no correr de vários séculos, seja porque os
nobres do Império, ao se converterem, doaram suas terras à instituição
eclesiástica, seja porque esta recebera terras como recompensa por serviços
prestados aos imperadores; 3. o poder intelectual, porque se torna guardiã e intérprete
única dos textos sagrados – a Bíblia – e de todos os textos produzidos pela
cultura greco-romana – direito, filosofia, literatura, teatro, manuais de
técnicas, etc. Saber ler e escrever tornou-se privilégio exclusivo da
instituição eclesiástica. Será a Igreja, portanto, a formuladora das teorias
políticas cristãs para os reinos e impérios cristãos. Essas teorias elaborarão
a concepção teológico-política do poder, isto é, o vínculo interno entre
religião e política.
Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed.
Ática, 2000.
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